Surgida em 12 de julho de 1923, a Sociedade de Canto Sempre Viva iniciou suas atividades como um clube social, que ao longo dos anos se enraizou na memória de Novo Hamburgo. Inicialmente fundada no antigo Matadouro Kroeff, no bairro Santo Afonso, o local sediou sessões eleitorais em pleitos históricos e passou por diversas transformações ao longo do tempo, chegando ao centenário neste ano.
De acordo com o pesquisador Marcos Antonio Kroeff, nos anos 1970, o vereador e barbeiro João Brizola desempenhou um papel crucial assumindo funções diretivas, convidando o próprio Kroeff para vice-presidente e, posteriormente, elevando-o à presidência em 1971 e 1972 da Sociedade.
Juntamente com Américo Copetti, empreenderam esforços para reorganizar documentos e estatutos, buscando reformas no hall de entrada. Nessa época, o bolão era uma atividade marcante, mas ao longo dos anos, as reuniões dançantes ganharam destaque, refletindo o espírito festivo da comunidade.
Mesmo sendo uma Sociedade centenária, os registros passados são escassos. O atual presidente, Sérgio Miotto, conta que antigamente não se dava muito valor e que, por isso, documentos e fotos não foram preservados. Miotto foi convidado para ser ecônomo da Sociedade de Canto Sempre Viva, em 1992, aos 43 anos. Hoje, com 75, é presidente desde 2010 e já acumula 32 anos de experiência comandando a sociedade. Na época em que entrou, o local sediava apenas competições de bocha, carteado e algumas festas para os sócios.
Anos Dourados
Os anos dourados, segundo o presidente, foram vividos na década de 90, especialmente entre 1994 e 1999. Na época, a Sempre Viva chegava a vender cerca de 400 caixas de cerveja em um único mês. O sucesso era tanto que Miotto ganhou um carro, um Wolksvagen Gol “quadrado”, de uma marca de cerveja devido à sua quantidade de vendas.
Ao longo dos anos, “tudo quanto é banda” subiu ao palco da Sociedade, mas no início, o som saia de um “três em um”, com as melhores músicas vindas dos “bolachões” de vinil. “Depois, o pessoal foi aumentando e os bailes crescendo. Então, contratei um cara pra colocar som, depois foi vindo os músicos com teclados e, então, as bandas”, conta o presidente.
O momento mais marcante para ele foi a festa de lançamento do DVD da Banda Passarela, na metade da primeira década dos anos 2000. Na ocasião, mais de 1,1 mil pessoas estiveram presentes. “Estava tão lotado que se alguém caísse, ficava em pé. Entrou muita gente, eu tava rezando pra acabar logo, mas não deu uma bronca.”, relembra. Aliás, “bronca” é algo que não faz parte da Sempre Viva. “São muitos anos aqui, todo mundo me respeita e aqui ninguém briga. Já fiz muitos amigos, mas nunca um inimigo”, conta.
Já a festa dos 100 anos, realizada no dia 27 de agosto, reuniu o Musical Vip Show, banda Brilhus da Noite, e a presença de Cleiton Borges, do Musical JM.
Casamentos marcam a história da Sociedade
A Sociedade Sempre Viva era o ponto de referência e de encontro no bairro Santo Afonso, e assim permanece como um local histórico, sendo inclusive o local de casamento de algumas famílias locais. Foi lá, por exemplo, que em 1976, comemoraram o casamento Antonio e Maria Coller, em 1976, pais do atual vereador Cristiano Coller. “Lá foi o local de casamento de meus pais. E este centenário é mais do que uma marca no tempo, é um testemunho da resiliência dos membros e apoiadores, diretores, presidentes e todos aqueles que moldaram a Sempre Viva ao longo dos anos”, afirma o vereador.
Os casamentos são um capítulo à parte na centenária história da Sociedade, da qual Miotto muito se orgulha. “Não faz muito tempo, chegou um casal de idosos aqui. Antes de entrarem, eles olharam pra porta de entrada e falaram ‘como tá diferente’. Perguntei se eles já conheciam a Sempre Viva e eles falaram que sim, porque foi aqui que eles se casaram 60 anos antes”, relembra.
Planos para o futuro
Miotto tem a responsabilidade sozinho de dar continuidade à Sociedade de Canto Sempre Viva. Já são décadas anos no comando e seu sonho é que o filho Fábio da Silva Miotto, 39 anos, assuma. Mas, embora a proposta já tenha sido feita, o convite não foi aceito. “Se não fosse eu, ela já estaria fechada. Mas essa Sociedade é a minha vida, a minha família, se eu sair, o que é que eu vou fazer. É muito bonito ver todos os domingos 200, 300 pessoas aqui dançando, se divertindo, e dando continuidade a esta história”, finaliza o presidente.
Homenagem da Câmara de Vereadores
As comemorações chegaram à Câmara no último dia 29. Durante a cerimônia de homenagem, os vereadores Cristiano Coller e Ricardo Ritter (Ica) destacaram a importância da Sociedade na comunidade, ressaltando suas contribuições para as trajetórias de diferentes famílias ao longo dos anos. Ao final da cerimônia, Coller e Ica realizaram a entrega de um quadro alusivo em homenagem pelos cem anos da Sociedade ao ecônomo e atual presidente da Sociedade.