CONEXÃO

Quilombo Chácara das Rosas está conectado em Canoas

Comunidade canoense é a primeira a contar com a rede após parceria

Publicado em: 10/04/2023 09:28
Última atualização: 04/03/2024 10:45

Uma comunidade quilombola situada no coração de Canoas cultiva sua cultura e também olha para o futuro. Composta por diversos descendentes de Manoel Barbosa, que lutou na Guerra do Paraguai, o Quilombo Chácara das Rosas conta agora com internet gratuita para a comunidade. "Nós entendemos que inclusão digital é inclusão social", explica a coordenadora do projeto Conecta Quilombos, Ivonete Carvalho.

A conexão da comunidade Chácara das Rosas com a internet só foi possível pelo aporte de R$ 60 mil do Ministério Público do Trabalho (MPT). Os recursos foram investidos no projeto coordenado por Ivonete. "São valores oriundos de autuações trabalhistas e revertidos na compra de equipamentos. A instalação dentro do quilombo proporciona o acesso para as cerca de 30 famílias que vivem no local.

Criançada passa a ter maior contato com a informática no quilombo canoense Foto: FOTOS PAULO PIRES/GES

Moradora do quilombo, Beatriz Sanches, 59 anos, diz que todos estão utilizando o serviço. "É um privilégio, as crianças usam para estudar, os adultos também. E podemos ficar conectados com o mundo, estamos adorando." Sobre a velocidade, Beatriz afirma que não há o que reclamar. "É rápida, muito boa."

Além de Beatriz, quem também aprovou a novidade foi a pequena Maria, de 6 anos. "Uso bastante para olhar desenho e estudar." Giane Sanchez dos Santos, coordenadora do quilombo, afirma que a rede é fundamental para a educação das crianças. "Na pandemia era bem difícil o acesso para eles poderem estudar. Muitos reprovaram por falta de entrega de trabalhos e provas porque não tinham internet em casa."

Se para as crianças o estudo foi o principal benefício, para Giane, a internet facilitou a comunicação entre as comunidades e lideranças quilombolas. "Agora podemos conversar, definir estratégias, melhorou muito."

Aulas para aumentar a inclusão

A comunidade de Canoas foi a primeira a receber a ação. No entanto, a ideia é estender para outros quilombos do Rio Grande Sul. Sendo assim, o projeto Conecta Quilombos segue em busca de mais parcerias para concretizar o objetivo.

Já a moradora mais antiga do Chácara das Rosas, Dona Maria do Carmo, 87 anos, conta que vai ter aulas para usar o computador. "Ainda não sei mexer, estudei apenas até o 2.º ano e agora vou voltar também aos estudos", garante a matriarca. Dona Maria saiu de Gravataí aos 9 anos e desde então vive em Canoas, desde o início do quilombo.

O quilombo, de acordo com Giane, conta com dois pontos fixos de internet e mais quatro roteadores. "Assim todas as famílias podem ter acesso sem nenhum problema." Aulas de informática também são programadas para os moradores da comunidade canoense.

Como funciona a parceria com o MPT-RS

Conforme a procuradora do MPT-RS, Márcia Medeiros de Farias, o financiamento de projetos como este visa à reparação dos danos morais coletivos decorrentes de descumprimento de normas trabalhistas. "Por meio dessas reversões é possível uma compensação dos danos ocorridos na sociedade pela irregularidade cometida, de uma forma mais rápida e eficaz, uma vez que as entidades sem fins lucrativos atuam diretamente nas comunidades."

Já o acesso às verbas é feito através de um cadastro de projetos sociais. "Quaisquer entidades sem fins lucrativos ou órgãos públicos podem inscrever um projeto e ficar aptos para receber as destinações."

O MPT reitera que ao receber o benefício, as entidades beneficiadas se obrigam a fazer uma prestação de contas de todo o valor destinado. "Após estar cadastrada, a escolha da entidade se dará, principalmente, em razão de quem será beneficiado com o projeto, em razão de qual o dano cometido pela empresa. A prioridade é sempre beneficiar a parte da sociedade que foi lesada", conclui.

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