A noite de 16 de janeiro, uma terça-feira, permanece não somente na memória de muitos canoenses. O impacto do vento com mais de 107 km/h que atingiu a cidade pode ser visto por uma parcela da população diariamente.
Passado mais de um mês desde aquela fatídica noite, a quantidade de entulhos e lixo acumulados desde os estragos causados pela tempestade permanece sobre calçadas e vias públicas.
No bairro Niterói, um dos mais atingidos pelo temporal, a preocupação hoje não é apenas o recolhimento de pedaços de telha, galhos e móveis estragados. Isso porque os ratos que passaram a infestar a área preocupam mais.
“A gente nunca viu nada parecido no bairro Niterói”, reclama Antônia Barreto. “Aparece cada rato desde que esse lixo todo acumulou que chega a dar medo”, afirma a aposentada de 63 anos.
A moradora disse já ter cansado de reclamar para a Prefeitura de Canoas. Porém, disse ter sido informada que o assunto não é prioridade, tendo em vista que a maioria dos entulhos está na calçada.
“A Prefeitura sempre manteve o bairro limpinho, mas agora está desse jeito”, reclama. “Eu estou esperando quando é que isso vai se tornar prioridade, porque já virou assunto de saúde pública devido à quantidade de ratos”.
Também morador do bairro, Cláudio Barreto, 51 anos, vive na Rua Fernando Ferrari, em frente a uma parada de ônibus que caiu em desuso devido aos entulhos que formam se acumulando em frente.
“O ônibus nem para mais nessa parada por causa do lixo”, relata o pensionista de 51 anos. “As pessoas têm que esperar em outra parada, porque essa não tem mais condições de uso. Eu acho isso uma vergonha”, suspira.
Armadilhas
O material acumulado sobre calçadas cria também, segundo os moradores do bairro, armadilhas e, não raro, alguém acaba machucado com um prego no pé ou um corte devido a um pedaço de ferro.
“A Prefeitura pode não saber, mas o tétano pode matar”, afirma a vendedora Camila Borges, ao apontar para o pedaço de um poste com o alicerce de arames à mostra em uma calçada.
“Outro dia mesmo um guri estava andando de bicicleta e enganchou a perna, sem querer, em um pedaço de arame. Isso é um perigo e alguma coisa tem que ser feita para acabar”, aponta a vendedora autônoma de 39 anos.
Já o aposentado Carlos Eduardo Bueno, 69 anos, disse ter pago um carreto particular para se livrar do material que acabou se acumulando calçada de casa. Foi a única solução para resolver o problema.
“Cansei de esperar a Prefeitura e como a área de descarte fica aqui pertinho de casa, paguei um carroceiro para recolher”, explica. “Foi a solução para conseguir sair de casa sem precisar ficar chutando pedaços de madeira”.
Mutirão de limpeza
Diante do cenário, a Prefeitura de Canoas deu início, nesta segunda-feira (26), a um novo mutirão de limpeza, última etapa para retirar os resíduos deixados pelo temporal, incluindo também o descarte irregular de entulhos.
A ação começou nos quadrantes nordeste e sudeste, nas ruas Júlio Pereira de Souza, no bairro Estância Velha, e Catmandu, no loteamento João de Barro, no Niterói, seguindo um cronograma de ações já pré-estabelecido que envolve as secretarias de Obras, Serviços Urbanos, Meio Ambiente e subprefeituras.
Segundo a Prefeitura de Canoas, embora a ação tenha início em pontos específicos nos bairros Estância Velha e Niterói, toda a cidade será contemplada por essa nova ação de limpeza, inclusive a desobstrução da parada de ônibus na Rua Fernando Ferrari.
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“Tenho recebido muitas demandas de moradores pedindo essa limpeza”, comentou o prefeito em exercício, Nedy de Vargas Marques, em seu perfil no Instagram. “Mas desde o temporal, concentramos nossos esforços em desobstruir vias, remover árvores das redes elétricas e assegurar que as escolas estivessem prontas para a volta às aulas. Agora é hora de redobrar o trabalho”, completou.
Planejamento
O esforço para deixar Canoas livre dos resquícios do temporal começou, segundo a Prefeitura de Canoas, ainda na noite do evento climático. Primeiro, foi dada prioridade ao desbloqueio de ruas para que viaturas, carros de socorro e concessionárias pudessem ter acesso aos locais atingidos.
Depois, os esforços foram para a retirada de árvores que caíram ou ameaçavam desabar em cima de casas, assim como sobre as redes elétricas. Ação fundamental para que a energia pudesse ser religada, normalizando, também, o abastecimento de água. Uma terceira etapa deu atenção às escolas prejudicadas pelo temporal, para garantir um retorno às aulas tranquilo.
Para finalizar, agora é a vez do mutirão de limpeza que vem sendo promovido pela gestão desde a semana passada.