A professora de Educação Física Andressa Pinto Soares, 36 anos, agora dá nome a brinquedoteca da Escola Municipal Jerônimo de Albuquerque, localizada no Partenon, em Porto Alegre. Ela morreu em janeiro deste ano em decorrência de uma pneumonia. A inauguração da brinquedoteca foi no dia 6 de setembro.
Foto: Acervo/Família Soares
Andressa dava aula na escola há dois anos e o lugar não tinha espaço para os alunos brincarem e fazerem outras atividades quando estava chovendo ou fazendo muito calor. A diretora e os familiares contam que ela pediu várias vezes pelo espaço e estava sempre comprando brinquedos e jogos para os alunos.
“Ela chegava na minha sala e dizia ‘Oh, Mary, não dá, tem que fazer alguma coisa’. Aí ela começou a se mobilizar para reunir os brinquedos, jogos”, lembrou a diretora da escola, Mary Angela Rocha da Costa.
“Ela comentava que em dia de sol era horrível porque não tinha como sair com eles para a rua. Não tem um jogo lá dentro. E aí nós íamos ali no Centro de Canoas comprar uns jogos de dama e ela levava”, contou a mãe da Andressa, a comerciária aposentada Marli Pinto Soares.
A brinquedoteca ia começar a ser organizada durante as férias escolares junto com as professoras Gêssica Barcellos e Clarissa Guedes, e com a vice-diretora Fabiane Copetti. Porém, a professora Andressa ficou doente em dezembro do ano passado, falecendo no início deste ano.
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Mas o projeto permaneceu com um novo propósito. A diretora Mary enviou um áudio para o marido de Andressa, o diretor de escola Robson Rogério Silva da Silva, falando sobre continuar com a ideia da brinquedoteca e de nomeá-la Andressa Pinto Soares. Robson repassou o áudio para os pais e a irmã da Andressa.
“Fiquei bem feliz, bem contente com a ideia. Foi um motivo para seguir em frente”, afirmou Robson. “Quando nós ouvimos esse áudio, foi um bálsamo no momento. Porque a gente entendeu que através daquilo ali podíamos ressignificar”, confessou a mãe.
Hora de colocar em prática
A irmã de Andressa, a publicitária Vanessa Soares, criou uma página no Instagram (@brinquedoteca_andressa) para conseguir arrecadar os itens para o preencher o espaço. As doações foram organizadas pela família. “Umas 200 pessoas ajudaram. A maior parte doou brinquedos, livros, jogos. O dinheiro foi usado em puffs para as crianças também terem um lugar de descanso”, explicou.
Foto: Vanessa Soares/Divulgação
“O mais legal é que as pessoas não deram as sobras. As pessoas deram brinquedos bons”, ressaltaram. “Eu me emocionava quando eu via porque eram brinquedos que as mães cuidaram para dar para alguém especial, e deram para alguém especial mesmo”, destacou Marli.
“A única coisa que veio a mais e não conseguimos usar lá foram livros que não eram para crianças. Aí demos para outras escolas”, afirmou o pai de Andressa, o comerciário aposentado Carlos Nunes Soares.
Foto: Acervo/Família Soares
“É como se a gente conseguisse fazer alguma coisa por ela. É como se um pedacinho estivesse aqui. Continuar com essa vontade que ela tinha de ajudar as crianças”, declarou Robson.
O espaço da brinquedoteca também foi revitalizado com pintura e decoração. A inauguração foi adiada por conta da enchente, já que a escola serviu de abrigo. Alguns dos brinquedos foram doados para as crianças abrigadas também em Canoas.
Foto: Vanessa Soares/Divulgação
A inauguração aconteceu no dia 6 de setembro, nos dois turnos de aula para que todos os alunos pudessem participar. O espaço conta com camarim, cozinha, mesas e cadeiras, fantasias, máscaras, jogos e brinquedos diversos para os 350 alunos da escola municipal. A festa também teve cachorro-quente e docinhos.
“As crianças estão tendo a oportunidade de brincar de boneca, casinha, cozinha. Está sendo bem bacana. Os professores estão gostando bastante também “, ressaltou a diretora. No dia, a família da professora também recebeu um presente especial: os alunos criaram o “Saquinho da Saudade” com desenhos e mensagens para Andressa.
Foto: Nicole Goulart/Especial
O presente está guardado na casa, sempre a disposição para ser apreciado. “Nós fomos montando, mas não imaginávamos o tamanho da alegria das crianças, gritando o nome da Andressa. É um sentimento que não tem tamanho”, afirmou Marli.
Motivação
Para a família da professora fica a vontade de passar para a frente. “A ideia inicial era montar uma brinquedoteca. E ao longo do processo pensamos em levar para outras escolas”, afirmou o marido.
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“Isso significa uma continuação. A gente vai continuar mantendo ela, pensando no que elaborar já. Tem o Dia das Crianças. Além disso, a ideia é continuar cuidando, mantendo de alguma forma o que foi colocado lá para que permaneça”, explicou a mãe.
Foto: Nicole Goulart/Especial
Segundo Vanessa, o projeto é uma forma de honrar a irmã. “Ao invés da gente ter só tristeza, que possamos também usar um pouco desse saudosismo, dessa saudade, para refletir o que fez aqui, que foi alegria”, comentou a irmã.
A mãe de Andressa espera que outras pessoas possam se motivar a criar e participar de iniciativas como a da brinquedoteca. “A nossa [motivação] foi pela dor, mas que a de outras pessoas seja pelo amor, só pelo amor, que outras crianças pudessem ganhar, que pudesse acontecer isso em outras escolas”.
O marido acredita que essa foi a melhor forma de homenagear o trabalho e dedicação da professora pela escola. “Isso seria o maior legado deixado pela Andressa”, concluiu Robson.