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Quilombo Chácara dos Rosa luta para preservar sua história e conquistar mais qualidade de vida

Realidade dos quilombolas foi traduzida em dados pelo Censo de 2022

Publicado em: 29/07/2024 às 14h:29 Última atualização: 29/07/2024 às 17h:40
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Dados do Censo de 2022 liberados pelo IBGE traçam as características das populações quilombolas brasileiras. As informações, divulgadas em julho deste ano, revelam que as comunidades ainda sofrem com falta de recursos básicos, como saneamento, e enfrentam dificuldades na área da educação.

O quilombo Chácara dos Rosa, em Canoas, recebeu a titulação em 2009



O quilombo Chácara dos Rosa, em Canoas, recebeu a titulação em 2009

Foto: Paulo Pires/GES

Em Canoas, o quilombo Chácara das Rosas foi titulado em 2009, quando o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) reconheceu o direito dos quilombolas sobre o território. Líder do quilombo, Giane Sanchez, de 36 anos, mora ali desde que nasceu. 

A Chácara das Rosas está relacionada à comunidade quilombola Manoel Barbosa, em Gravataí, e vinculada também ao quilombo Chácara Barreto, que fica no bairro Niterói, em Canoas.

“Nossa comunidade tem uma história de mais de 90 anos, uma história forte e de muita luta. Nosso bisavô lutou na guerra e fez parte dos Lanceiros Negros”, conta Giane. Mesmo com sobrenomes diferentes, as 30 famílias que moram no terreno se tratam como irmãs. 

Giane e Eduardo mostram a parede que conserva história do quilombo



Giane e Eduardo mostram a parede que conserva história do quilombo

Foto: Paulo Pires/GES

Das construções históricas, restou uma parede no centro de Matriz Africana. No terreno, a diversidade de religiões faz parte do convívio entre os moradores: além do terreiro, há uma igreja, e muitos quilombolas são evangélicos ou católicos. “Temos bastantes seguidores, alguns de dentro do quilombo e vários de fora. O respeito se mantém entre todos”, conta o chefe de terreiro Eduardo Genelicio, 23 anos.

Quilombolas convivem com dificuldades de moradia

Ao todo, cerca de 80 pessoas vivem no local. Outras seis famílias de origem quilombola moram no bairro Fátima. Em 2007, casas e estruturas foram construídas no quilombo a partir de um programa de habitação do governo federal, mas Giane conta que obras de manutenção da infraestrutura não foram realizadas. 

“A comunidade é desassistida em relação ao saneamento básico. Como as tubulações estão quebradas, o esgoto fica a céu aberto”, descreve a líder comunitária.

De acordo com os dados do Censo de 2022, 90% dos quilombolas em territórios delimitados convivem com precariedades no saneamento básico. O IBGE considerou dificuldades como falta de abastecimento de água e de coleta de lixo, bem como destinação inadequada do esgoto.

A comunidade também encontra obstáculos para apresentar reinvindicações à Prefeitura. “No começo, quando o título do quilombo era novidade, os olhos públicos estavam aqui. Agora não tem ações e não somos recebidos”, diz Giane.

Embora a área não tenha sido atingida pela enchente, quilombolas que residem no bairro Fátima foram acolhidos pelas famílias da Chácara das Rosas. “Minha tia e minha irmã perderam tudo, e acolhemos eles aqui, mas a comunidade não tinha como abrigar todo mundo. Já vivem mais pessoas do que cabem no espaço das casas”, relata a líder quilombola.

Luta pelo pertencimento e pela educação

As gerações mais jovens de quilombolas enfrentam adversidades para se manter na escola. “A maioria dos jovens sai cedo da escola para poder trabalhar e ajudar os pais, mesmo que esse não seja o desejo dos pais”, conta. 

O Censo de 2022 levantou dados que demonstram que a taxa de analfabetismo entre a população quilombola é quase três vezes maior do que o índice registrado na população geral.

O preconceito é outro fator que afasta os mais novos das salas de aula. “Lutamos muito para que eles se reconheçam como quilombolas, mas há um preconceito muito grande por ser negro e ainda maior por ser quilombola. Eles acabam não querendo se identificar”, lamenta Giane.

A preocupação também é relacionada à preservação da cultura e da história quilombolas. Muitos jovens acabam deixando a comunidade assim que crescem e começam a trabalhar.

O que diz a Prefeitura

A Coordenadoria de Igualdade Racial, Povos Originários e Imigrantes de Canoas afirma que a comunidade Quilombo Chácara das Rosas é atendida por ações de assistência social, inserção no mercado de trabalho, saúde e limpeza do terreno. “Uma vez por mês é feito serviço de hidrojateamento e limpeza da tubulação na área. Em relação à questão do saneamento, a Prefeitura busca recursos junto a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), que abriu processo seletivo para projetos de saneamento em comunidades tradicionais (Portaria 937, de 2 de julho de 2024)”, afirmou a pasta, em nota.

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