MAIS DE 20 DIAS DEPOIS
CATÁSTROFE NO RS: Do desafio da desocupação dos abrigos ao retorno para casa; veja a situação em Novo Hamburgo
Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), atualmente há 14 abrigos oficiais na cidade, que acolhem 4.319 pessoas
Última atualização: 20/05/2024 17:31
Quase trinta dias depois da enchente do dia 27 de abril, os abrigos temporários em Novo Hamburgo começam a ser desocupados. No Ginásio do Pio XII, não há mais albergados.
A desocupação ocorreu também nos abrigos Liberato e no Sesi. Com isso, resta a dúvida: qual o próximo passo para os desabrigados que ainda não têm para onde ir?
A diretora de assistência social de Novo Hamburgo, Rosângela Vaz, explicou que a cidade enfrenta um período de readaptação e que a gestão municipal já está planejando realocar os desabrigados para um local mais estruturado do que a Fenac.
A Fenac é um abrigo credenciado pela prefeitura, que atualmente está recebendo os desabrigados remanescentes de outros locais, com aproximadamente 2.800 pessoas alojadas.
“Ainda não temos um local definido, pois isso depende da procuradoria, mas estamos articulando possibilidades," afirmou. A diretora destacou que um abrigo temporário de três a quatro dias tem necessidades diferentes do que um abrigo de médio prazo, como o atual, que exige maior adaptação.
Número de abrigos
Apesar da tendência de fechamento dos abrigos temporários e retorno da população a suas casas, os números ainda são altos na cidade. Conforme a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), atualmente há 14 abrigos oficiais na cidade, acolhendo um total de 4.319 pessoas.
No entanto, dados coletados por voluntários locais indicam a existência de aproximadamente 50 abrigos, onde 5.545 pessoas estão albergadas. Essa disparidade sugere uma possível subnotificação no número de abrigos, não apenas em Novo Hamburgo, mas em todo o estado. O documento criado e administrado por voluntários pode ser acessado AQUI.
Apoio no recomeço
Para aqueles que finalmente podem retornar às suas casas após a enchente, a prefeitura de Novo Hamburgo está distribuindo kits de limpeza essenciais. Esses kits incluem produtos como desinfetantes, sabão, baldes e panos, que são fundamentais para ajudar as famílias a higienizar e tornar suas residências habitáveis novamente.
Rosângela explicou que essa iniciativa visa proporcionar um recomeço mais seguro e digno para os moradores afetados, facilitando o processo de retorno e de reconstrução de suas rotinas.
Quem precisa de apoio de voluntários para limpar a sua residência, pode buscar por meio do aplicativo "Meu Lar de Volta", que facilita a localização de residências que necessitam de ajuda.
Organização e solidariedade
A gestão e manutenção dos espaços temporários, como o da Fenac, sendo, atualmente, o maior em número de desabrigados, contaram com a ajuda de voluntários e dos próprios desabrigados.
Rosângela revelou que, inicialmente, muitos voluntários se prontificaram a ajudar, mas com o tempo, esse número diminuiu devido ao cansaço físico e psicológico. "No início, havia muitos voluntários, mas com o tempo, isso mudou. A vida normal voltou para muitos, mas continuamos a receber ajuda essencial," explicou.
Em relação à alimentação, a prefeitura contratou uma empresa para preparar as refeições. "Temos café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar," acrescentou ela.
A limpeza dos espaços é realizada pela Comur, empresa responsável pela higienização diária dos abrigos. No entanto, a limpeza individual dos espaços ocupados é feita pelos próprios desabrigados.
"Eles se organizam e cuidam da limpeza de seus ambientes. Montamos um esquema com líderes em cada seção para facilitar a organização," explicou a diretora.
Vida no abrigo
Lourdes Elena Pereira Santana, de 61 anos, e Delcílio Cristaldo Santana, de 65 anos, são um dos muitos casais que enfrentam a incerteza do futuro. Residentes do bairro Santo Afonso, eles foram evacuados devido às enchentes.
"Sinto muita falta da minha casa, mas a situação é essa. Temos que esperar as bombas resolverem o problema da água," comentou Lourdes.
Lourdes descreveu o dia a dia no abrigo, mencionando a dificuldade de lavar roupas sem máquinas. "Eu lavo no balde. Não é ideal, mas pelo menos fica limpinho," disse, destacando a necessidade de se adaptar às circunstâncias emergenciais.
Delcílio, que sofreu uma torção no tornozelo ao sair desesperadamente de casa durante a enchente, enfatizou a boa organização e o cuidado recebido no abrigo. "Estão cuidando bem de nós aqui. Tem médicos e tudo que precisamos. Mas o que mais sinto falta é da minha casa," lamentou.
Desafios e pontos positivos
A diretora de assistência social destacou que para as crianças, foram criados espaços específicos como um cinema e uma área de recreação, proporcionando momentos de distração e alívio em meio à crise.
Além disso, o pavilhão da Fenac, conforme passam os dias, cada vez mais se assemelha a uma pequena cidade. O espaço conta com a presença da Caixa Econômica Federal, Polícia Civil, atendimento de saúde e psicológico pelo SUS, recuperação de documentos através do Judiciário, biblioteca, estoque e separação de doações, área de lar temporário dos desabrigados, cinema e espaço kids.
A desocupação dos abrigos marca um novo capítulo na vida dos desabrigados de Novo Hamburgo. A transição para um abrigo mais estruturado, segundo Rosângela, é essencial para proporcionar um ambiente mais adequado, enquanto a cidade continua a trabalhar para encontrar soluções permanentes para aqueles que ainda não podem voltar para suas casas.