Morreu neste domingo (24), aos 85 anos, um homem que representava a memória viva do cinema gaúcho e brasileiro: o escritor, roteirista, cineasta, ator e cantor Antonio Jesus Pfeil.
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Ninguém em Canoas respirou cinema durante tanto tempo quanto Jesus. Operou verdadeiros milagres ao longo de quase cinco décadas. Ganhou prêmios e aplausos, se tornando referência quando o assunto é Sétima Arte.
Um entusiasta do cinema nacional, lutou contra a invasão das produções norte-americanas, produzindo, dirigindo e escrevendo projetos que ganharam projeção no Brasil e no exterior.
“Sou do tempo em que o cinema era a casa de todo mundo”, disse. “A gente via filmes americanos, sim, mas também europeus, asiáticos e os brasileiros, é claro. Porque existia política que influenciava nossa cultura”.
Para ele, os melhores filmes americanos eram feitos pelo inglês Alfred Hitchcock, o alemão Fritz Lang, o austríaco Billy Wilder. Porque o cinema que apreciava de verdade estava no Brasil.
Ressaltava a obra de cineastas como Ruy Guerra, Luís Sérgio Person, Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, que conhecera em festivais Brasil afora.
Sempre extrovertido, contou que se achava engraçado até conhecer pessoalmente Mazzaropi e Costinha. Mesmo após conhecê-los, seguiu fazendo graça e costumava se apresentar: “Sou Jesus, o verdadeiro, porque inventaram o outro”.
Um homem cuja memória sempre fora enciclopédica, Jesus vinha enfrentado o Alzheimer desde 2018. Ao se manifestar sobre a perda neste domingo, o prefeito Jairo Jorge anunciou luto oficial de três dias.
“No ano passado, na primeira edição do Festival de Cinema de Canoas tivemos a oportunidade de homenagear meu querido amigo Jesus. Ele esteve presente, sempre com alegria e recebeu o carinho e aplauso de Canoas e do Rio Grande por sua obra”, lembrou Jairo.
Quando o cinema nacional era audacioso
Nascido em 7 de outubro de 1939, Antonio Jesus Pfeil viveu durante muito tempo em Nova Santa Rita, mas isso na época em que Santa Rita pertencia a Canoas. Sempre gostou de cinema e não perdia uma sessão em Canoas, mas foi nos anos 60, após prestar o serviço militar, que tomou realmente gosto pela arte da criação.
Foi quando participou de uma peça no Theatro São Pedro ao lado dos célebres Nathália Timberg e Leonardo Villar que resolveu que nunca mais faria outra coisa. “Parti para o Rio de Janeiro só com a roupa do corpo”, lembrou certa vez. “Lá vivi toda a boemia, mas também trabalhei com os melhores artistas e profissionais das telas. Era uma época de grande efervescência cultural, quando o nosso cinema era audacioso”, relatou.
O primeiro gaúcho a ganhar um kikito
Jesus guardava com muito carinho, no apartamento onde vivia, no bairro Marechal Rondon, os cinco kikitos que conquistou no Festival de Gramado. Os prêmios foram recebidos pelos curtas “Cinema Gaúcho dos Anos 20”, “Leão do Caverá” e “Porto alegre, Adeus.” “Naquela época, Gramado tinha o maior festival de cinema do País”, contou. “Então tenho o maior orgulho do mundo de ter ganho em 1974 o primeiro Kikito gaúcho do festival”, chegou a dizer.
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