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Educação

O legado do mestre Ziraldo sobrevive em Canoas

Conhecida como a Professora Maluquinha, Christiane Oliveira lembra do genial autor que inspirou o ensino em todo o Brasil

Publicado em: 09/04/2024 às 12h:45 Última atualização: 09/04/2024 às 12h:46
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A morte de Ziraldo, divulgada no sábado (6), causou comoção no País. O cartunista, desenhista, jornalista, cronista e chargista morreu aos 91, em casa, no Rio de Janeiro, deixando um legado de personagens inesquecíveis no qual se destaca o “Menino Maluquinho”.

Chris Oliveira faz rir como a Professora Maluquinha que canta e encanta Canoas



Chris Oliveira faz rir como a Professora Maluquinha que canta e encanta Canoas

Foto: LEANDRO DOMINGOS/GES-ESPECIAL

Em Canoas, não houve quem sentisse mais a perda de uma das mentes mais criativas do Brasil que a professora Christiane Oliveira, que há exatos 25 anos tirou das páginas da obra de Ziraldo um estilo que, de tão peculiar, foi aplaudido de pé pelo próprio autor.

Aos 50 anos, Christiane é conhecida em Canoas como a Professora Maluquinha. Em pleno 2024, com os pequenos cada vez mais conectados a celulares e internet, segue em uma cruzada pelo incentivo à leitura e o amor pelo livro infantil para crianças de todas as idades.

“Parece que me arrancaram um pedaço no coração”, desabafa. “Chorei muito no final de semana e ainda me emociono ao pensar que ele partiu. A gente sabia que não estava bem desde o último AVC, mas, mesmo assim, foi um choque”, ela diz com os olhos marejados.

Christiane lembra que foi em 1999 que tirou a Professora Maluquinha das páginas de Ziraldo visando criar um personagem identificável para as crianças em sala de aula. Desde então, sua contação de histórias nunca mais foi a mesma.

“Eu procurava um jeito brincalhão para ensinar e divertir, mas não sabia bem o que fazer”, recorda. “E de repente o livro ‘Uma Professora Muito Maluquinha’ era a resposta para tudo. Me encontrei como profissional de educação e me apaixonei pela obra do Ziraldo”.

O primeiro encontro aconteceu em 2002, ela aponta. Na época, Christiane dava aula no Colégio Luterano Concórdia, onde havia montado uma apresentação inspirada no trabalho do criador de Menino Maluquinho.

“Soube que o Ziraldo viria ao La Salle, então montei uma apresentação e convidei o agente que estava trazendo ele a Canoas para acompanhar. Ele gostou tanto que convenceu o Ziraldo a conhecer o meu trabalho. Foi uma emoção inesquecível”.

Homenageado 

Natural de Caratinga, Minas Gerais, onde passou a infância, Ziraldo veio a se tornar um dos maiores nomes da literatura infantil do País. Desenhista desde a infância, formou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1957. Na década de 1960, se tornou um dos fundadores do O Pasquim, veículo combativo à Ditadura Militar, que vigorou entre 1964 e 1985.

A 33ª edição da Feira do Livro de Canoas teve Ziraldo como o grande homenageado. O escritor estava com 84 anos naquele longínquo junho de 2017. Inicialmente, o cronograma do evento havia marcado a presença do ilustre convidado para o dia 24, porém ele não apareceu para uma sessão de autógrafos por problema de saúde.

Eis que, dias depois, na tarde do dia 2 julho, Ziraldo surgiu na Feira do Livro e premiou o público presente com sua simpatia e carisma, conversando com adultos e crianças e lembrando momentos marcantes de sua longa trajetória no mundo das letras.

Foi a partir daquela tarde chuvosa de julho que os problemas de saúde do escritor se tornaram mais evidentes. O autor estava com a saúde debilitada após sofrer três AVCs (acidente vascular cerebral) entre 2018 e 2022, recorda a professora Christiane.

“Consegui encontrar o Ziraldo durante diferentes eventos, não apenas em Canoas”, relata a professora. “Claro que observei que a saúde dele acabou mais frágil nos últimos anos, já que às vezes cancelava participações em eventos, entrevistas e sessões de autógrafos”.

Tecnologia

A obra de Ziraldo Alves Pinto inovou a literatura infantil brasileira pela simplicidade e generosidade do autor a fazer um público cada vez maior alcançar suas ideias. O livro “Uma Professora Muito Maluquinha”, por exemplo, aborda justamente a importância da leitura e de lecionar bem.

Quem acompanha o trabalho da Professora Maluquinha em Canoas, sabe que Christiane tem como característica a constante inovação na arte de conversar com os pequenos. O principal tópico abordado nos últimos anos é o uso excessivo da tecnologia entre os mais jovens.

Por trabalhar muito com o público infantil, consegue defender valores de aprendizado que hoje vão de encontro ao uso indiscriminado de tecnologias como aparelhos celulares e tablets.

“Ninguém mais consegue viver sem o aparelho celular e as crianças aprendem a se conectar cada vez mais jovens, mas que bom então que consigo ensinar a importância de não se perder a conexão com os pais, os amigos, a leitura e os livros”.

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