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Três semanas inundado

"Se não trouxerem as bombas, o Mathias Velho vai seguir debaixo d’água", afirma bombeiro

Apesar do recuo, água permanece acumulada na maior parte do bairro; chuva faz crescer a angústia de quem quer voltar para casa

Publicado em: 23/05/2024 às 12h:16 Última atualização: 23/05/2024 às 12h:18
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Com olhar compassivo, Odair Castro Júnior, 43 anos, arrasta uma pequena embarcação. No barco, estão eletrodomésticos que acredita terem “salvação”. A chuva forte, no entanto, acaba molhando mais os aparelhos.

Situação no bairro Mathias Velho permanece preocupante, após três semanas, devido ao recuo lento da água, segundo os moradores



Situação no bairro Mathias Velho permanece preocupante, após três semanas, devido ao recuo lento da água, segundo os moradores

Foto: PAULO PIRES/GES

“Eu não sei quando é que vai ser possível entrar na casa de novo”, suspira ao dizer o metalúrgico. “O negócio é entrar em casa só para tirar o que a gente acha que vai dar para aproveitar”, acrescenta.

Canoas acaba de completar três semanas da inundação que atingiu a cidade e, embora o movimento seja de retorno de pessoas para casa após o recuo da água, há áreas que permanecem inundadas.

Bairro mais populoso de Canoas, o Mathias Velho segue com uma situação crítica, já que desnível do bairro faz com que a água se concentre em muitos pontos considerados como “panelões” onde a água não baixa.

Na área central, nas imediações da Estação Mathias Velho, a água mostra um lento recuo para angústia de moradores, comerciantes e lojistas que seguem acompanhando o drama à distância.

O aposentado Tadeu Moreira, 69 anos, cumpre uma rotina diária para tentar entrar em casa. Morador da Rua Rio de Janeiro há quatro décadas, disse ter conseguido escapar somente com a roupa do corpo e o carro.

“É uma angústia diária”, desabafa. “Eu pego o carro e venho todos os dias para ver se consigo chegar em casa, mas nunca dá. Será que não poderia ter um barquinho da Defesa Civil para ajudar a gente a se aproximar mais de casa?”, argumenta.

Também longe de casa desde o início do mês, Gabriel Santana, 48 anos, diz ser lamentável que os moradores do bairro não observam qualquer movimento das bombas de sucção necessárias para escoar a água.

“A água está descendo, mas lentamente, porque parece que a Prefeitura de Canoas só está preocupada com o bairro Rio Branco”, reclama. “Todas as bombas acabam lá e o tempo vai passando e o Mathias Velho continua debaixo d’água”.

Odair Júnior tenta recuperar eletros após conseguir entrar em casa na manhã desta quinta-feira (23)



Odair Júnior tenta recuperar eletros após conseguir entrar em casa na manhã desta quinta-feira (23)

Foto: PAULO PIRES/GES

Ficou o prejuízo

Em paralelo ao drama vivido por quem ainda não consegue chegar em casa, há outro daqueles que aos poucos vão regressando após o recuo que aconteceu perto da Avenida Guilherme Schell.

O rastro de destruição deixado pelas águas – com muros, portões e até paredes caídas – é visível e, além dele, há o acúmulo de lixo e entulhos nas vias onde já é possível retornar.

Proprietário de uma marcenaria, Fábio Paim, 40 anos, conseguiu retornar ao negócio nesta quinta-feira (23), quando deu início ao trabalho de descarte e limpeza no negócio que mantinha no bairro há quase uma década.

Acabou depositando em frente ao estabelecimento todo o maquinário e madeiramento que não conseguiu tirar durante o pior período da enchente. Ele conta que não teve tempo ainda para contabilizar o tamanho do prejuízo.

“Tentei salvar as máquinas da água, mas não sei se vai dar para arrumar, porque o problema é a lama acumulada nas engrenagens”, explica. “Não fiz conta, mas acredito que o prejuízo é total”.

É preciso bombas para escoamento

Fazendo parte de um grupo de bombeiros catarinense oriundo de Joinville, o bombeiro Késio Michel auxilia há semanas nos resgates em Canoas, onde acompanha de perto o drama vivido pela população.

À reportagem do DC, ele explicou que o recuo das águas do Rio dos Sinos é lento, porque a própria natureza não vai conseguir remover as águas tão cedo em meio ao clima instável do Rio Grande do Sul.

“Se não trouxerem as bombas, o Mathias Velho vai seguir debaixo d’água”, destaca. “Um dia faz um solão e, no outro, volta o frio e a chuva. Se não for com máquinas, essa água vai demorar muito a sumir”.

Ainda segundo o bombeiro, prejudica o próprio desnivelamento do terreno, que alterna áreas altas com outras extremamente baixas, onde há mais acúmulo de água desde o início da inundação.

“A gente repara uns panelões onde a água está mais concentrada e outras áreas bem mais secas em que a água bate na canela”, esclarece. “Isso também dificulta bastante a situação do bairro”.

Estrada de acesso

Por meio de assessoria de comunicação, a Prefeitura de Canoas informa que começou, nesta quarta-feira (22), a construção da estrada de serviço necessária para que as equipes da Secretaria Municipal de Obras (SMO) possam acessar o ponto rompido do dique do Mathias Velho e efetuar os trabalhos de instalação de bombas.

Ainda segundo a administração, a via começa junto à BR-448, próximo à empresa Bianchini, e se estende até a rua Martin Luther King, onde o dique teve uma ruptura de 50 metros de largura. Só foi possível iniciar a construção da estrada de serviço após o nível dos rios baixar o suficiente para que a obra pudesse ser iniciada.

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