Recomeço

CATÁSTROFE NO RS: Onda de solidariedade atinge moradores do bairro Canudos em Novo Hamburgo

Mutirão formado por voluntários de outras cidades ajuda na limpeza de casas onde a água já baixou

Publicado em: 06/05/2024 20:21
Última atualização: 06/05/2024 20:22

Aos 52 anos, Antonio Dias, morador há quase duas décadas na rua Seno Antônio Schokal, no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, viu algo que jamais imaginou ser possível acontecer em sua casa. A água do Rio dos Sinos invadiu a residência, assim como a da maioria dos vizinhos, e deixou metade do lar onde vive com a esposa, Lurdes dos Santos Dias, 51, submerso. A casa da filha, nos fundos do terreno, foi igualmente afetada.


Mais de 20 voluntários atuaram na limpeza de casas no bairro Canudos Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

“É muito difícil, até de falar. A primeira vez que a gente passa por isso, é muito complicado, foi assustador. A rua virou como um mar, com ondas empurrando, coisa que nunca vi na vida. E quando percebi, estava tudo tomado, não tivemos tempo para muita coisa, começamos a correr pra sair, tropeçando, e as ondas faziam pressão nas janelas, nas portas…”, relata Antonio, emocionado.

Contudo, nesta segunda-feira (6), com a água recuando e revelando os estragos e as perdas em casa, uma segunda onda atingiu a família Dias. Mas, desta vez, uma onda de solidariedade, proporcionada por voluntários moradores, principalmente, de Dois Irmãos, que se uniram para ajudar na limpeza das famílias afetadas.

Voluntária Diulia conversa com moradoresDário Gonçalves/GES-Especial
Inundação ainda atinge grande parte da rua Seno Antônio SchokalDário Gonçalves/GES-Especial
Voluntários trazem uma luz de esperança para os atingidos pela enchenteDário Gonçalves/GES-Especial
Água e lama é tirada de rodo de dentro das casasDário Gonçalves/GES-Especial
Antonio Dias recebeu a ajuda dos voluntáriosDário Gonçalves/GES-Especial
Vanda e Diulia ajudam na limpeza em residência no bairro CanudosDário Gonçalves/GES-Especial

A voluntária, Diulia Henrichsen, de 19 anos, conta que o grupo se formou através de redes sociais, onde um foi marcando o outro e convidando para fazer parte. As primeiras ações foram realizadas em Três Coroas, e desde esta segunda-feira (6) atuam em Novo Hamburgo. “O que dificulta a limpeza é a falta de água. Nós trouxemos alguma coisa, mas já acabou. Agora vamos nos organizar para voltar amanhã, porque tem muita sujeira para limpar. Nosso grupo é exclusivo para limpeza, cada um traz um rodo, uma vassoura, a Feevale nos doou água. Agora temos um QG em Dois Irmãos para deixar os materiais”, explica.

Também voluntária, a aposentada Vanda Finger, 54, relata que o objetivo é ajudar aqueles que estejam em situações mais complicadas. A casa da família Dias foi a terceira a receber a limpeza na rua, isso porque os próprios moradores avisaram que Lurdes está com o braço quebrado, o que dificultaria o trabalho de reconstrução. “Quando a gente chegou, veio muita gente no nosso carro pedir materiais de limpeza, para que pudessem limpar suas casas. Esse é o principal pedido de doação que eles precisam, e material de higiene”, afirma.

Dinarte ficou na esperança de receber a ajuda quando o grupo voltarDário Gonçalves/GES-Especial
Muitos ainda precisam enfrentar a água para chegarem em suas casasDário Gonçalves/GES-Especial
Móveis perdidos por moradores se acumulam pela ruaDário Gonçalves/GES-Especial
Móveis perdidos por moradores se acumulam pela ruaDário Gonçalves/GES-Especial
Móveis perdidos por moradores se acumulam pela ruaDário Gonçalves/GES-Especial

Beneficiada com a solidariedade dos voluntários, Lurdes só conseguia agradecer as boas ações. “São mais de 15 anos morando aqui e nada parecido tinha acontecido. Sem essas pessoas, passaríamos a semana inteira pra conseguir limpar”.

