SEM ÁGUA PARA LIMPAR
"Os caras da Corsan aparecem com água como se fizessem favor"; morador fala sobre o desabastecimento em Canoas
Por conta do desabastecimento, carros da concessionária estão nos bairros distribuindo água potável para auxiliar população que está voltando para casa no bairro Fátima
Última atualização: 22/05/2024 14:08
A água continua recuando nesta quarta-feira (22), o que permite o retorno de parte da população que precisou saiu de casa após as inundações que atingiram Canoas no início do mês.
A volta tem sido marcada pelo rastro lamacento da destruição e o consequente prejuízo causado pelas cheias, cenário que a falta de água torna pior para quem está buscando um recomeço.
O bairro Fátima é um dos primeiros a ser novamente habitado, com grande movimentação da população desde a manhã de segunda-feira (20), quando a água baixou próximo à Estação Fátima.
O segurança Carlos Lago, 53 anos, conta que o prejuízo acabou sendo quase total. Ele conseguiu salvar somente uma bicicleta que estava em casa no momento em que a água subiu na Rua Cairu.
“Tinha um rapaz passando e enchendo os potes e vasilhas que a gente consegue com um tanque, mas é muito pouco”, lamenta. “A gente precisa de muita água para limpar toda a lama acumulada em casa.”
Como “solução” momentânea, caminhonetes da Corsan podem ser vistas circulando pelos principais pontos onde a água baixou no Fátima, abastecendo qualquer tipo de tanque que possa ser enchido.
O aposentado Sérgio Corrêa, 60 anos, garantiu um tanque que ele vem enchendo desde o início da semana para conseguir tirar a lama. O trabalho, contudo, tem sido feito à prestação.
“Eu limpo enquanto tem água. Então eu paro, retomo quando consigo água de novo e assim vai”, relata. “É triste, mas os caras da Corsan aparecem com água como se fizessem um favor, como se isso não fosse o mínimo”, reclama.
Necessidade
Quem circula pelo Fátima, pode observar moradores levando para a frente de casa tanques improvisados, galões de água, baldes e bacias visando conseguir alguma água potável.
Diante do quadro de extrema necessidade, já observado há dias por moradores da parte não inundada de Canoas, há quem grite, corra e faça sinal com os braços para ser atendido.
Proprietário de uma oficina, André Santos, 47, opina que, embora não seja a melhor das soluções, a água que tem sido fornecida pela Corsan é melhor que nada, razão pela qual ele tem orientado vizinhos a conseguir tanques.
“O serviço de distribuição começa bem cedinho, mas tem que chamar eles no grito ou abanando”, explica. “Eles enchem o que tiver na frente de casa. A gente sabe que está longe do ideal, mas já ajuda quem está nesta situação.”
Entulhos
Seguindo o planejamento da Prefeitura de Canoas divulgado no início da semana, o trabalho das equipes de limpeza segue forte, com o recolhimento das toneladas de entulhos reunidos em frente às casas.
Pelas calçadas, é possível observar não somente móveis e eletrodomésticos, mas também objetos pessoais que acabaram destruídos ao ficar submersos em “água de esgoto”, conforme afirma o aposentado Henrique Santos.
“Entrei em casa ainda na semana passada com água pela cintura”, lembra o ex-professor de 61 anos, que mora na Rua Bartolomeu de Gusmão. “Tinha uma água preta de esgoto em cima de tudo. Não serve mais nada. Tudo lixo que os caminhões estão levando”.
ETA Rio Branco em operação
A Estação de Tratamento de Água (ETA) Rio Branco, a maior de Canoas, entrou em operação nesta terça-feira (21). Os equipamentos danificados pelas cheias vinham passando por reparos e limpeza, segundo a concessionária.
A expectativa agora é de que, nos próximos dias, os reservatórios já estejam com volume adequado de água tratada para começar a chegar às torneiras nas regiões do lado oeste da cidade, onde a enchente já baixou.
Inicialmente, a estação está tratando cerca de 750 litros de água por segundo, o que representa quase o total de sua capacidade, de 900 litros por segundo.
Porém, este volume já será suficiente para atender as partes secas dos bairros Fátima, Mato Grande e São Luís, além de auxiliar no abastecimento da parte leste de Canoas, não atingida pelas cheias e que hoje abriga cerca de 80% da população.