HISTÓRIAS DE TAXISTA
De defunto a passageiros infiéis, táxi de seu Piti já levou de tudo
Com permissão desde 1975, condutor é o taxista mais antigo em atividade em Novo Hamburgo
Última atualização: 02/02/2024 14:10
Já imaginou ser chamado para fazer uma corrida de táxi e, ao fim da viagem, descobrir que um dos passageiros já estava morto quando embarcou no carro? Foi isso que vivenciou João Pedro Birk, de 75 anos, que hoje trabalha no ponto junto ao Hospital da Unimed, em Novo Hamburgo. Mais conhecido como 'Piti', ele não tem ideia de quantas pessoas já transportou em 57 anos de trabalho como motorista, sendo quase 48 anos como taxista.
Além de colecionar histórias e lembranças, carrega com muito orgulho uma carteirinha. O documento, emitido pela Prefeitura em 16 de setembro de 1975, comprova que ele é o taxista mais antigo em atividade no Município.
Funcionário de uma transportadora, onde fazia cobranças usando uma lambreta, foi no pátio da empresa que aprendeu a dirigir. Seu primeiro veículo como taxista foi um Chevrolet Opala, e o segundo, um Fiat 147 branco, lançamento na época e único modelo com isenção de impostos para a categoria.
Depois, teve um Volkswagen Gol, que foi parar dentro do valão quando um funcionário se envolveu em um acidente. O empregado saiu ileso, mas o Gol ficou completamente destruído. O que aconteceu na sequência formou uma das lembranças mais queridas do taxista. "O pessoal se organizou, fez uma carreata e um churrasco para juntar dinheiro, para eu poder comprar outro carro e voltar a trabalhar", lembra, emocionado. Foram arrecadados 1,5 mil cruzeiros, recurso suficiente, na ocasião, para dar entrada na compra um Chevrolet Chevette.
Transporte de defunto
E foi justamente no automóvel novo que Piti levou o defunto. "Saí do hospital com um morto para a funerária", recorda ele, sorrindo. O sentimento à época, contudo, foi bem diferente. Segundo Piti, quando foi chamado para atender o cliente, não sabia que o segundo passageiro, acomodado no banco traseiro, tinha falecido. Prestes a chegar à funerária, em Campo Bom, o homem que estava sentado ao lado do taxista comunicou a situação inusitada. "Claro que eu fiquei com medo, porque eu não sabia que o outro cara estava morto, senão nem tinha levado. Só me disseram quando cheguei à funerária."
De hospital a motel
Outro fato inusitado aconteceu no táxi de Piti: o nascimento de um bebê. Ele foi chamado para atender uma mulher que estava em trabalho de parto, mas não deu tempo de chegar ao destino. "Quando a gente chegou ao Hospital Regina, o menino estava com a mãe. Daí chamaram as enfermeiras”, conta.
E quando o assunto é viagens que renderiam uma boa fofoca, o taxista resume, entre risos: "Levei muita mulher casada para o motel, viu?!" Ele garante, porém, que discrição e sigilo sempre fizeram parte do atendimento.
Piti ainda recorda do dia em que atropelou um menino que apareceu de repente correndo no meio da rua. "Foi um acidente, não tive culpa, mas coloquei ele no 'auto' e levei para o hospital. O pai dele veio logo atrás de mim", descreve. A criança não teve ferimentos graves e foi liberada.
Táxi atolado
Das recordações engraçadas, o motorista diverte-se ao lembrar dos atolamentos que costumavam acontecer na Vila Kunz, bairro Canudos. Na época, as vias eram de chão batido e, quando chovia, ficavam tomadas pelo barro. "Daí a gente tentava subir e, daqui a pouco, o carro atolava. Então, o passageiro tinha que descer e ajudar a empurrar. Acontecia com todo mundo, e todo mundo ficava sujo."
Os bêbados também renderiam um capítulo à parte no diário de viagens, já que muitos pediam o táxi, mas não sabiam para onde queriam ir. "Daí eu ficava rodando, rodando, até que ele se lembrasse", explica.
Família e colegas
Casado há 53 anos com Loreni Silveira Birk, o taxista tem dois filhos, Fábio e Simone, seis netos e uma bisneta. Como já está aposentado e também por pedidos da família, já não trabalha a semana inteira. Enquanto aguarda a chegada de passageiros, ele passa o tempo conversando com os colegas de ponto, Joelci Schörnadie, 67, e Neusa Capelletti, 61. Schönardie brinca com a história da corrida com o morto. "Imagina se ele tivesse sentado na frente, como que ia cobrar a corrida?"
Questionado sobre quando pretende parar, diz que planeja continuar enquanto for possível. "A minha mulher quer que eu fique em casa de uma vez (risos). Mas eu gosto de vir pra cá, de conversar e de ver as pessoas", finaliza seu Piti.
