Desde a noite de domingo (12), a Defesa Civil de Novo Hamburgo tem alertado moradores das partes altas dos bairros Kephas, São José e Diehl sobre riscos de deslizamentos. As localidades ficam em áreas de encostas de morro, o que faz com que as chances de desmoronamentos por conta das constantes chuvas sejam maiores. Contudo, até a noite desta segunda-feira (13), nenhum grande deslizamento ocorreu.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Novo Hamburgo (DF-NH), Claudiomiro da Fonseca, dois engenheiros da DF-NH e um geólogo da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura estiveram nesta segunda percorrendo os bairros e, felizmente, não encontraram nenhuma área de risco iminente. “Isso não quer dizer que não exista, mas não foi percebido por nós nem pelos moradores. Porém, toda essa área dos bairros São José, Kephas, Vila Dihel, desde a invasão próximo à Feevale, passando por trás da escola Eugênio Nelson Ritzel, depois pela rua Arthur Momberger, é de alerta”, comenta.
Fonseca também estima que mais de 500 famílias vivem nesta área, e que todos devem ficar alerta aos sinais, como rachaduras no solo ou nas paredes, árvores que comecem a tombar, entre outras situações que fujam da normalidade. “Se desconfiar de qualquer coisa, contate imediatamente a Defesa Civil, os Bombeiros, e busquem um lugar seguro”, finaliza.
“Não vou esperar a tragédia acontecer”
Moradora da rua Jacob Gerhardt há 44 anos, Maria Madalena Gomes Schafer, de 65 anos, pela primeira vez sentiu o medo de ficar em casa. Tanto é que decidiu passar essa noite longe do bairro. Madalena separou roupas, documentos, itens de higiene pessoal e remédios e decidiu buscar abrigo na casa do irmão, Paulo Ricardo Gomes, 62, que mora no Centro de Novo Hamburgo.
“Tenho um filho que não mora mais aqui, que me disse que não preciso ficar com medo, mas não é a vida dele que está em jogo. Eu prefiro sair agora e voltar em segurança, do que esperar pra ver, não vou esperar a tragédia acontecer”, relata a moradora.
Paulo Ricardo, também já morou na mesma rua da irmã, na casa onde ainda vive seu filho. Na tarde desta segunda-feira (13), ele visitou a família para oferecer abrigo em local seguro. “Meu medo é que, com os anos, foram feitas muitas construções mal planejadas, com lajes sobre o solo para dar sustentação, e isso pode infiltrar água, deslizar e causar um deslizamento. Se isso acontecer, não será só uma ou outra casa afetada, é um morro, então vai ocorrer um efeito dominó”, comenta.
O desejo de ambos, é claro, é que nada ocorra, mas até que se sintam em segurança, preferem ficar em local seguro.
A vizinha Simone Silva da Costa, 42, mora com o filho Henrique Gabriel Robaski, 13. Foi ela quem avisou Madalena sobre os avisos da Defesa Civil. Imediatamente, ainda no domingo, saiu de casa. “Minha preocupação é o desmoronamento, porque a minha casa é muito perto do morro, tenho meu filho pequeno e saí para nos proteger com algumas roupas e outros pertences. Vários outros vizinhos estão saindo de casa, só não saiu quem não tem para onde ir”, explica.
Entre as preocupações, está duas árvores em frente à casa com risco de queda e que já causou rachaduras no muro e nas paredes de casa. Em 2021, protocolou junto à Prefeitura um pedido para que as duas fossem cortadas, mas até o momento isso não aconteceu. “Só vou voltar quando passar a chuva e tudo estiver bem”, finaliza.
“Se eu sair, vou para onde?”
Enquanto uns deixam suas casas, outros ainda vivem a aflição de ficar em casa. Adelino Luis da Cruz, 64 anos, vive com um gato e um cachorro na rua Diamante, Vila Diehl. Sua casa fica bem próxima à via, construída em uma encosta de morro. “Se eu sair, vou para onde? Também tenho meus animais. Eu tenho, ou melhor, tinha, uma casa no bairro Campina, em São Leopoldo, que eu pretendia ir para lá, mas foi tomada pela água”, explica.
O maior medo de Adelino são as árvores. Na madrugada de domingo para segunda-feira, ouviu barulhos e não conseguiu dormir mais desde às 3 horas da madrugada.
Já na rua Germano Gerhardt, na Vila Redentora, bairro São Jorge, Leandro Rocha, 45, e Geovane Maciel, 40, observam na própria água os sinais de que algo possa vir a estar errado. “Essa água sempre corre por aqui, vinda do morro. Enquanto ela está assim, limpa, a gente tá tranquilo. A preocupação vem se ela começar a vir barrenta, porque significa que em algum lugar desmoronou”, observa Leandro.
Bloqueio por tempo indeterminado
De forma preventiva, devido à possibilidade de novos deslizamentos, o sentido do Centro para o bairro da Avenida Victor Hugo Kunz, entre a rua Frederico Mentz e a General Daltro Filho, bairro Hamburgo Velho, está bloqueado para o trânsito de veículos por tempo indeterminado.
A medida foi adotada após análise da equipe da Secretaria de Obras em conjunto com o Corpo de Bombeiros, que detectou risco de nova movimentação de massa no local, após deslizamento no trecho ocorrido no fim de semana.
“A interdição visa a segurança e evitar qualquer acidente no ponto, já que o solo está muito encharcado. Apenas com o tempo seco a equipe conseguirá realizar um diagnóstico mais detalhado e sugerir ações para mitigar o problema”, detalha a secretária Greyce da Luz.
Para desafogar o trânsito no bairro Hamburgo Velho, uma rota alternativa para o bairro Canudos é a rua Sapiranga e a Avenida Bartolomeu de Gusmão.
Nível dos Rios
O alto nível do Rio dos Sinos e o grande volume de chuva registrado no fim de semana fizeram com que a Prefeitura também começasse ainda na noite de domingo e seguisse nesta segunda-feira (13), a alertar a população sobre o cenário de risco do aumento da enchente.
Assim como no caso dos riscos de deslizamento, nos bairros Canudos e Santo Afonso, um carro de som percorreu as ruas alertando sobre o aumento do nível do Rio dos Sinos, que voltou a subir. Na medição das 13h, o nível estava em 7,31 metros, revertendo a tendência de redução que apresentava até o último sábado, quando chegou a 6,55 metros.