Após os eventos traumáticos da enchente que assolou Canoas, a vida de duas famílias foi interligada pela empatia e pela devolução de um álbum de fotos resgatado na Avenida Engenheiro Irineu Carvalho Braga. Neste sábado (29), a dona das fotografias, Maria Lucinda Nunes, 73, recebeu em mãos os registros salvos pelo casal Maria Ledi Costa Silva, 62, e Ronei Costa Silva, 63.
No dia 1º de junho, o casal, que reside em Portão, veio até Canoas na tentativa de auxiliar na limpeza da residência da irmã de Maria Ledi, na Rua Bartolomeu de Gusmão. O plano, no entanto, não pôde ser consumado porque as águas ainda obstruíam o acesso à casa.
“Só conseguimos chegar até a esquina [na Rua Engenheiro Irineu Carvalho Braga]. As águas ainda não haviam baixado o suficiente. Desci do carro e andei um pouco até avistar o que parecia ser um álbum no meio dos entulhos da avenida. Chamei minha esposa. Ela me disse para não pegar [o álbum] porque tinha muitas pessoas na rua e poderia ser de alguma delas. Deixamos e fomos embora”, conta o aposentado Ronei.
A filha do casal, Andressa Costa, 36, conta que os pais ficaram angustiados após o episódio. “Eles tinham se arrependido de não ter recolhido logo que viram. Quando retornaram para Portão, pensaram na possibilidade de o álbum ser levado com os lixos”, revela a recepcionista.
Contudo, dois dias depois, quando a água já havia recuado, o casal retornou ao local sem imaginar o que o destino os reservava. “Para a nossa surpresa, as fotos ainda estavam no mesmo lugar. Não pensei duas vezes e recolhi”, relembra Ronei.
Maria Ledi retirou cuidadosamente as fotografias do álbum, limpou e secou cada uma. “Infelizmente, o álbum não foi possível recuperar. Para salvar as fotos, eu utilizei amaciante e álcool no verso das imagens e deixei o aquecedor ligado para secar sem desbotar”, explica.
O álbum armazenava nove fotos, os registros eram das netas de Maria Lucinda Nunes, que mora na Rua Joaquim Nabuco. As fotos de infância das primas Victoria, 22, e Ketlen, 24, foram arrancadas pelas águas de dentro do guarda-roupa onde ficavam e percorreram cerca de um quilômetro.
“É um mistério sobre como as fotos foram parar tão longe e um milagre elas terem sido resgatadas e recuperadas por pessoas que nem sabiam da minha existência”, destaca Maria Lucinda.
O encontro
Após tentativas sem sucesso de encontrar a dona do álbum no bairro Fátima, a família decidiu fazer uma postagem nas redes sociais na última quarta-feira (26).
“Contamos a história e colocamos algumas fotos para a pessoa poder reconhecê-las. A sobrinha do vizinho da minha tia compartilhou nos grupos de WhatsApp do bairro. No mesmo dia, uma das primas [das fotos] reconheceu e avisou que era da avó dela”, conta Andressa.
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O encontro das famílias foi realizado na tarde deste sábado. A emoção, os abraços e os sentimentos de felicidade e gratidão tomaram conta de ambas as famílias.
“Só tenho a agradecer. Estou aliviada e feliz. As meninas [Victoria e Ketlen] são as primeiras dos cinco netos que tenho. Eles são tudo para mim. Sou viúva, eles me visitam com frequência. É um respiro diante de tudo que aconteceu, tanto eu, quanto a irmã do casal que achou as fotos, perdemos praticamente tudo. O que fica agora é a esperança por dias melhores”, salienta Maria Lucinda.
Futuro
As famílias pretendem realizar novos encontros. “Vamos marcar com a Ketlen que não pode vir hoje, ela estava no trabalho. Apenas a Victoria conseguiu vir com a avó e a mãe. Nosso desejo é manter contato sempre que possível”, finaliza Andressa.
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