ENCHENTE
CATÁSTROFE NO RS: A hora do recomeço para quem decide sair do abrigo
Famílias desabrigadas começam a deixar os abrigos e retornam para suas casas, enfrentando os desafios da reconstrução de tudo o que perderam
Última atualização: 24/05/2024 11:11
A tragédia das enchentes que atingiram Novo Hamburgo deixou muitas famílias desalojadas, obrigando-as a buscar refúgio nos abrigos organizados pela prefeitura.
Agora, com o trabalho árduo de limpeza e recuperação, algumas dessas pessoas começam a retornar para suas casas. O processo de retorno é marcado por um misto de esperança e desafios, conforme relatos dos próprios desabrigados e das autoridades locais.
O processo de retorno
Daniel Bota, coordenador do abrigo na Fenac, explica como funciona o processo de desabrigamento para aqueles que decidem voltar para casa.
“Quando a pessoa decide voltar, normalmente ela vai até sua residência, faz a limpeza parcial primeiro. Quando vê que está em condições, ela vem até aqui, ao guichê onde é feito o desabrigamento”, detalha Bota.
Ele ressalta que a prefeitura oferece transporte para levar as famílias de volta e permite que levem os itens recebidos no abrigo, como colchões e kits de limpeza.
“É importante que as pessoas verifiquem se suas casas estão em condições mínimas para habitar. Não podemos segurar ninguém, mas queremos que estejam em segurança”, orienta o coordenador.
O município de Novo Hamburgo informou que o número de pessoas que retornaram às suas casas é grande, mas difícil de estimar. Segundo as autoridades, é possível dizer que são milhares entre todas as que saíram em algum momento desde o início do mês. Muitas estavam em casas de amigos, parentes, ou abrigos abertos por voluntários. A Prefeitura chegou a ter cerca de 6,5 mil pessoas abrigadas, mas atualmente esse número caiu para em torno de 3 mil.
Um olhar de esperança
Cleonir Fikanha, de 55 anos, morador do bairro Santo Afonso, é um dos que decidiram voltar para casa na tarde desta quinta-feira (23).
Cleonir, sua enteada, Marina Andres, o marido dela, o filho Calebe Andres Bianchte, 7 anos e o cachorro Tody estavam no abrigo da Fenac desde o dia 3 de maio.
Para Cleonir e sua família, a decisão de voltar para casa foi tomada mesmo com a rua ainda parcialmente alagada, em um dia de chuva. “Agora tem um pouco de água ali na rua, mas acho que é por causa do lixo. Na casa, provavelmente, não vai subir de novo a água”, diz Cleonir, demonstrando otimismo.
A família solicitou os kits de limpeza, recolheu os colchões e os poucos pertences que ainda tinham e foram de carona na van do município até a casa, no bairro Santo Afonso.
“A sensação é de esperança, continuar tudo de novo, reconstruir. A gente é gaúcho, vamos reconquistar as coisas que foram perdidas. Perdemos fotos, lembranças antigas, coisas que não recuperamos mais, mas o importante é que estamos todos bem. Minha mãe sempre dizia que perdemos os anéis dos dedos, mas não os dedos”, conta Cleonir, com emoção.
Saudades de casa
Além das perdas materiais, ele sente falta das pequenas coisas que faziam parte de sua rotina diária. "A coisa que eu mais sinto falta é do meu cantinho, onde eu tomava chimarrão quietinho. Era de frente de um pé de limão, aí eu sentava embaixo o pé de limão e tomava chimarrão, escuta os passarinhos. Não tem coisa melhor", relembrou com saudade. Esse momento simples, de paz e conexão com a natureza, representa para Cleonir um símbolo da vida que ele deseja reconstruir.
Desafios na limpeza e reconstrução
A família enfrentou desafios para limpar a casa da enteada, que estava cheia de lama e móveis estragados. “Demorou uns três dias para tirar os móveis estragados e depois mais a sujeira, a lama de dentro de casa. Tinha bastante, dava uns dois dedos de lama”, relata Cleonir.
Marina perdeu todos os móveis que tinha, restando apenas lixo para ser descartado. Mesmo diante das dificuldades, a esperança de recomeçar é evidente. “O importante é que está todo mundo bem. Os bens materiais vão, mas podem ser conquistados de novo”, reafirma Cleonir.
Importância do acompanhamento
O retorno para casa não significa o fim do apoio às famílias. Daniel Bota destaca que haverá um acompanhamento contínuo por parte dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e da assistência social do município.
“Esse acompanhamento depois vai ser feito pelos Cras, sobre essas famílias que ficaram desalojadas, para ver como estão suas condições. Até devido a benefícios sociais que vêm para o município e para as pessoas atingidas”, explica Bota, enfatizando a importância de um suporte contínuo para garantir a recuperação total das famílias.