Já imaginou ser chamado para fazer uma corrida de táxi e, ao fim da viagem, descobrir que um dos passageiros já estava morto quando embarcou no carro? Foi isso que vivenciou João Pedro Birk, de 75 anos, que hoje trabalha no ponto junto ao Hospital da Unimed, em Novo Hamburgo. Mais conhecido como 'Piti', ele não tem ideia de quantas pessoas já transportou em 57 anos de trabalho como motorista, sendo quase 48 anos como taxista.
Além de colecionar histórias e lembranças, carrega com muito orgulho uma carteirinha. O documento, emitido pela Prefeitura em 16 de setembro de 1975, comprova que ele é o taxista mais antigo em atividade no Município.
Funcionário de uma transportadora, onde fazia cobranças usando uma lambreta, foi no pátio da empresa que aprendeu a dirigir. Seu primeiro veículo como taxista foi um Chevrolet Opala, e o segundo, um Fiat 147 branco, lançamento na época e único modelo com isenção de impostos para a categoria.
Depois, teve um Volkswagen Gol, que foi parar dentro do valão quando um funcionário se envolveu em um acidente. O empregado saiu ileso, mas o Gol ficou completamente destruído. O que aconteceu na sequência formou uma das lembranças mais queridas do taxista. "O pessoal se organizou, fez uma carreata e um churrasco para juntar dinheiro, para eu poder comprar outro carro e voltar a trabalhar", lembra, emocionado. Foram arrecadados 1,5 mil cruzeiros, recurso suficiente, na ocasião, para dar entrada na compra um Chevrolet Chevette.
Transporte de defunto
E foi justamente no automóvel novo que Piti levou o defunto. "Saí do hospital com um morto para a funerária", recorda ele, sorrindo. O sentimento à época, contudo, foi bem diferente. Segundo Piti, quando foi chamado para atender o cliente, não sabia que o segundo passageiro, acomodado no banco traseiro, tinha falecido. Prestes a chegar à funerária, em Campo Bom, o homem que estava sentado ao lado do taxista comunicou a situação inusitada. "Claro que eu fiquei com medo, porque eu não sabia que o outro cara estava morto, senão nem tinha levado. Só me disseram quando cheguei à funerária."
De hospital a motel
Outro fato inusitado aconteceu no táxi de Piti: o nascimento de um bebê. Ele foi chamado para atender uma mulher que estava em trabalho de parto, mas não deu tempo de chegar ao destino. "Quando a gente chegou ao Hospital Regina, o menino estava com a mãe. Daí chamaram as enfermeiras”, conta.
E quando o assunto é viagens que renderiam uma boa fofoca, o taxista resume, entre risos: "Levei muita mulher casada para o motel, viu?!" Ele garante, porém, que discrição e sigilo sempre fizeram parte do atendimento.
Piti ainda recorda do dia em que atropelou um menino que apareceu de repente correndo no meio da rua. "Foi um acidente, não tive culpa, mas coloquei ele no 'auto' e levei para o hospital. O pai dele veio logo atrás de mim", descreve. A criança não teve ferimentos graves e foi liberada.
Táxi atolado
Das recordações engraçadas, o motorista diverte-se ao lembrar dos atolamentos que costumavam acontecer na Vila Kunz, bairro Canudos. Na época, as vias eram de chão batido e, quando chovia, ficavam tomadas pelo barro. "Daí a gente tentava subir e, daqui a pouco, o carro atolava. Então, o passageiro tinha que descer e ajudar a empurrar. Acontecia com todo mundo, e todo mundo ficava sujo."
Os bêbados também renderiam um capítulo à parte no diário de viagens, já que muitos pediam o táxi, mas não sabiam para onde queriam ir. "Daí eu ficava rodando, rodando, até que ele se lembrasse", explica.
Família e colegas
Casado há 53 anos com Loreni Silveira Birk, o taxista tem dois filhos, Fábio e Simone, seis netos e uma bisneta. Como já está aposentado e também por pedidos da família, já não trabalha a semana inteira. Enquanto aguarda a chegada de passageiros, ele passa o tempo conversando com os colegas de ponto, Joelci Schörnadie, 67, e Neusa Capelletti, 61. Schönardie brinca com a história da corrida com o morto. "Imagina se ele tivesse sentado na frente, como que ia cobrar a corrida?"
Questionado sobre quando pretende parar, diz que planeja continuar enquanto for possível. "A minha mulher quer que eu fique em casa de uma vez (risos). Mas eu gosto de vir pra cá, de conversar e de ver as pessoas", finaliza seu Piti.
Além de colecionar histórias e lembranças, carrega com muito orgulho uma carteirinha. O documento, emitido pela Prefeitura em 16 de setembro de 1975, comprova que ele é o taxista mais antigo em atividade no Município.