Perdas
CATÁSTROFE NO RS: Em meio aos entulhos, as histórias de vida de quem perdeu tudo
Entre os escombros, móveis e pertences de quem batalhou para conquistar, mas também de quem começa uma vida agora
Última atualização: 28/05/2024 19:59
A chegada de Heloísa Rodrigues Schaulet vinha sendo muito aguardada pelo casal Alceu Schaulet, 30 anos, e Amanda Rodrigues dos Santos, 25. Para recebê-la a família comprou um bercinho, muitas roupas, fraldas, brinquedos e o que mais Heloísa tinha direito. A menina, que se tornaria moradora da rua Punta Arenas, nº 313, bairro Santo Afonso, nasceu no dia 27 de abril, poucos dias antes de sua casa desaparecer embaixo d’água.
Com a chegada da água nos primeiros dias de maio, tudo o que a família tinha foi perdido. O berço rosa com branco nunca foi usado e agora, ao invés de abrilhantar o quarto de Heloísa, agora ocupa espaço na calçada em meio aos escombros, destruído. “Nós pensamos em lavar, deixar secar e ver se conseguíamos recuperar, mas achamos melhor não. É todo de madeira, isso incha e já está se desmanchando, não seria seguro para um bebê”, comenta o pai.
Amanda, a mãe, lamenta que todo o esforço que foi feito durante a gestação tenha se transformado em entulhos que causam não só prejuízos financeiros, mas também emocionais. “Essa menina vai ter história pra contar, ela nasceu em meio a toda essa tragédia. Vai completar um mês de vida e ainda não pôde ter uma casa”.
Apesar do momento de extrema dificuldade, Alceu não perde as esperanças. “Nós vamos conseguir nos recuperar, a gente vai se reerguer, e dar a volta por cima”, finaliza.
Por onde se passa, o cenário é o mesmo, mas cada objeto contém uma história única para quem o pertenceu. Em um primeiro momento, colchões empilhados, sofás e muitos móveis de madeira chamam a atenção. Mas um olhar mais de perto também percebe brinquedos que um dia fizeram alguma criança feliz, como um dia será Heloísa; remédios tão necessários a quem perdeu; fotografias e quadros antigos que não podem ser recuperados e levam consigo as imagens registradas; cuias de chimarrão, um símbolo entre os gaúchos; malas que um dia estiveram em uma viagem com memórias felizes; roupas, calçados, cartões, caixas de óculos, livros, bíblias. Tudo descartado, tudo perdido. “Aqui é o resultado de uma vida inteira de trabalho”, comenta um morador da rua Valparaíso, também no bairro Santo Afonso.