MORTE NA PECAN
O conflito por trás do assassinato de Nego Jackson dentro da Penitenciária de Canoas
Jackson Peixoto Rodrigues, que comandava nova facção, unindo dois grupos criminosos do Estado, sabia que seria morto
Última atualização: 26/11/2024 18:31
O assassinato entre os muros da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan 3) continua reverberando, mas o que poucos sabem é que, por trás do crime, está uma das maiores ameaças surgidas recentemente à segurança pública no Estado.
Há exatamente um ano, a Polícia Civil lançava a Operação do Altomonte, mirando desarticular integrantes de uma nova facção criminosa, que ficou conhecida como Família do Sul (FMS).
A organização nasceu da união de criminosos oriundos das zonas Sul e Norte de Porto Alegre, visando o domínio de pontos de tráfico na capital por meio do enfrentamento com traficantes do bairro Bom Jesus e do Vale dos Sinos.
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Os criminosos criaram até um “estatuto” contendo regras bem definidas da organização, com uma espécie de conselho deliberativo que decide inclusive quem vive e quem deve morrer, conforme apontamento da investigação.
Na época, a Polícia Civil prendeu 63 pessoas. No entanto, um dos principais alvos da ação já estava preso. Trata-se de Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, antes conhecido líder da facção Anti-Bala.
Já tido como um dos criminosos mais procurados do Rio Grande do Sul, o chefe do tráfico no bairro Vila Jardim, na capital, foi apontado pela polícia como o principal articulador da Família do Sul.
Jackson acabou capturado ao tentar passar um documento falso em 2017, enquanto passava pelo Paraguai. Investigado pelo envolvimento em pelo menos 24 assassinatos, ele foi levado para um presídio federal em Porto Velho (RO). Em 2020 foi transferido sob forte esquema de segurança para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
A transferência do criminoso de alta periculosidade para Canoas culminou no assassinato com sete tiros durante o último final de semana. Ele morreu em uma cela de triagem da Penitenciária de Canoas.
Conforme um fonte ligada à Polícia Civil de Canoas, os inimigos queriam Jackson morto há tempos. Isso porque ele continuaria dando as ordens à frente da Família do Sul, mesmo em uma penitenciária federal.
A apuração da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Canoas identificou os dois suspeitos do crime como Rafael Telles da Silva, conhecido como Sapo, e Luis Felipe de Jesus Brum.
Não à toa, os dois são criminosos conhecidos por estarem ligados à facção Bala na Cara (BNC), principal rival da Família do Sul pelo controle de pontos de traficância de drogas em Porto Alegre.
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Sem toque de recolher
Devido ao assassinato, a Brigada Militar (BM) entrou em estado de alerta e reforçou o policiamento ostensivo na capital e região metropolitana com 520 policiais militares, segundo o subcomandante da corporação, o coronel Douglas Soares.
À frente do 15º Batalhão da Polícia Militar (BPM) de Canoas, o tenente-coronel Clóvis Ivan Alves confirma que a BM está fazendo todos os esforços para que o crime não cause impacto à população.
“Estamos trabalhando para evitar novos crimes por conta de uma possível represália à morte”, avisa. “Porém, não há toque de recolher, ao contrário do que andam dizendo. Isso é bobagem”.
Ministério Público se manifesta
A coordenadora do Centro de Apoio Operacional Criminal e de Acolhimento às Vítimas (Caocrim) do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), Alessandra Moura Bastian da Cunha, se manifestou contrária a presença de criminosos de alta periculosidade na Pecan.
“A instituição sempre foi contrária a que os envolvidos no assassinato de apenado em Canoas permanecessem no sistema prisional gaúcho, tendo atuado fortemente para que eles retornassem ao sistema penitenciário federal, uma vez que são líderes de facções e de grande periculosidade.”
A promotora de Justiça destacou ainda que o MPRS já havia se manifestado de forma contrária, por meio de recurso judicial, contra a presença do preso que foi morto e também de outro — suspeito de ser o mandante do homicídio — no regime penitenciário gaúcho devido à periculosidade de ambos.
Alessandra entende ser uma opção legítima o fato dos apenados terem ficado na Pecan 3, já que o local tem bloqueadores de celulares e, desta forma, os detentos não se comunicariam com os demais integrantes das suas de facções, o que deveria ser revisto quando da inauguração de módulo de segurança máxima na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).