FIM DA NOVELA?

BANCAS DE NOVO HAMBURGO: Ex-concessionários deixam as lancherias e novos assumem a partir desta sexta-feira

Tradicional ponto de gastronomia, com 70 anos de história, passa a ter novos permissionários após polêmica e discussão judicial

Publicado em: 07/09/2023 21:12
Última atualização: 17/10/2023 21:02

Depois de muita polêmica e até disputa judicial, um dos pontos mais tradicionais do Centro da cidade terá mudanças nesta sexta-feira (8). Os novos concessionários das Bancas de Novo Hamburgo vão, enfim, assumir seus pontos. Há sete décadas as Bancas funcionam na Avenida Pedro Adams Filho, junto à Praça do Imigrante.

QUEM SÃO OS OITO SORTEADOS PARA ASSUMIR AS BANCAS DE NOVO HAMBURGO


Tiago Vargas (de boné) será o novo responsável pela Banca 1, que está na família de Angelo Siegle desde os anos 40 Foto: Eduardo Amaral/GES-Especial

Na última terça-feira, a Justiça local determinou que os antigos concessionários das lancherias, que ficam em um prédio da Prefeitura, deveriam desocupá-las até o fim da noite do feriado desta quinta. E o movimento de mudança era grande no fim da tarde.

Fernando Peteffi, 61 anos, assistia do lado de fora a retirada dos equipamentos da Banca 3, na qual ele deu expediente nos últimos 40 anos. “É um dia triste, esses anos todas de Banca me trouxeram uma escola de vida e amizades fantásticas”, relembra.

Peteffi assumiu o ponto de venda de lanches e sucos no lugar do pai, mas o atendimento ao público naquele local veio de antes. Foi no dia 29 de novembro de 1949 que o avô do comerciante assumiu pela primeira vez o local e então o negócio passou por duas gerações.

Com o trabalho realizado nas Bancas, Peteffi constituiu família e de lá tirou o sustento para ele e para a filha. Agora, após a derrota no sorteio que definiu os novos concessionários dos espaços, Peteffi mira um novo caminho. “Minha ideia agora é fazer um trabalho autônomo, ir curtir a família.”

Apesar da tristeza em deixar o local onde cresceu, Peteffi se mostra orgulhoso da trajetória que construiu no antigo prédio da Pedro Adams. “Saio pela porta da frente e de cabeça erguida, cumprimos todos os nossos compromissos nesses anos.”

Fim de um ciclo de 30 anos

Já com sua lancheria esvaziada e fechada, Angelo Siegle, 62 anos, circulava pela área das Bancas conversando com os colegas no fim da tarde desta quinta-feira. Durante 30 anos ele trabalhou na Banca 1, também uma herança de família que começou com o avô. “Demorei muito para aceitar que fui o cara da família que perdeu o lugar”, conta.

Siegle não quer parar de trabalhar, mas, nos próximos dias, pretende analisar qual será seu futuro. “Eu ainda tenho muita lenha para queimar, mas na segunda-feira eu fecho a firma.”


Nadir comanda a Banca 7 desde o dia 1º de setembro Foto: Eduardo Amaral/GES-Especial

Novos permissionários estão ansiosos

Se por um lado os ex-permissionários lamentam a saída, de outro, os empreendedores que assumem após uma concorrência pública se mostram ansiosos para trabalhar. Tiago Vargas, 43 anos, foi sorteado para assumir a Banca 1, justamente a que está sendo deixada por Siegle.

Dono de um food truck, ele promete mudar o perfil do lugar e projeta inovações. “Conheço aqui há 23 anos, desde que comecei a frequentar. Acho que o lugar está muito jogado e quero agora renovar, trazendo novos cardápios, novos lanches.”

Para Nadir Nascimento Grancke, 58 anos, que já assumiu seu posto na Banca 7, esta é a chance de realizar um sonho. “Eu trabalhava em uma empresa aqui perto e vinha tomar café. Sempre disse que um dia eu teria um lugar aqui. Quando abriu espaço eu me joguei.”

A aposta de Nadir é grande, já que ela colocou a vida de assalariada de lado para apostar no negócio. “Os equipamentos eu comprei do antigo concessionário que fez um bom preço e ainda parcelou, e os produtos foi meu marido que ajudou a comprar”, conta ela, que está no local desde 1º de setembro.


Impasse marca o que seria a troca de permissionário das Bancas de Novo Hamburgo Foto: Susi Mello/GES-Especial

Dias de polêmicas e disputas

Os novos concessionários deveriam ter assumido as Bancas no dia 29 de agosto. Entretanto, na data marcada, antigos ocupantes se recusaram a sair do local, já que haviam ingressado na Justiça contestando o processo de seleção de seus sucessores.

Mesmo com a presença da Guarda Municipal, ex-permissionários não se retiraram na data combinada. Eles pediam a exclusão de nove dos 15 empresários que foram habilitados para participar do sorteio realizado no dia 10 de julho pela Prefeitura.

Siegle reclama, por exemplo, que não pôde participar da disputa e alega que houve uma rigidez com ele que não foi aplicada em outros casos. “O pior de tudo foi nem ter podido participar do sorteio, se eu participasse e perdesse, tudo bem.” Já Vargas, o novo responsável pela Banca 1, tem entendimento diferente. “Tem pessoas aqui há 67 anos. Elas achavam que eram donas do local, e isso aqui é da Prefeitura.”

Mesmo derrotados na primeira instância, os ex-concessionários ainda têm um processo na Justiça, como explica o advogado David Battisti Jacob, que representa o grupo. “O edital vincula as partes e deve ser seguido o que foi positivado nele. O edital não pode ser flexibilizado.”

Só que mesmo com a ação correndo, tanto Siegle quanto Peteffi se mostram pouco otimistas quanto à reversão do quadro. Mesmo assim, eles garantem que entregaram o ponto sem resistência e as chaves já estão nas mãos do advogado. “Entregarei ao oficial de Justiça ou para a municipalidade na manhã desta sexta. Isso foi peticionado nos autos da ação de reintegração de posse na tarde desta quinta”, afirma Jacob.

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