INSPIRAÇÃO
"Choro embaixo da máscara e eles não notam": O relato de Dona Beia, a Mamãe Noel que leva alegria natalina para crianças carentes
Uma história inspiradora para simbolizar a solidariedade ligada à celebração natalina. A promessa de Dona Beia virou ação social
Última atualização: 24/12/2023 08:51
Em meio à correria de dezembro, o Natal às vezes acaba associado ao movimento nas lojas e aos ícones como o Papai Noel ou a decoração. Mas a data simboliza muito mais do que isso, e não só pelo significado religioso. Convívio familiar, socialização e solidariedade fazem parte da mensagem mais fundamental da data. Muitos se dedicam a estes valores, alguns anonimamente. Hoje, destacamos uma dentre muitas pessoas que encarnam esse conjunto de virtudes.
Juvelina Nascimento Fraga, mais conhecida como Dona Beia, de 63 anos, é uma verdadeira Mamãe Noel. Há mais de 20 anos a moradora do bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, transformou a data em um momento de entrega pessoal para que crianças da vizinhança possam ter a experiência dos presentes. Recolhendo doações de comida e brinquedos, ela organiza e realiza o evento anualmente. Ela divide o que consegue providenciar.
As origens
"Consegui, caminhando de sol a sol, porta a porta eu pedia bala, pirulito, pipoca, bolacha, o que eles podiam me alcançar", relembra, ao falar do primeiro ano de festa. Sentada no sofá da sala simples em madeira, Dona Beia lembra qual a motivação inicial para começar o trabalho: os filhos. Ao falar sobre eles, hoje todos adultos, ela bate as mãos na barriga para dizer "três daqui", em referência aos meninos a quem deu à luz, para na sequência bater no peito dizendo "três daqui", em referência às duas meninas e ao menino adotados.
Natural de Coronel Bicaco, no Noroeste gaúcho, Beia cresceu trabalhando na roça com o pai, sem muito tempo para fantasias de Natal. E foi no trabalho da família que apenas aos oito anos ela teve o primeiro contato com o Papai Noel.
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"Os que podiam, compraram brinquedos e presentes pros filhos, isso eu lembro, daí chamaram o Papai Noel e arrumaram para dar os presentes. E o pai e mãe pegaram nós, na época eram só quatro irmãos, e levaram para ver o Papai Noel, mas só para ver, porque a gente não tinha nada para ganhar", lembra Dona Beia sobre um distante Natal em que os pais aproveitaram o trabalho na casa de uma família para apresentar o personagem aos filhos.
Ali, naquela madrugada, surgiu uma tradição na família de Dona Beia que serviu como forma de celebrar a data. "Me lembro de uma cuca que botaram em cima da nossa cama, e ela (mãe) chamou nós e disse assim, 'ó, Papai Noel teve aqui, só que ele não conseguiu deixar o rastro dele aqui dentro, ele deixou uma cuca para vocês'. Aquela cuca foi o nosso presente mais lindo, eu me lembro."
Uma promessa que se transformou em ação social
Anos depois, em uma visita à casa de uma tia que morava em Novo Hamburgo, Dona Beia conheceu aquele que viria a ser seu marido e pai dos seus filhos. Aos 20 anos veio o primeiro filho do casal, que nasceu em Coronel Bicaco, onde ela foi em busca da rede de apoio para o parto.
Dona Beia, que não sabe ler, conseguiu trabalhos como faxineira e auxiliar de cozinha, enquanto o esposo trabalhou a vida toda recolhendo materiais recicláveis nas ruas de Novo Hamburgo. A principal preocupação do casal era garantir o sustento dos filhos. Católica, Dona Beia mantinha a fé e fez promessa. "Pensei assim: 'eu vou ver se consigo fazer 7 anos esses docinhos aí pras crianças, se eu conseguir, que Deus vai me ajudar, nunca mais vai faltar o pão, o leite, o arroz, o feijão e a carne pros meus filhos'."
Dona Beia já auxiliava na cozinha do sopão da igreja que frequentava. Além de trabalhar, dali ela levava também uma parte da sopa para casa. "Já trazia mais verdura, mais osso, e eu aumentava em casa." Com os filhos alimentados, o que em parte Dona Beia credita a Deus, ela fez muito mais do que havia prometido. Os saquinhos de doces se transformaram em brinquedos doados às crianças. Anualmente ela recolhe cartinhas da garotada da vizinhança que são adotadas por padrinhos de toda a cidade.
Com direito até a roupa
Algo que chama a atenção na história de Dona Beia é que ela fez questão de ser a representação feminina do personagem para as crianças. "Juntei dinheiro, fui e comprei o tecido pra fazer a roupa do Papai Noel pra usar", conta ela, que até hoje segue usando a roupa, mesmo nos dias mais quentes.
"Eu nem sinto calor, mas choro quando vejo as crianças, meu coração chega a doer de alegria de ver elas", conta Dona Beia, já chorando ao lembrar as lágrimas que esconde no dia da Festa de Natal por trás da máscara da Mamãe Noel. "Choro embaixo da máscara e eles não notam. Digo assim, 'a mamãe Noel tá suando.' "
A tradição cristã fala de um Jesus nascido muito pobre e que ensinou, entre outras coisas, a importância de compartilhar. Dona Beia também é do meio humilde e conta que só sabe assinar o nome, mas não lê. E, entretanto, ela parece ter entendido profundamente o significado das escrituras.
