Aos 78 anos, Lorena Steiner vive um recomeço. Isso mesmo. Ao completar 30 anos de sua trajetória como artista plástica e pintora, ela respira uma sadia retomada da arte que a tornou a mais completa e querida entre as artistas de Canoas.
A morte do marido, Ernesto, aos 81 anos, vítima de câncer, acabou impactando o trabalho da canoense. Ela andava desanimada e sem o espírito aventureiro que a impulsionava e garantia a seu trabalho uma eterna juventude.
O recomeçou veio por meio de um convite do coreógrafo e produtor Rubielson Medeiros para mostrar seu talento durante uma noite de dança na Grécia. A viagem para a Europa no ano passado acabou sendo renovadora.
“Pensei em recusar o convite porque não me imaginava tendo algo a apresentar em uma noite de dança”, lembra. “Então aceitei a proposta de criar uma pintura com terra enquanto ocorria a apresentação. Foi incrível”.
De volta para Canoas, no ateliê que tem no apartamento, manuseia habilmente fios de cobre e linha de algodão; papel de jornal, plástico e tijolos; rejunte de azulejo, pó de pedra; e outros materiais que dão forma a trabalhos concretos ou abstratos que forma seu cardápio estilístico.
“Eu não tinha mais vontade de entrar no ateliê e agora me sinto com o ânimo renovado”, explica. “Venho recebendo alguns convites de trabalhos e para expor e tem aceitado a todos com o maior prazer”.
A dinâmica no ateliê não mudou, ela conta. Lorena pensa, mas não muito, a respeito da obra a criar. Isso se mantém desde que ela recolhia porções coloridas de terra para pintar em Canoas.
“Não costumo pensar em nada antes de começar a pintar, moldar ou tecer”, esclarece. “Apenas me deixo ser levada. Em cima da tela, os pensamentos surgem e o trabalho ganha significado”.
Em uma época de marasmo cultural, Lorena Steiner diz que o importante é fazer pensar.
“O importante é criar reflexão”, acrescenta. “Vivemos em um mundo em que tudo está tão pronto, mastigado e digital que o pensamento e a reflexão são muito bem-vindos”, conclui.
Uma vida vista em filme
Foi na última quarta-feira (24) que artistas ligados ao audiovisual e literatura canoense se reuniram para um debate virtual em torno do documentário “Lorena em Todos os Tons”, lançado em 2021.
Dirigido por Alexandre Moraes e narrado pela atriz Leila Silveira, a produção foi debatida noite adentro entre profissionais ligados à cultura que visam fomentar o audiovisual da cidade.
“Ganhar um documentário sobre o meu trabalho foi muito gratificante”, disse. “Durante a minha trajetória, fiz muitos amigos e sempre é um prazer muito grande conversar e debater a respeito da cultura e do mundo”.
Villa Mimosa
Quem quiser conhecer um pouco do trabalho de Lorena Steiner, existe uma exposição apresentada atualmente na Casa das Artes Villa Mimosa (Av. Guilherme Schell, 6270) que, segundo a própria criador, reflete Canoas.
“Me pediram alguns trabalhos e pensei em condensar e divulgar obras minhas que refletem Canoas em sua essência”, explicou.
A visitação na Villa Mimosa ocorre de terça à quinta-feira das 9 horas ao meio-dia e das 14 às 18 horas. Nas sextas, a visitação é das 8 às 14 horas. Aos sábados e domingos, das 14 às 18 horas, com visitação apenas na sala de exposição do local.
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Querida por arquitetos e decoradores
A paixão de Lorena Steiner pela arte começou muito cedo. Ainda adolescente, se arriscou na pintura. No entanto, foi somente quando se aposentou como professora, em 1994, que a carreira como artista plástica ganhou fôlego renovado. Passou a dedicar seis a oito horas diárias, além de estudos intensos.
No apartamento, os livros de bordas desgastadas denotam a medida em que foram lidos e relidos. Hoje já consagrada, Lorena garantiu espaço junto a arquitetos e decoradores ainda na metade da década de 90.
Trabalhava em parceria com alguns dos maiores profissionais do ramo de Porto Alegre e Canoas.
“Sempre trabalhei com arte contemporânea e diziam que meus trabalhos eram perfeitos para decorar residências”, lembra. “Cheguei a vender cinco quadros em uma semana”.