O grupo de 50 pessoas que protestava em frente ao Fórum de Novo Hamburgo contra o médico João Batista do Couto Neto, investigado pela morte de 42 pacientes, foi atendido pela juíza Roberta Penz de Oliveira no fim da tarde desta sexta-feira (27), às 16h30, duas horas depois do início do protesto.
Vinte pessoas, entre vítimas e familiares de vítimas do médico, entraram em uma das salas do prédio para conversar com a magistrada. A contestação deles é em relação ao fim da decisão judicial que proibia que João Couto voltasse a fazer cirurgias. O grupo questionou o por que não foi feito um novo pedido de prorrogação da medida.
A juíza explicou ao grupo como ocorre o trabalho do judiciário durante a investigação e relatou que é preciso esperar também as apurações do Ministério Público e da Polícia Civil. A reunião terminou sem qualquer acordo. Os manifestantes reforçaram que seguirão buscando soluções com junto aos órgãos.
Ao fim da reunião, que durou cerca de 15 minutos, os manifestantes deixaram o local, por volta das 17 horas.
“A gente precisa que ele não gere mais vítimas”
Aline Oliveira perdeu o pai em julho de 2022 após complicações de um procedimento feito por ele com João Couto. Presente na manifestação desta tarde, ela reforça que foi ao local em busca de respostas sobre a não prorrogação da medida.
“A gente precisa que ele não gere mais vítimas, isso só mantendo a cautelar de suspensão médica”, diz. “Meu pai veio a óbito por uma sepse grave em virtude de rompimento intestinal”, conta Aline.
Já Enio Schmitz, de 52 anos, passou por uma cirurgia com o médico em 2020, depois de receber o diagnóstico de câncer no colo transverso. Ele relata que após o procedimento, precisou ir para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, com arritmia cardíaca e infecção por conta do vazamento de um líquido durante a cirurgia.
Ao todo, Schmitz passou 48 dias internado por conta das complicações, que ainda afetaram o fígado dele. “Graças a Deus estou vivo”, disse. “Chega de vítimas. Que não venha outras pessoas. Se fosse olhado com outros olhos para essas vítimas, não teria acontecido. Que não tenha mais pessoas prejudicadas por ele”, finaliza Schmitz.
Atuação do médico
Desde fevereiro deste ano, João Couto, de 47 anos, realiza atendimentos clínicos em hospitais da região metropolitana de São Paulo. Mesmo com o fim da suspensão para cirurgias, ele declarou nesta semana, por meio de sua defesa, que não pretende retomar os procedimentos invasivos no momento.
Um dos cirurgiões até então mais requisitados do Vale do Sinos, ele foi submetido a duas suspensões judiciais. A primeira em dezembro de 2022, quando uma operação policial fez buscas na casa e no consultório dele. Em junho deste ano, a a proibição expirou e foi renovada por mais quatro meses, tendo terminado no último sábado, 21 de outubro.
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O advogado Bruno de Lia Pires defende que uma nova suspensão não é cabível. “A Defesa entende que, embora o médico não tenha intenção de, por ora, realizar cirurgias, não há necessidade de nova imposição de restrição a sua atividade. A investigação já perdura há quase um ano e não foi concluída, de modo que não deve ser imposta pena antecipada ao médico.”
Além dos 42 homicídios pelos quais é investigado, ele também também é suspeito de ter ocasionado lesões graves em outros 114 pacientes. Entre as denúncias contra ele estão perfurações no intestino, pâncreas e aorta. O inquérito tramita em sigilo.
*Com informações de Sílvio Milani
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