A movimentação em frente ao Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC), na manhã desta quarta-feira (5), é semelhante aquela vista nos bairros atingidos pelas cheias de maio: retirada de material e acúmulo de entulhos.
A diferença, entretanto, é que entre os materiais sendo levados para a frente da fachada estão insumos e materiais antes usados para salvar vidas. O HPSC, afinal de contas, é referência em traumatologia na região.
Segundo o diretor técnico do HPSC, Álvaro Fernandes, a faxina mesmo ainda nem começou. O que está sendo retirado da casa de saúde é somente material espalhado para permitir a circulação pelas áreas do hospital.
“O trabalho de limpeza e higienização será iniciado em breve, mas antes precisamos conseguir ao menos acessar as áreas do hospital, que estavam obstruídas por materiais que permaneceram semanas boiando na água”, explica.
Conforme Fernandes, a estimativa inicial, antes mesmo da água baixar, era que seriam necessários três meses de trabalho para que o Hospital de Pronto Socorro de Canoas conseguisse retomar atividades. Hoje, no entanto, a perspectiva é mais realista. “O presente de Natal seria entregar o HPSC de volta à população”, diz diretor. “Porque agora que entramos, e avaliamos o tamanho do estrago, acreditamos serem necessários, no mínimo, seis meses de trabalho”.
O dinheiro necessário para reestruturar o hospital também deve ultrapassar os R$ 35 milhões inicialmente previstos, já que equipamentos, mobiliário e toda a estrutura elétrica acabou danificada.
“Não há um cálculo exato ainda, porque ainda estamos recebendo técnicos para avaliar os prejuízos, mas hoje já é possível imaginar um montante entre R$ 37 e 40 milhões para que o HPS volte a operar como antes”, aponta.
Existe a necessidade, observa o diretor, que o Governo Federal se sensibilize que esse não é um hospital somente de Canoas, sendo referência para 102 municípios da região e atendendo até 2 milhões de pessoas.
“Nossa equipe de traumatologia operava milagres, mas precisamos retomar essa estrutura”, afirma. “E para isso ser possível, é preciso que o Governo Federal entenda a importância do HPS, porque o Estado e o Município não têm condições hoje de reerguer o hospital”, considera.
Remoção dramática
Fernandes adaptou uma pequena sala onde coordena os trabalhos no HPSC. Passados 30 dias, diz lembrar com emoção das 30 horas em que esteve envolvido na remoção dos pacientes durante a inundação a partir de 4 de maio.
“A água começou a subir e muitas pessoas da comunidade começaram a vir para o Hospital, porque se sentiam seguras aqui, então quando houve a exigência da evacuação, havia 400 pessoas no local, incluindo 110 pacientes”.
Na avaliação do experiente médico, a experiência da equipe em urgências e emergências acabou sendo decisiva para a garantia que não houvesse uma perda maior de vidas durante a operação.
“Perdemos três pacientes, incluindo um que morreu devido à gravidade da situação em que chegou no hospital, então sem relação com a enchente”, afirma. “Eu estava aqui e posso afirmar que se não fosse pela especialidade dos profissionais, o saldo poderia ser muito maior.”
Com 70% dos profissionais
As equipes de enfermagem e de médicos seguem atuando junto ao Hospital Nossa Senhora das Graças, contudo o diretor aponta que há uma perda de 30% dos profissionais por razões diversas.
“Há profissionais que não conseguiram voltar porque nem retornaram para as próprias casas inundadas”, esclarece. “Também há pessoas com problemas psicológicos. Foi muito grave o que aconteceu aqui”.
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