As pilhas de móveis estragados se multiplicam pelo bairro Santo Afonso e a chuva, que cai desde o começo da manhã desta sexta-feira (10), deixa a situação desta região devastada pela enchente do Rio dos Sinos ainda mais triste.
Mesmo com a previsão de precipitação de 200 milímetros até segunda-feira, com alerta de que as inundações poderão se repetir, há dezenas de moradores trabalhando na limpeza das suas casas. A faxina ocorre na parte mais alta do bairro, já que a Vila Palmeira continua abaixo d’água.
Também há pessoas caminhando em meio à enchente, com sacolas de comida e garrafas de água, indicando que muitos não saíram de casa ou já retornaram.
O soldador Rodrigo Müller, 46 anos, em parceria com um amigo, estava recolhendo os móveis que ainda têm condições de uso para serem levados até empresas especializadas em higienização. “Quem precisar estamos ajudando”, disse.
Já Graciela Rech, 43, é proprietária de um salão de beleza e deu início a um mutirão de limpeza do estabelecimento nesta manhã.
Localizado na esquina da Rua Assunción com a Rua Otawa, ela não esperava que a água chegasse a marca de quase de 1,5 metro, já que nos últimos nove anos nunca teve enchente ali.
Além disso, a profissional mora em São Leopoldo e não consegue voltar para casa, necessitando da ajuda de parentes, que também foram atingidos, para ter onde dormir.
A previsão meteorológica deixa Graciela angustiada. “Desespero de não saber o que vai acontecer. De não saber se realmente vai adiantar a limpeza, se a água não vai vir de novo. É um sentimento de impotência, de não saber o que vai acontecer”, desabafa.
Em meio à limpeza, ela se depara com um quadro que decora o salão e decidi fazer um registro de lembrança. “Tua presença alegra este lugar”.
Até semana passada, o espaço recreativo Quintal da Infância, no bairro Liberdade, recebia diariamente 25 crianças. Agora, o endereço é o lar provisório de 12 pessoas que saíram do bairro Santo Afonso. A professora Jéssica Rech, 25, proprietária da escola, é sobrinha de Graciela.
Hoje ela ficou cuidando das crianças, enquanto os adultos saíram para limpar as casas. A escola ainda serve de pouso para um barqueiro que, durante o dia, ajuda no transporte dos moradores.
De acordo com ela, os familiares saíram de casa na madrugada de sexta para sábado, quando a Defesa Civil passou com carro de som pedindo que a Vila Palmeira fosse evacuada. “Ficamos sem nada. Eu moro na frente da UBS da Vila Palmeira e está tudo embaixo d’água”, lamenta.
Inclusive, o espaço recebeu um caminhão de roupas vindo de Três Coroas, doação que foi compartilhada com a comunidade.
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Jéssica conta que não tem nenhuma perspectiva de retornar para o lugar onde até então vivia. “Meu marido já está procurando casa para alugar. Para lá eu não volto mais”, diz.