Vocês ficaram desabrigados? Tiveram perdas materiais? Receberam algum auxílio? Como estão as saúdes física e mental? Estas são algumas das perguntas feitas frequentemente para a população afetada pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio. Desta vez, os questionamentos têm um público-alvo específico e podem trazer resultados.
O projeto Envelhecer nos Territórios SOS RS está realizando cerca de 400 entrevistas com pessoas idosas em Canoas desde terça-feira (12) até a segunda semana de dezembro. O objetivo da pesquisa é traçar o perfil deste grupo para auxiliar na elaboração de políticas públicas.
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Os 20 agentes de campo, que são estudantes de ensino médio e superior do campus Canoas do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS Canoas), vão aplicar um formulário de 23 perguntas sobre saúde, alimentação, rede de apoio, finanças, moradia e impactos durante e após as enchentes.
Entre eles, está o estudante do ensino médio técnico João Vítor Dorneles, 17 anos, que começou a aplicar o formulário com os seus avós, os aposentados Wilson e Lucina Dorneles, de 79 e 80 anos, respectivamente. O casal morador da Rua República, no bairro Mato Grande, desde 1969 viu a água subir 1,15 cm e estragar os móveis, eletrodomésticos e roupas.
“Nos sentimos mal, muito mal”, relembra Wilson. “No início não queríamos sair. Não levamos nada porque achávamos que não era sério. Mas acho que nós nos recuperamos bem, ficamos nas casas dos filhos com os netos”, conta Lucina.
Ver de perto a situação dos avós influenciou João a ser um agente do projeto. “Por entender o que eles passaram e por saber que tem idosos que estão sozinhos, que estão distantes da família, me motivou a participar”, explica.
“Eu vejo poucos idosos dando depoimentos. Vejo as pessoas indo, olhando a situação, mas não ouvindo o que eles têm a dizer e ainda tem pessoas que estão sofrendo. Então, é importante ter essas informações”, observa o estudante que vai visitar outras casas no bairro Mato Grande.
Para os aposentados, suas respostas na pesquisa podem ter um impacto positivo. “Achei interessante ele nos entrevistar. Pode ser que isso ajude outras pessoas que estão precisando”, ressalta Wilson com apoio de Lucina.
Ajudar de alguma forma
Além de ter um público-alvo na pesquisa, o projeto também buscou agentes que foram afetados ou que se voluntariaram para ajudar em abrigos. Assim como João, a motivação precisou ser argumentada em uma carta apresentada durante o processo seletivo, aberto em setembro.
Segundo a coordenadora do projeto, Aline Muniz, a ideia é que os estudantes atuem dentro dos seus próprios bairros e a familiaridade com os vizinhos pode ajudar a encontrar o público-alvo da ação. Entre os 400 entrevistados, cerca de 180 foram indicações da Coordenadoria da Pessoa Idosa de Canoas – parceira do projeto. O número restante deve ser preenchido pelos agentes.
“Um dos principais objetivos é ver como está a população passado esses seis meses. Poder verificar se sofreram violações de direitos, quais serviços estão com dificuldade de acessar, por exemplo”, explica.
Após as entrevistas, os dados serão analisados para o desenvolvimento de um relatório técnico, de acordo com Aline. “As informações vão ajudar na elaboração de políticas públicas que ajudem a sanar essas dificuldades”, afirma.
Conforme informado pelo IFRS Canoas, a intenção da pesquisa é planejar um monitoramento, através de um plano de trabalho que oportunize o acesso a serviços e programas pela população idosa da cidade. Para a coordenadora, a iniciativa é uma forma de colocar a instituição à disposição das pessoas. “O IF foi abrigo durante as enchentes. Acredito que a pesquisa é uma forma de contribuir com a comunidade, ser mais efetivo”, completa.
Iniciativa federal
O projeto Envelhecer nos Territórios SOS RS tem como referência o projeto Envelhecer nos Territórios, da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas Idosas, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, que forma agentes de Direitos Humanos da Pessoa Idosa.
No Estado, o foco está em construir uma rede de apoio emergencial. Além da pasta federal, a iniciativa é realizada com apoio da Secretaria Especial da Coordenadoria da Pessoa Idosa de Canoas.
A pesquisa abrange 27 municípios atendidos pelo IFRS e pelo Instituto Federal Sul-riograndense (IFSul). Todos os agentes estão identificados com crachás da instituição. Durante a entrevista, que pode ser realizada no portão das residências, nenhum número de documento será solicitado ao participante da pesquisa. Dúvidas com relação à identificação dos agentes podem ser encaminhadas ao número WhatsApp do Campus Canoas (51) 3415 – 8200.
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