CULTURA

CASA DA LOMBA: Moradores clamam por restauro do patrimônio histórico-cultural de Novo Hamburgo; relembre a história

Luta pela obra da Casa da Lomba reverbera entre o passado e o presente, na segunda tentativa fracassada de licitação

Publicado em: 15/01/2024 14:55
Última atualização: 15/01/2024 16:07

No bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo, a histórica Casa da Lomba, testemunha silenciosa dos séculos passados, permanece hoje em um estado de abandono. Desde 2017, a edificação, outrora palco de aprendizado e cultura, está trancada em silêncio.

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João Flakoski, Célia Melo, Nilo Melo, Luciana de Fátima Flores Hoher, Lucas José Hoher, Heitor Delcio Willms, Cristiane Diehl, Marco Abella, Maria Suziane Gutbier, Zé Martins, Tita Scalcon e Cristiane Érica PetryGiordanna Vallejos/GES-Especial
Casa LombaGiordanna Vallejos/GES-Especial
Casa LombaGiordanna Vallejos/GES-Especial
Casa LombaGiordanna Vallejos/GES-Especial
Casa LombaGiordanna Vallejos/GES-Especial
Casa LombaGiordanna Vallejos/GES-Especial
Casa LombaGiordanna Vallejos/GES-Especial
Casa LombaGiordanna Vallejos/GES-Especial
Casa LombaGiordanna Vallejos/GES-Especial
Casa LombaGiordanna Vallejos/GES-Especial
Casa LombaGiordanna Vallejos/GES-Especial

Conforme o município, foram abertas duas tomadas de preço para a contratação de empresa com responsabilidade técnica para a restauração da Casa da Lomba, sendo a primeira em 2022 e a segunda em 2023.

Após a última tentativa fracassada de licitação para a obra de restauro, necessária para o local voltar a ser utilizado, em 26/12/2023, o futuro se mantém incerto. A comunidade de Lomba Grande, impaciente, observa o impasse que se estende sobre seu patrimônio histórico-cultural.

O secretário da Cultura, Ralfe Cardoso, esclarece os desafios enfrentados nas duas tentativas de licitação: “Por tratar-se de uma obra complexa de restauro, são poucas empresas habilitadas no mercado para participar. Na última licitação, todas foram consideradas inabilitadas, levando ao fracasso do processo."

Nova licitação será aberta

Ele destaca a importância cultural da Casa da Lomba para Novo Hamburgo: "Consideramos um importante patrimônio da cidade. A restauração é essencial para preservar sua arquitetura e história”. Ao ser questionado sobre a continuidade do processo, Ralfe afirma que será aberta nova licitação, e que o processo está em trâmites internos na Prefeitura — confirmando que um novo certame será publicado em breve.

Ao mergulhar nas raízes desse abandono, são encontradas as vozes da comunidade que transformam a espera em um grito de resistência pela preservação e resgate desse patrimonio de Novo Hamburgo.

Cultura prejudicada

O músico, professor e morador Zé Martins, relata os projetos culturais que ocorriam na Casa da Lomba. “Aqui existia um telecentro, para as crianças fazerem suas atividades, existia uma biblioteca comunitária, com doações dos moradores, aqui também começamos a reunir material para fazer um museu sobre a história da Lomba Grande. Aqui ocorriam aulas de música, de flauta, teclado, percussão, violão. Mais de 70 crianças estavam sendo atendidas e de uma hora para outra foi tudo isso fechado. Se passou um hiato de tempo e há uma geração aqui do bairro que ficou sem esse acesso à cultura”, explica ele.

Uma antiga funcionária do espaço, Tita Scalcon, assim como os demais entrevistados, destaca como a Casa Lomba era mantida pela comunidade do bairro, desde o comércio até os moradores. “Tudo isso que foi construindo, nós tínhamos uma parceria com a comunidade. A pintura da casa era doação de tinta que vinha das lojas e os pais pintavam, eu era a única funcionária da casa. Por último, conseguimos elaborar um projeto de restauro da Casa Lomba e aconteceu o fechamento do espaço. A casa está assim por um não do poder público. A gente está de olho para ver o que acontecerá”.

Vozes da comunidade

De mãos dadas, diversos moradores manifestam a união, relacionada ao desejo de poder cuidar e utilizar o espaço da Casa Lomba novamente. “Vejo uma casa que está sendo terminada por uma questão burocrática. O nosso objetivo é fazer com que se concretize a obra”, ressalta Marco Abella, vice-presidente da Amo Lomba.

Maria Suziane Gutbier, moradora do bairro Lomba Grande, também manifesta descontentamento com a atual situação. “É um espaço histórico, estratégico para as ações de cultura do bairro. Isso causa expectativa e preocupação.” Residindo na Lomba há mais de 30 anos, Heitor Delcio Willms relata um sentimento de desconsideração. "Acho um descaso, uma coisa muito falha da administração."

Outro morador do bairro, João Flakoski se preocupa que, caso nada seja feito, "a casa acabará caindo". "A legislação proíbe de fazer tanta coisa aqui, precisamos fazer alguma coisa." Já Cristiane Dieh, presidente do Canta Lomba, pontua: “A importância que vemos é viabilizar junto ao poder público e à comunidade para que esse espaço seja reaberto."

História da Casa Lomba

A Escola Mayer, atualmente conhecida como Casa da Lomba, foi construída graças a mobilização popular liderada pelo professor Heinrich Meyer, no período entre 1862 e 1864. Desde seu princípio sempre se pensou o espaço como um ambiente escolar, que serviria também de moradia para o professor responsável, até o ano de 1915. Após isso, a casa passou a servir, também, de moradia para os pastores da atual Comunidade Evangélica de Lomba Grande.

A Escola Mayer passou por uma grande reforma em 1928, que deu ao conjunto a aparência que se mantém até hoje. Alguns anos depois receberia uma ampliação, necessária para abrigar duas classes, ao invés de uma. A escola se manteve no espaço até 1940, quando o imóvel se tornou pequeno para abrigar tantos estudantes. Após isso, o espaço foi incorporado totalmente pela Comunidade Evangélica de Lomba Grande.

Após 1950, foram feitas mais algumas pequenas reformas e ampliações, como a construção de uma cozinha e um banheiro, porém, sem interferências no aspecto arquitetônico original do imóvel, mantendo as características históricas muito ou totalmente preservadas.

Do ponto de vista arquitetônico, a Casa da Lomba é uma edificação teuto brasileira, que se destaca por vários elementos arquitetônicos representativos da época de sua construção e, principalmente, por abrigar a significância cultural a ela atribuída pela comunidade, a qual usufruia do espaço para atividades de relevante interesse por tantos anos.

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