Em meio à correria de dezembro, o Natal às vezes acaba associado ao movimento nas lojas e aos ícones como o Papai Noel ou a decoração. Mas a data simboliza muito mais do que isso, e não só pelo significado religioso. Convívio familiar, socialização e solidariedade fazem parte da mensagem mais fundamental da data. Muitos se dedicam a estes valores, alguns anonimamente. Hoje, destacamos uma dentre muitas pessoas que encarnam esse conjunto de virtudes.
Juvelina Nascimento Fraga, mais conhecida como Dona Beia, de 63 anos, é uma verdadeira Mamãe Noel. Há mais de 20 anos a moradora do bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, transformou a data em um momento de entrega pessoal para que crianças da vizinhança possam ter a experiência dos presentes. Recolhendo doações de comida e brinquedos, ela organiza e realiza o evento anualmente. Ela divide o que consegue providenciar.
As origens
"Consegui, caminhando de sol a sol, porta a porta eu pedia bala, pirulito, pipoca, bolacha, o que eles podiam me alcançar", relembra, ao falar do primeiro ano de festa. Sentada no sofá da sala simples em madeira, Dona Beia lembra qual a motivação inicial para começar o trabalho: os filhos. Ao falar sobre eles, hoje todos adultos, ela bate as mãos na barriga para dizer "três daqui", em referência aos meninos a quem deu à luz, para na sequência bater no peito dizendo "três daqui", em referência às duas meninas e ao menino adotados.
Natural de Coronel Bicaco, no Noroeste gaúcho, Beia cresceu trabalhando na roça com o pai, sem muito tempo para fantasias de Natal. E foi no trabalho da família que apenas aos oito anos ela teve o primeiro contato com o Papai Noel.
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"Os que podiam, compraram brinquedos e presentes pros filhos, isso eu lembro, daí chamaram o Papai Noel e arrumaram para dar os presentes. E o pai e mãe pegaram nós, na época eram só quatro irmãos, e levaram para ver o Papai Noel, mas só para ver, porque a gente não tinha nada para ganhar", lembra Dona Beia sobre um distante Natal em que os pais aproveitaram o trabalho na casa de uma família para apresentar o personagem aos filhos.
Ali, naquela madrugada, surgiu uma tradição na família de Dona Beia que serviu como forma de celebrar a data. "Me lembro de uma cuca que botaram em cima da nossa cama, e ela (mãe) chamou nós e disse assim, 'ó, Papai Noel teve aqui, só que ele não conseguiu deixar o rastro dele aqui dentro, ele deixou uma cuca para vocês'. Aquela cuca foi o nosso presente mais lindo, eu me lembro."
Uma promessa que se transformou em ação social
Anos depois, em uma visita à casa de uma tia que morava em Novo Hamburgo, Dona Beia conheceu aquele que viria a ser seu marido e pai dos seus filhos. Aos 20 anos veio o primeiro filho do casal, que nasceu em Coronel Bicaco, onde ela foi em busca da rede de apoio para o parto.
Dona Beia, que não sabe ler, conseguiu trabalhos como faxineira e auxiliar de cozinha, enquanto o esposo trabalhou a vida toda recolhendo materiais recicláveis nas ruas de Novo Hamburgo. A principal preocupação do casal era garantir o sustento dos filhos. Católica, Dona Beia mantinha a fé e fez promessa. "Pensei assim: 'eu vou ver se consigo fazer 7 anos esses docinhos aí pras crianças, se eu conseguir, que Deus vai me ajudar, nunca mais vai faltar o pão, o leite, o arroz, o feijão e a carne pros meus filhos'."
Dona Beia já auxiliava na cozinha do sopão da igreja que frequentava. Além de trabalhar, dali ela levava também uma parte da sopa para casa. "Já trazia mais verdura, mais osso, e eu aumentava em casa." Com os filhos alimentados, o que em parte Dona Beia credita a Deus, ela fez muito mais do que havia prometido. Os saquinhos de doces se transformaram em brinquedos doados às crianças. Anualmente ela recolhe cartinhas da garotada da vizinhança que são adotadas por padrinhos de toda a cidade.
Com direito até a roupa
Algo que chama a atenção na história de Dona Beia é que ela fez questão de ser a representação feminina do personagem para as crianças. "Juntei dinheiro, fui e comprei o tecido pra fazer a roupa do Papai Noel pra usar", conta ela, que até hoje segue usando a roupa, mesmo nos dias mais quentes.
"Eu nem sinto calor, mas choro quando vejo as crianças, meu coração chega a doer de alegria de ver elas", conta Dona Beia, já chorando ao lembrar as lágrimas que esconde no dia da Festa de Natal por trás da máscara da Mamãe Noel. "Choro embaixo da máscara e eles não notam. Digo assim, 'a mamãe Noel tá suando.' "
A tradição cristã fala de um Jesus nascido muito pobre e que ensinou, entre outras coisas, a importância de compartilhar. Dona Beia também é do meio humilde e conta que só sabe assinar o nome, mas não lê. E, entretanto, ela parece ter entendido profundamente o significado das escrituras.