Milhares de pessoas foram expulsas de seus lares pelas águas do Rio dos Sinos que invadiram as residências. Enquanto muitos estão em abrigos, na casa de familiares ou amigos, outros buscaram se refugiar em barracas improvisadas com pedaços de lonas. Em Novo Hamburgo, dois pontos embaixo do trem já abrigam moradores. A mesma situação se repete em outras áreas da cidade.
No Bairro Santo Afonso, um dos mais atingidos pela cheia, o catador de material reciclável Deoclides Baptista, 66 anos, é um dos vive na rua há quase 15 dias, desde que precisou abandonar a casa, na Rua Planalto, onde mora há mais de 26 anos.
A decisão de ficar perto do bairro se deu por conta dos cinco cachorros que ele salvou da enchente. Baptista já dormiu em vários pontos do bairro. Agora, a moradia temporária fica na Avenida Montevideo, sob algumas árvores no canteiro central.
“Hoje arrumaram essa barraquinha com lona aqui para mim. Não fui para outro lugar por causa do ‘bicharedo’. Éramos entre nove, mas os outros acabaram morrendo na enchente”, conta Baptista. A perda dos animais é o que mais tem entristecido o morador. “Perdi cachorro, galinha, leitão. Tudo. Além da casa, que ainda tá embaixo d’água”, completa.
Para comer, o catador depende da doação entregue por voluntários. “Eles estão me dando roupas. Comida também não posso me queixar”, diz. Por enquanto, não há perspectiva de Baptista voltar para casa. “Não sei nem se minha casa está de pé. Mas lá é meu cantinho, quando a água baixar eu volto para lá, nem que seja para ficar acampado como estou aqui”, afirma.
Apesar de tudo, ele ainda tem esperança de conseguir recomeçar a vida no mesmo endereço. “Temos que superar. Não tem o que fazer. Se Deus quiser, todo mundo vai conseguir recomeçar de novo”, finaliza.
Barraca improvisada virou abrigo
Em outro ponto, próximo da Avenida Sete de Setembro, embaixo dos trilhos do trem, Alcindo José de Melo, 54 anos, também do bairro Santo Afonso, está morando com outras oito pessoas em uma barraca improvisada.
Eles saíram de casa quando a água começou a invadir a residência. “Viemos com alguns amigos que moram perto. Não quisemos ir para o abrigo, lá não dá para fazer muita coisa, nem tomar um chimarrão”, afirma.
A refeição é feita quando recebem doações de outras pessoas. Por enquanto, a volta para a casa não deve acontecer tão cedo. “Se baixar as águas nós vamos voltar. Por enquanto tava enchendo de novo”, diz Melo.
LEIA TAMBÉM