Trabalhando desde a pandemia em um shopping na zona sul de Porto Alegre, a canoense Letícia Müller adotou a leitura como companheira inseparável entre as estações São Luís, em Canoas, e Mercado, na capital.
O passeio pelo mundo das letras tornava mais rápida a viagem em um período que era de tumulto e excesso de informações devido à proliferação do coronavírus no mundo inteiro.
O fim do isolamento forçado para a maioria da população, foi de retomada da maioria da população, acrescentando à rotina diária os ambulantes que se proliferaram desde o início da manhã nos vagões da Trensurb.
“Eu entendo que tem gente que sobrevive da venda de produtos, mas acontece que a gente precisa ter paciência para aguentar um depois do outro que entram nos vagões”, reclama. “É um descontrole completo”, completa.
São baterias de celulares e fones de ouvido; balas e chocolates; pipoca e salgadinhos; água e refrigerantes; além dos pedintes que, em geral, fazer um discurso antes de estender a mão por “qualquer trocado”.
Também usuário da Trensurb, o estagiário de direito Marcelo Magalhães Júnior, 23 anos, diz ser achacado enquanto aguarda o trem, na Estação Unisinos, em São Leopoldo.
“Tem aqueles que entram e saem dos vagões, o que não me incomoda muito, mas tem também aqueles que aguardam para ficar achacando a gente enquanto esperam o trem. Isso eu acho bem pior, porque a gente não tem para onde fugir”, observa.
Empurra-empurra
Com mais de 33 milhões de passageiros por ano e com uma média de 107 mil por dia, seria impossível que não houvesse um desentendimento ou outro nos vagões da Trensurb, contudo são os ambulantes que chegam às vias de fato.
Não raro, existe uma briga quando há o choque entre ambulantes em um mesmo vagão, contam os usuários. Argumentando que os vagões viraram um grande mercado, a gerente de loja Márcia Lemes, 29, conta ter sido empurrada ao descer do trem.
“Eu nem lembro o que estavam vendendo, mas sei que os caras começaram a discutir na saída da Estação Mercado”, relata. “Quando desceram, houve um empurra-empurra e, de repente, acabei sendo empurrada. É um absurdo. Imagina se caio no trilho?”
Empresa fecha olhos
Na avaliação do Sindimetrô RS, a empresa fecha os olhos para o comércio ilegal sobre os trilhos. A situação, no entanto, é complexa, conforme explica a secretária Keity Goulart. Isso porque, embora muitas pessoas não gostem, há quem defenda os vendedores ambulantes.
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“Já houve situações em que a segurança precisou agir energicamente para remover um ambulante, mas acabou se indispondo com passageiros, que defendem os vendedores como trabalhadores que só estão ali para ganhar a vida”, esclarece.
O Sindicato, no entanto, frisa que a empresa fecha os olhos para muito do que acontece nos vagões ou estações. Não porque queria, mas sim devido à situação delicada que vive por estar em uma lista de prováveis privatizações do Governo Federal.
“Se a empresa pudesse, certamente teria mais seguranças para atuar nas estações”, argumenta Keity. “No entanto, existe a questão da privatização que impede o aumento do pessoal e acaba dificultando o trabalho dos que já estão em serviço”.
Ações foram intensificadas
Por meio de nota, a Trensurb informa que a segurança metroviária age pontualmente ou quando há denúncia nos casos de comércio irregular, buscando orientar esses comerciantes no sentido de pararem de realizar essa prática proibida pelo Regulamento do Usuário. Em caso de não cumprirem as orientações, os agentes da segurança acompanham sua saída do sistema.
Há também rondas eventuais nos trens e estações a fim de coibir essas práticas e garantir a segurança no metrô. Essas ações haviam sido suspensas durante a pandemia e agora estão sendo novamente intensificadas.
A empresa informa que também está em tratativas com as administrações municipais buscando apoio no combate ao comércio irregular dessas mercadorias que, muitas vezes, não têm a procedência adequada.
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