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"Quando a água vai baixar?", questiona morador do Rio Branco

Pesadelo da residência alagada segue para uma parcela da população atingida pela enchente em Canoas

Taís Forgearini
Publicado em: 29/05/2024 às 18h:22 Última atualização: 29/05/2024 às 18h:25
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Após quase um mês da enchente, o pesadelo da residência alagada segue para uma parcela dos moradores atingidos em Canoas. Ruas em bairros como Rio Branco e Mathias Velho apresentam pontos com água próximo à altura do joelho. Uma das perguntas mais ouvidas nas ruas tem sido “quando a água vai baixar?” Das 49 motobombas anunciadas pela Prefeitura, até a tarde desta quarta-feira (29), o município registrava 29 em operação. Os equipamentos são apontados como peças fundamentais para o escoamento das águas.

Rio Branco registra diversas ruas alagadas



Rio Branco registra diversas ruas alagadas

Foto: Paulo Pires/GES

Segundo o secretário municipal de Obras, Guido Bamberg, a morosidade na instalação e funcionamento das motobombas ocorreu devido ao expressivo volume de chuva e a questões de logística. “São motobombas muito pesadas, entre uma e oito toneladas cada. O peso varia conforme o tamanho e modelo, porém, todas necessitam de apoio logístico. Para o transporte e auxílio da instalação são necessários caminhões munck. Nas últimas semanas, o alto volume de chuva também dificultou o processo, a falta de acesso em algumas localidades também”, diz o titular da pasta.

Bamberg afirma que até o fim de semana serão finalizados os trabalhos de instalação das motobombas locadas e emprestadas. “Nossa meta é reduzir os pontos alagados para o mínimo possível. Estimamos que, na próxima semana, haverá apenas bolsões de água em pontos específicos. Também estamos finalizando hoje o fechamento do dique do Mathias Velho.”

Situação desastrosa

“Canoas vive problemas em cascata”, frisa o engenheiro ambiental e doutorando em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Iporã Possanti.

Segundo o especialista, a falha no sistema de contenção do rio dos Sinos, responsável pela inundação, desencadeou uma série de outras questões desastrosas. “A água começou a verter por cima dos diques, ou seja, ultrapassou a estrutura, gerando rompimentos gravíssimos. A partir disso, as águas entraram na área de proteção das casas de bombas que foram diretamente afetadas e deixaram de efetuar a drenagem e o escoamento das águas”, observa.

Para Possanti a demora na instalação das motobombas prejudica a retomada das operações nas casas de bombas fixas. “Sem as casas de bombas em pleno funcionamento, qualquer chuva vai impactar negativamente a situação. Elas são fundamentais para escoar a chuva”, opina.

Canoas está apenas com a casa de bombas número dois operando 100%, os números um, três, sete e oito operam parcialmente. Já as casas quatro, cinco e seis seguem inacessíveis.

Além dos alagamentos, a cidade registrou inundação em diversos pontos da cidade. “A inundação ocorre quando as águas dos rios extravasam, já os alagamentos são em decorrência das águas das chuvas que não foram escoadas”, explica o Possanti.

O engenheiro ambiental alerta que o Município precisará efetuar um plano estrutural e de prevenção para desastres naturais com urgência.

Moradores clamam por soluções céleres

Morador do Rio Branco, o comerciante Valtair Neves, 58 anos, reclama porque não há bomba de sucção que esteja em operação na área. Parece até que a Prefeitura de Canoas está esperando a água evaporar.

Moradores estão há quase um mês longe de casa



Moradores estão há quase um mês longe de casa

Foto: Paulo Pires/GES

“Quando que a água vai baixar? Será que não sabem que essa água toda não vai sumir sozinha?”, argumenta. “Se eles não conseguirem uns motores pesados para levar essa água, a gente vai continuar longe de casa”, reclama.

A reclamação existe também para quem está tentando retomar a moradia. Márcia Oliveira, 51 anos, disse entender que a tragédia atingiu o Estado, mas lamenta que grande parte do bairro continue debaixo d’água.

“A gente conseguiu voltar e começar a limpeza, mas é muito triste que a maioria dos vizinhos continue longe pela falta de acesso”, opina. “Porque já passou um mês e a situação não mudou”.

O sentimento de impotência dos moradores tem aumentado perante a falta de recuo das águas.

*Colaborou Leandro Domingos

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