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HOMENAGEADO

Como está Cícero, o professor da Liberato que luta contra câncer e recebeu homenagem de alunos

Filhos falam sobre a vida do educador, que está no hospital em cuidados paliativos

Susete Mello
Publicado em: 06/10/2023 às 18h:30
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Ele sentiu vontade de comer pastel na quinta-feira (5). Os filhos atenderam ao desejo e mais toda a equipe do hospital. Ele ainda deseja voltar para casa para escutar músicas em seus discos de vinil e curtir o ritual em frente à lareira para ver a luz das chamas antes mesmo do sol nascer.

Cícero em 2019 | Jornal NH



Cícero em 2019

Foto: Arquivo/GES-Especial

Ah, e ele não ficou chateado com algumas condolências antecipadas escritas em comentário em seu último post no Facebook, quando falou sobre o avanço de sua doença e sobre os últimos passos sua vida. Ele até riu. E, é claro, o professor Cícero está hospitalizado, com cuidados paliativos, usando medicamentos para dor, para aumentar o apetite e para controlar o desconforto abdominal causados pelo tumor.

Esse é o breve resumo do que os filhos do orientador educacional do curso de Eletrotécnica, da Fundação Liberato Salzano Vieira da Cunha, Cícero Marcos Teixeira Júnior, contaram na manhã desta sexta (6) ao Jornal NH.

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Quem conhece Cícero sabe que ele usa o Facebook para refletir sobre a vida, amor, literatura, política e, nos últimos cinco anos, transformou a sua única rede social em uma espécie de diário para contar sobre seu câncer no duodeno que agora apresenta metástase no fígado.

Não foi diferente nesta semana, quando ele publicou uma mensagem onde escreveu sobre o domínio da dor por sedação e o avanço da doença. “E hospitalizado, me preparo para ela e seus resultados.”

A mensagem provocou interpretações diferentes, a ponto da coordenação do Trio Eletro – uma das equipes de gincana da Fundação Liberato – publicar em suas redes sociais que estava acompanhando todo o processo e que prestaria maiores informações quando necessário.

Pois é em meio a tantas mensagens que a semana se encerra nesta sexta com uma homenagem do grupo ao tão admirado e querido professor da instituição na qual trabalha há 33 anos.

Também nesta sexta, os filhos do professor, o audioescritor, ator e professor de teatro, Rodrigo Teixeira, 27, e o desenvolvedor de software Francisco Teixeira, 29, concederam entrevista ao Jornal NH para falar como Cícero está.

“No hospital, o pai escreveu na terça-feira de manhã, mantendo o ritual dos últimos anos. Ele passa por um momento da doença em que a nossa única expectativa é que o pai não sofra, e que as dores físicas possam ser atenuadas. Ele fez a responsabilidade de professor, de se comunicar com as pessoas para expor como serão os próximos caminhos. Todas as tentativas ao tratamento da doença foram esgotadas. Resta viver a brevidade do tempo e fazer dele o nosso melhor remédio”, explica Rodrigo.

Os dois, ao lado da mãe e esposa do educador, Rejane Sacco, estão com ele em Porto Alegre, onde está hospitalizado desde o dia 21 de setembro, no Hospital Nora Teixeira, do complexo da Santa Casa de Misericórdia. “O pai está vivo graça a uma excelente equipe médica e a nossa mãe, que está com ele desde os 17 anos, que continua sendo a maior companheira, cúmplice, a mulher mais forte que conheço e que está sempre junto dele”, relata Francisco.

A família faz questão de nomear a equipe médica que alongou a vida de Cícero: o cirurgião Plínio Baú, os doutores em oncologia André Fay e Priscila Silva, e o médico intervencionista Enio Ziemiecki, do Grupo Intervir.

Segundo os filhos, Cícero recebe todo o suporte médico hospitalar com uma equipe que vem prestando todos os cuidados que lhe proporcionem o maior conforto. Como Cícero não tem mais condições físicas de passar pelas quimioterapias, os filhos explicam que está sujeito a ter infecções.