“Passei mais de 40 anos cuidando dos outros, e agora precisei de cuidados”

A casa de Marisa dos Reis, 65 anos, foi a primeira da rua Seno Antônio Schokal a receber a ajuda dos voluntários. Ela trabalhou por mais de quatro décadas como cuidadora de idosos e pessoas enfermas, mas precisou parar devido a uma doença autoimune chamada Lúpus, que possui. Em sua casa, onde mora com o marido Jorge Rodrigues da Silva, 72, a água invadiu até cerca de um metro de altura. Nos fundos, a filha mora com seus dois netos, e com a enchente, todos tiveram que sair de casa. “Passei mais de 40 anos cuidando das pessoas, e agora eu precisei de cuidados. A chegada destes voluntários foi uma benção”, agradece.


Jorge e Marisa também tiveram a casa limpa pelos voluntários Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

Jorge Rodrigues afirma que foi a maior tristeza que já viveu, perdendo móveis, eletrodomésticos, colchões e sofás. “Tem muita coisa que nós nem quisemos mexer para não desmanchar. Se tentar mexer no guarda-roupa, ele vai cair”, detalhou.

Em frente à residência, e por toda a via, escombros ocupam a rua e formam uma cena de destruição que só deve aumentar nos próximos dias, afinal, grande parte da rua ainda está debaixo d’água. “É importante divulgarmos esse trabalho para motivarmos mais pessoas a virem ajudar, a doar materiais de limpeza. Amanhã estaremos aqui de novo, essa rua é a que mais requer cuidados neste momento”, conta uma das líderes do grupo, Karina Weber.

Quem está na espera do retorno dos voluntários é Dinarte Cassol, 75 anos. Quando a água invadiu seu pátio, ele e a esposa saíram para a casa do filho. Mais tarde, retornaram à casa para buscar o cachorro. “A casinha dele ficou boiando”, conta o aposentado, que também fala do medo de sair de casa e sofrer com arrombamentos e furtos.

Atuação dos VoluntáriosDivulgação
Atuação dos VoluntáriosDivulgação
Atuação dos VoluntáriosDivulgação

Quem quiser entrar em contato com o grupo para fornecer ajuda, pode entrar em contato com Karina, pelo número (51) 99560-1120.

Reconstrução no bairro Santo Afonso

Água ainda inunda grande parte do bairro Santo AfonsoDário Gonçalves/GES-Especial
Água ainda inunda grande parte do bairro Santo AfonsoDário Gonçalves/GES-Especial
Escombros se acumulam pelas ruas do bairro Santo AfonsoDário Gonçalves/GES-Especial
Escombros se acumulam pelas ruas do bairro Santo AfonsoDário Gonçalves/GES-Especial
Escombros se acumulam pelas ruas do bairro Santo AfonsoDário Gonçalves/GES-Especial

Até o sábado (4), a rua João Corrêa e arredores estava completamente submersa. No local, Bombeiros Militares do Paraná estiveram um dia antes fazendo o resgate dos moradores que precisavam deixar seus lares. Já nesta segunda (6), a água havia recuado e revelando um cenário de lama e muitos destroços. Porém, com grande parte do bairro ainda embaixo das águas do Sinos, e sem água na torneira para a limpeza, são poucos os que já conseguem trabalhar em um recomeço. “A gente limpa, limpa, e parece um trabalho que não termina. É cansativo, ainda mais depois de tantos dias praticamente sem dormir”, conta Marcelo dos Santos, 42 anos.

Conforme atualização divulgada pela Prefeitura de Novo Hamburgo às 16 horas, o Rio dos Sinos havia baixado para 8,46 metros. Em relação à noite anterior, a água havia recuado mais 120 metros na rua México, uma das principais vias de entrada do bairro Santo Afonso.

Mesma rua nos dias 3...Dário Gonçalves/GES-Especial
...e 6 de maio, depois da água baixarDário Gonçalves/GES-Especial

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Matérias Relacionadas