HISTÓRIA DE VIDA

Aos 85 anos, barbeiro mais antigo do bairro Guarani relembra como chegou a Novo Hamburgo

Além do salão de beleza, Nidi é lembrado pelo trabalho realizado nas comunidades do Município

Publicado em: 01/11/2023 14:15
Última atualização: 01/11/2023 14:16

Quem mora no bairro Guarani, em Novo Hamburgo, provavelmente já passou pela cadeira da barbearia de Antônio Salonides Paz, popularmente conhecido como "Nidi", e que no auge dos seus 85 anos, ainda ajuda o filho Anselmo Paz com a clientela que pede pelo barbeiro. Além do salão de beleza, Nidi é lembrado pelo trabalho realizado nas comunidades do Município.


Seu Nidi, Antônio Salonides Paz, 85 anos Foto: Laura Rolim/GES Especial

O contato com a profissão começou quando o primeiro filho nasceu e Nidi precisava de uma renda suficiente. Então, montou um salão e começou a trabalhar. No entanto, era como modelista de calçados que ele iniciou a vida profissional, mas, de acordo com ele, não era essa a atividade que ele gostava de exercer.


Antônio Salonides Paz, 85 anos, e o filho, Anselmo Paz Foto: Laura Rolim/GES Especial

Natural de Santo Antônio da Patrulha, veio para Novo Hamburgo no meio da guerra, pois a empresa de produção agrícolas e materiais metálicos em que o pai administrava acabou falindo. "O meu pai queria que eu fosse modelista, pois achava uma profissão bonita. Mas eu ficava dez horas dentro de uma firma. Isso não era para mim", assume Antônio, que chegou a trabalhar por quatros anos na área.

Até que, através de um colega do Senai, chamado de Rui Barbosa, e que cortava o cabelo dos colegas, ele aprendeu a cortar o cabelo de outras pessoas. Foi então que se tornou o único barbeiro do bairro Guarani. O pai ficou decepcionado, pois não era esse o futuro que ele planejava para o filho. "Ele custou a aceitar. Tive que explicar que não era disso que eu gostava", relembra Antônio.

Em paralelo às atividades como barbeiro, Antônio chegou a ser desenhista de calçados para as fabriquetas da época. Por conta do contato que tinha com diferentes pessoas de Novo Hamburgo e também pelo contato que teve com a área calçadista, Nidi passou a reivindicar algumas ações ao setor. Especialmente a juventude da época.

Mas rapidamente ele também começou a se envolver com outras ações na cidade. Logo, tornou-se um líder comunitário relevante. Nidi lembra que chegou a aplicar vacinas na vizinhança, e fez até um curso de primeiros socorros para atender o pessoal do bairro.

Foi através desse contato com a comunidade que ele decidiu concorrer a vereador de Novo Hamburgo em 1976. É claro que pelo trabalho realizado com os moradores, o resultado não poderia ter sido outro: foi o terceiro mais votado, com 1060 votos. Nidi conta que não tinha dinheiro, mas os próprios moradores fizeram a campanha.

Para ele, lutar pela comunidade era o que o motivava. "As linhas periféricas dos bairros era pelo que eu lutava. Na época, praticamente todos os bairros conseguiram vencer suas carências comunitárias. O que eu fiz foi mostrar o caminho da solução, mas quem conseguiu, foram eles mesmos", diz.

Durante os dois mandatos em que atuou como vereador, conseguiu levar asfalto para as ruas que ainda não tinham, além de implementar linhas de ônibus para atingir o maior número de pessoas. 

Para Nidi, um dos aprendizados que conta com orgulho, foi o de saber conviver no meio das diferenças. "Eu atribuo esse meu passado a uma palavra: convergência. O objetivo era sempre chegar num mesmo objetivo. Mesmo que todos tivéssemos as nossas opiniões, eu sempre tentei ouvir todos os lados", relembra.


"Seu Nidi", Antônio Salonides Paz, 85 anos Foto: Laura Rolim/GES Especial

Aos 85 anos, Nidi mantém sonhos

Um dos sonhos do barbeiro, conforme ele relata, é de escrever um livro sobre a sua chegada e da família no bairro Guarani, que na época se chamava África. Conforme lembra Nidi, havia uma segregação racial evidente no bairro, isso porque, a maioria dos moradores eram negros. No entanto, quando ele, os pais e os irmãos ingressaram na comunidade, houve uma dificuldade de serem aceitos, já que era muito comum que existissem bairros dos brancos e bairro dos negros. 

Mas foi com um sobrenome em comum que a união foi selada entre as duas famílias. Assim como os pais de Nidi, os irmãos Guilherme e Euzébio, os moradores daquela localidade, também tinham o sobrenome Paz, e foi assim que as duas famílias passaram a conviver juntas.

Mesmo não sendo novo-hamburguense de nascença, Antônio sente como se fosse natural daqui. Inclusive, esse é um dos seus sonhos: ser homenageado na Câmara de Vereadores e reconhecido como cidadão de Novo Hamburgo. O amor pela cidade é tanto, que um dos objetivos do barbeiro é estar com saúde para alcançar o centenário de Novo Hamburgo, que deve ser comemorado em 2027.

"Quero ver a festa. Que Deus me dê a sua graça. Tudo que nós somos, foi tudo aqui em Novo Hamburgo", afirma.

Harmonia selada pelo sobrenome

Um dos sonhos do barbeiro, conforme ele relata, é de escrever um livro sobre a sua chegada e da família no bairro Guarani, que na época se chamava África. De acordo com Nidi, havia uma segregação racial evidente na cidade, isso porque a maioria dos moradores do Guarani era de pessoas negras.

Inclusive, quando ele, os pais e os irmãos ingressaram na comunidade, houve uma dificuldade de serem aceitos. Mas foi com um sobrenome em comum que a união foi selada. Assim como os pais de Nidi, os irmãos Guilherme e Euzébio, moradores daquela localidade, também tinham o sobrenome Paz, e foi assim as famílias passaram a conviver em harmonia.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Matérias Relacionadas