Volta para casa

Rodrigo e Francisco relatam que Cícero está terminando um ciclo de antibióticos para seu fortalecimento, que deve finalizar no domingo (8). “O único desejo do nosso pai é voltar para a nossa casa, em Estância Velha. A partir de segunda-feira, os médicos vão avaliar e considerar se há condições dele retornar para casa. Estamos tomando todas medidas para o atendimento domiciliar, e para que o retorno ao hospital, em caso de emergência, ocorra com tranquilidade”, explica Rodrigo.

Mensagens para sempre

A mensagem publicada no Facebook publicada no dia 3 de outubro (abaixo), explica Francisco, tem como principal recado que é preciso enfrentar os problemas de cabeça erguida, de uma forma digna, ética, ensinando e aprendendo com amor, como ele sempre fez.

Ao escrever na sua rede social, comentam os filhos, Cícero quer dar o exemplo de que a vida é Bárbara, nome de sua falecida filha e que se tornou um exemplo de vida. “Independentemente de qualquer intempérie, há também beleza na dor. A cada curativo vejo o meu pai mais longe de mim, mas sempre comigo” , sublinha Rodrigo.

“Sempre achei o pai um exímio escritor, que sempre honrou em escrever sobre a dor, sobre o amor. Ele tem um domínio das palavas, da poesia. A sua página no Facebook é um livro aberto sobre a coragem de enfrentar o câncer, sobre a alegria em ser pai, sobre a sorte de amar a mulher da vida dele e sobre a honra de ser educador no Brasil. Tenho certeza de quando ele não estiver mais aqui e bater saudade, teremos os textos publicados, as cartas de Natal e as mensagens de todas as manhãs. Não iremos desativar a página do Facebook para que quem quiser lembrar dele tomando chimarrão na lareira, possa também viver essa saudade. Meu pai fica para mim como um homem de muita coragem, bravura, resistência. Ele aguentou até aqui por manter nos pensamentos a coragem e a valentia de nossa irmã Bárbara e da ex-aluna Rafaela Galina, que enfrentou bravamente um câncer. Ele inspira pessoas e é inspirado por elas. Nossa família agradece a todo amor e a fé que tantas pessoas entregaram a nós”, conclui Rodrigo.

A mensagem

“Bom dia

Eu me permito dizer com o escudo da minha humanidade, o profundo cansaço em nome do câncer em que me encontro. E da dificuldade de inventar vitalidade.

Viemos juntos até aqui e isso me preencheu de muita fé, esperança, e não chegaríamos a 2023 sem todos e todas que rezaram e torceram por nós… por mim. De lá para cá foram muitas batalhas vencidas em uma guerra que sempre esteve perdida.

Ainda brado que a Vida é Bárbara… porque simplesmente é. E morrer faz parte disso. O que temos pela frente: o domínio da dor por sedação, e o avanço da doença.

E hospitalizado, me preparo para ela e seus resultados. Confesso que meus instintos me fazem dizer a todas e todos vcs que estamos a findar. E não estou triste por isso. Porque faz parte da natureza de entender que a Vida é Bárbara.

Sou um homem feliz, não fui herói de nada, apenas um homem que fez aquilo que amava fazer o que veio para fazer: cuidar de pessoas. E aquelas que pude alcançar tentei dar o melhor abraço e sonhar o melhor futuro. E não fiz sozinho.

Imagino abrir meus olhos em um lugar de acolhimento conhecido sem a dor e o cansaço interminável dos últimos 05 anos.

Estão ao meu lado, milagrosamente, meus filhos e minha companheira. Então tenho td. E a ela prometi: volto teu neto ou tua neta para te cuidar na tua velhice. E disse: coloca o vasinho das cinzas mocozado ao lado do arbusto que plantei para a Bárbara e para a Galina, na nossa praça em EV, pois ninguém vai sequer reparar.

A todos e todas muito obrigado mesmo e saibam: foi uma honra ter jogado, lutado e plenamente vivido com cada um e cada uma. Até a vista! Por onde a vista nos alcance!!! A vida pode ser como uma canção, não interessa o fim. Ela aceita alguns “bis”… alguns! E eu tive, milagrosamente vários. Até a próxima!”

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