ESTELIONATO

TEATRO DO CRIME: Golpistas criam personagens para aplicar golpe do bilhete e tiram fortuna de vítimas

Vítima de crime cometido no Vale do Sinos levou à identificação de grupo alvo de operação da Polícia Civil

Publicado em: 08/05/2023 15:07
Última atualização: 07/03/2024 16:43

Um caso envolvendo o popular golpe do "bilhete premiado", registrado em Esteio, ainda no ano de 2021, em plena pandemia, culminou em uma das maiores operações já organizadas pela Polícia Civil (PC) contra os crimes de estelionato.

Suspeitos acabaram presos em plena manhã de domingo (7) durante ação policial Foto: POLÍCIA CIVIL/DIVULGAÇÃO

A batizada Operação Illusio foi organizada no domingo (7), mirando um grupo criminoso liderado por integrantes de uma mesma família, em Passo Fundo, no interior do Estado, de onde partia a liderança da organização.

Ao todo, foram 30 prisões, garantidas por meio de nove mandados de prisão e mais 43 mandados de busca e apreensão não apenas em Passo Fundo, mas também em Caxias do Sul, Farroupilha, além de cidades em Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo.

Segundo a delegada Luciane Bertoletti, que responde pela 3ª Delegacia de Polícia (DP) de Canoas, a ofensiva foi organizada no domingo, de maneira a garantir os suspeitos fossem achados em casa, já que costumam viajar para aplicar os golpes.

Luciane aponta que pelo menos 21 vítimas já estariam na conta do grupo criminoso, com um prejuízo total em torno de R$ 1 milhão. Somente uma vítima perdeu R$ 360 mil durante uma transação no qual os criminosos montaram um "teatro" para ludibriá-la.

"Esse grupo entrou no radar da Polícia Civil quando eu ainda trabalhava como titular da Delegacia de Polícia de Esteio", lembra. "A investigação foi complexa, mas conseguimos identificar os suspeitos e modo como agiam para enganar as vítimas".

Conforme a delegada, não é possível saber ainda a quantidade exata de pessoas que acabaram enganadas e lesadas pelo grupo, sendo que, além dos registros que existem, há crimes que não entraram no radar da polícia devido ao constrangimento de algumas vítimas.

"Identificamos 30 suspeitos que atuavam em todo o Brasil fazendo vítimas", aponta. "A liderança desse grupo já está na terceira geração de golpistas. Por isso eles têm condição financeira boa, vivem em boas legais, com bons carros na garagem".

Como agiam os criminosos?

O "golpe do bilhete" consiste em fazer a vítima acreditar que está diante de um milionário, quer dizer, de uma pessoa com baixa instrução que está com um bilhete de loteria premiado e que não sabe como resgatar o prêmio. Com isso, a vítima, em troca de receber como recompensa parte do prêmio, é induzida a fornecer dados bancários e um valor como garantia em benefício do portador do bilhete.

"Na execução do golpe os criminosos utilizam veículos e, pelo menos, três personagens", esclarece a delegada. "Um deles anda mal vestido e interpreta uma pessoa do interior, com baixo grau de instrução, e sotaque característico. Em algumas oportunidades esse papel e interpretado por uma mulher com barriga de gravida ou por um homem mais velho. Esse individuo pobre e sempre o detentor do falso bilhete premiado."

Conforme a apuração, assim que a vítima é escolhida, existe a abordagem do "pobre homem" ou "pobre mulher" pedindo ajuda para receber o prêmio. Em algum momento da conversa, surge um segundo estelionatário, que simular estar passando pelo local. Esse mostra um grau de instrução maior e diz até ser amigo de um funcionário da Caixa Econômica Federal.

"O segundo estelionatário alega ter um amigo que é gerente da Caixa Econômica Federal e faz uma ligação colocando o telefone no viva-voz. Um terceiro comparsa atende, reforçando a historia do bilhete premiado ao confirmar o resultado do concurso, mas diz serem necessárias duas testemunhas para receber o prêmio. Então o estelionatário do interior pede ajuda ao comparsa e a vítima, dizendo que presenteará cada um com R$ 100 mil".

É ao fornecer os dados bancários aos golpistas que o crime é concluído, sempre com a vítima passando valores para contas de criminosos.

São 222 casos por dia no RS

Após a explosão de casos durante a pandemia, o primeiro trimestre deste ano registrou queda nos estelionatos no Rio Grande do Sul. Foram 19.989 registros desse tipo de ocorrência entre janeiro e março – o número representa 16,2% a menos do que no primeiro trimestre do ano passado. Mesmo com a redução, uma média de 222 casos por dia chegam a ser registrada no RS, conforme a Secretaria Estadual da Segurança Pública.

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