“No meu show não existe palco e nem plateia.” Com esta frase o músico Alceu Valença adianta o que se deve esperar do show que será apresentado neste domingo (5), durante o segundo dia de programação da Virada Cultural, em Novo Hamburgo. O show, que começa às 21 horas, será o mesmo visto recentemente pelo público que o acompanhou na turnê na Europa.
E como o próprio músico disse em entrevista ao Grupo Sinos nesta semana, e é característica marcante de suas apresentações, terá bastante interação com quem estiver na Praça do Imigrante. “Vai ser muito bom!”, ressalta Valença.
A atividade é gratuita e vai contar com os grandes sucessos da carreira do artista pernambucano, como Anunciação, Girassol, La Belle de Jour, Coração Bobo e Tropicana. O público vai conferir também temas de Luiz Gonzaga, como Baião, Sabiá, Vem Morena e Xote das Meninas, adianta o músico.
Em outubro de 2022, o artista esteve em Novo Hamburgo, no Teatro Feevale, mas de uma forma mais intimista, no formato voz e violão. Agora, será a vez do show Alceu Dispor que terá banda completa.
No dia 18 de novembro, o músico tem outra agenda no Estado. Ele estará no Festival Turá, em Porto Alegre. E como aguentar a rotina extensa de shows? Bem, ele tem o segredo.
“Eu ando. No mínimo 12 mil passos por dia, é a meta. Mas tem dias que faço uns excessos aqui, ando 13 mil, 17 mil passos. Mínimo é 10 mil”, conta Valença que se divide entre três cidades onde possui residência: Olinda (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Lisboa (Portugal).
Confira o bate-papo:
O que o público pode esperar do show em Novo Hamburgo?
Alceu- A gente fez esse show na turnê agora na Europa. Nós fomos para a Alemanha, Holanda, Espanha, fizemos várias cidades lá. Depois várias cidades em Portugal, depois fomos para Paris e para Londres, né? E a gente chega aí com esse show, com a mesma banda que foi feita para a Europa, com tudo, tudo, tudo. Vai ser muito bom e eu tenho certeza que as pessoas vão entrar em sintonia com a gente. Eu digo que no meu show não existe palco nem plateia. É uma mistura.
É diferente cantar fora do País?
Alceu– Não, para mim o palco é palco, show é show. Não interessa, assim digamos, quando um show é feito dentro de um teatro, é uma coisa, mas no fundo eu gosto de palco, não me incomodo não. Pode ser um palco de uma imensidão, inacreditável como pode ser dentro de um teatro.
Como consegue depois de tanto tempo seguir realmente cantando o que gosta?
Valença– Eu sempre fiz o que eu gostava. No disco Cavalo de Pau, que é o disco que tinha a Tropicana e tal , eu fiz só oito músicas. E aí a produção falou: ‘Só tem oito, não vai vender’. E eu já tinha contado a história, era oito e acabou. Aí, foi o que mais vendeu. Tá entendendo? Se eu não gosto, eu não me curvo. Eu acho que a arte é maior do que o comércio, a indústria. Então, se der certo deu, se não der não deu.
A gente sabe que durante a pandemia muita gente ficou ligada em lives, continuou acessando Spotify, YouTube e várias das suas canções acabaram sendo impulsionadas também por esse meio. É um público novo ou um cenário que acabou sendo adaptado?
Valença – Com a internet você pode ouvir uma música de qualquer canto. Isso para mim foi muito bom. E, digamos, aconteceu de uma maneira natural. No YouTube, por exemplo, eu já tenho canção com 1 bilhão de acessos, cantadas por mim e outras pessoas.
Também vi youtubers na Inglaterra, nos Estados Unidos, cantando e chorando com minhas músicas. Antes da guerra da Rússia e Ucrânia, veio um jornal ucraniano falando de um disco meu que era até muito antigo, e eu espero que o Putin e o Zelensky dancem forró para selar a paz.
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Nas tuas redes sociais tem divulgação de vídeos da criançada. Como explicar essa identificação das crianças com o Alceu Valença?
Valença – Dizem que eu sou criança também. O palco é uma coisa que não tem idade. E eu tenho vitalidade. As crianças gostam, se identificam. A minha mulher colocou hoje [1º], no meu Instagram, o vídeo de um menino que está com cartola e capa como eu estava em uma apresentação. Teve uma menina, que deveria ter no máximo uns 10 anos, que cantou comigo em um show em Balneário Camboriú (SC). Rapaz, que coisa maravilhosa!
Até hoje se apresenta no carnaval, qual sua relação com a festa de rua ?
Valença – Minhas relações são, primeiro, com a minha cultura primal que vem da cultura do sertão profundo. Essa mesma cultura que foi a base de Luiz Gonzaga. Essa mesma cultura foi pesquisada depois por Villa-Lobos, né?! A cultura dos cantadores, cordelistas, aboiadores. A minha segunda cultura, ela é do Recife, porque eu fui morar no Recife com 11 anos, e é a capital do Frevo, do Maracatu.
E aí, eu adquiri de maneira absolutamente natural, porque na frente da minha casa eu assistia os blocos. Via aquilo como criança e ficou na minha cabeça. E quando eu era menino tinha uma rádio chamada Rádio Nacional e aí era ligado e tocava samba, e aí adquiri também. Eu posso fazer um choro, posso fazer um frevo, um samba. Mas o que mais me motiva é outra história, é a cultura do sertão profundo.
E o que tem na playlist de Alceu?
Valença – Não escuto música. O meu pai não queria que eu fosse músico. Isso porque ele tinha dois irmãos muito bons que tocavam violão, cantavam, compunham. Mas não deu certo. Ele tinha medo que o filho dele também não ia dar certo. Aí na minha casa não tinha radiolas, tiravam tudo que fosse música de perto de mim. E isso ele estava fazendo pelo meu bem.
Até que quando eu fiz o vestibular de Direito e passei, aí ele deu uma radiola. Então eu me lembro assim que minha mulher, inclusive, me deu uma radiola. Mas não ouvi, não tenho mais relação. Aí veio o negócio do Spotify, eu comecei a ouvir, mas naturalmente parei, não ouço mais.