NOVO HAMBURGO
CATÁSTROFE NO RS: "Ajudei a encher oito caminhões de mudança, quando cheguei na minha casa, tinha perdido tudo", relata morador
Eder Giovane é pai de cinco filhos e agora terá que recomeçar
Última atualização: 03/05/2024 23:08
Em meio a tantas perdas causadas pela maior catástrofe já vivenciada pelo Rio Grande do Sul, uma rede de solidariedade se forma para ajudar quem mais precisa. E nesta rede, muitas vezes, está até mesmo quem perdeu tudo o que tinha. É o caso de Eder Giovane, de 43 anos, casado e pai de cinco filhos, sendo quatro menores de idade.
Giovane conta que passou toda a sexta-feira (3) empilhando móveis de vizinhos em caminhões para ajudá-los a salvar suas coisas da iminente chegada das águas do Rio dos Sinos, que atinge o bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo. O que ele não esperava, é que ao voltar para casa, encontraria tudo embaixo d’água.
“Ajudei a encher oito caminhões de mudança, e quando cheguei em casa, tinha perdido tudo. Uma televisão nova, um dvd que meu filho gostava de assistir. Eu sabia que a água estava chegando, em outras vezes tinha entrado no pátio, mas não tanto”, lamenta.
Trabalhador freelancer em uma chapeação elétrica, Giovani encaminhou a esposa e quatro filhos para a casa da sogra. Ele e o filho mais velho, ficaram para ajudar outras pessoas. A nova casa temporária é um Chevrolet Kadett, emprestado de um cliente. “Nesse momento, preciso de um tempo pra me recuperar, no mínimo conseguir o básico, estou sem nada. Pelo menos uma calça seca”, desabafa.
Apesar de todas as dificuldades, o morador ainda consegue ver um lado bonito em tudo isso. “Há males que vem para o bem, une o povo. Tem pessoas aqui do outro lado da cidade que vieram batalhar juntos."
Situação semelhante vive o casal Jandir Major, 45, e Valéria Borges de Moraes, 40, junto do genro Rômulo de Oliveira, de 28 anos. Moradores da rua Ivo Willy Hack, as casas onde vivem estão completamente submersas. Por lá, a água chegou primeiro e a família precisou deixar o local na manhã de quinta-feira (2). Desde então, estão sob uma lona na calçada da rua Carlos Afonso Braunger.
A esposa de Rômulo e o filho do casal, de 4 anos, assim como o outro filho de Jandir e Valéria, conseguiram se abrigar na casa de outros familiares. Mas eles resolveram ficar por ali, com os poucos pertences que salvaram: roupas e uma máquina de lavar. Para se aquecerem, improvisaram uma fogueira na calçada, onde prepararam algumas refeições e um chimarrão. Uma corda improvisada serve como varal para secar as roupas molhadas.
Sandra Silveira, 40, e mais quatro pessoas que vivem em sua casa, deixaram o lar quando a água chegou no pátio. Com poucos pertences em mãos, a prioridade foi levar os animais de estimação: três cachorrinhos e dois periquitos.
Os animais, aliás, vivem um drama à parte. Muitos de rua, mas muitos longe de suas casas, caminham perdidos até onde podem. A maioria deles mostra no olhar a dor de não saber o que está acontecendo.