ANIVERSÁRIO
Guajuviras completa 37 anos de histórias de superação, trabalho e esperança
Moradores do bairro são exemplos de resiliência com projetos sociais que incentivam a comunidade local
Última atualização: 17/04/2024 11:24
O segundo bairro mais populoso de Canoas, Guajuviras, completa 37 anos nesta quarta-feira (17). A data marca o aniversário da ocupação por populares do Conjunto Habitacional Ildo Meneghetti, no dia 17 de abril de 1987.
Com pouco mais de 41 mil habitantes, segundo o Censo Demográfico (2022) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o bairro é berço de histórias de superação, trabalho e esperança. Adriano Dplay, 42 anos, é um dos exemplos de pessoas que fazem a diferença no Guajuviras. O rapper e produtor musical é responsável por projetos sociais, como o Geloteca, que utiliza sucatas de geladeiras para criação de armário de livros.
"Foi uma ideia que há muito tempo havia visto, até que, na pandemia [de Covid-19], decidi colocar em prática em Canoas. Um dia, estava na casa de um amigo e vi uma geladeira sem uso. Ali foi o ponto de partida do projeto. Grafitamos e colocamos os livros no interior dela. A primeira unidade foi distribuída no bairro Olaria porque outro amigo meu usava uma mala para distribuir livros nas praças, ele pediu a geloteca, que durou até o último temporal", explica Dplay.
Atualmente, cerca de 20 gelotecas estão espalhadas no Guajuviras e outros bairros do município. "A comunidade é fundamental. Todos os livros e geladeiras são oriundos de doações. A pintura e o grafite feitos nelas é em parceria com amigos e parceiros da Associação Sétimo Setor, da qual sou vice-presidente, no Guajuviras."
O rapper explica que qualquer pessoa pode pegar ou deixar livros nas gelotecas. Mais informações pelo (51) 98272-4152.
Água no balde: A história do "Guaju"
A história do segundo bairro mais populoso do município começa ainda na década de 1960, com a desapropriação de uma fazenda que pertencia ao empresário A.J. Renner. O então governador Ildo Meneghetti repassou as terras para a Cohab. No lugar, foram construídos apartamentos e casas populares de propriedade do governo, nomeado como Conjunto Habitacional Ildo Meneghetti. Na década de 1980, a empresa responsável faliu e o conjunto habitacional ficou abandonado.
A família de Adriano Dplay foi uma das que participou da ocupação. "Morávamos de aluguel no bairro Estância Velha, minha mãe, meu pai, meu irmão mais velho e eu. No início, foi tudo muito difícil, não havia água, energia elétrica e as pessoas evitavam deixar os locais sem ninguém. Existia o medo de perder a vaga conquistada, além do receio de furto de pertences. Era uma realidade dura, mas também uma oportunidade de sair do aluguel", conta o artista.
O pai de Dplay foi uma das pessoas responsáveis pela primeira ligação de água na entrada do bairro, próximo à rótula. "Na época, ele foi até a sede da Corsan e conseguiu o encanamento. E com a ajuda de um caminhoneiro, fizeram uma ligação de água na rua. Foram instaladas algumas torneiras. As pessoas levavam baldes para buscar água", recorda.
Estigma da violência e mudanças
Dplay fala sobre o estigma de violência que o Guajuviras carrega.
"Na minha juventude era pior. Era muito violento mesmo. Vendo tudo aquilo, era impossível não se revoltar. Tinha 18 anos quando comecei no rap. Foi um refúgio, mas, ao mesmo tempo, uma maneira de expressar todas as mazelas e injustiças que presenciava no bairro. A falta de acesso à cultura, a ausência de projetos sociais, o crime e a violência eram combustíveis para a criação das minhas letras de protesto. A música traduzia meus sentimentos de insatisfação e ânsia por mudança", revela.
O rapper conta que em 2010 outro artista o questionou sobre as mudanças. "O Rafuagi me perguntou o que eu estava fazendo para mudar as coisas. Foi quando percebi que precisava ir além da música. A partir disso, mudei. Hoje, participo de vários projetos, entre eles: Geloteca, Palco 7, Meeting Of Guaju, Batalha do Passinho, Guaju Art Festival", finaliza.
Aulas de reforço escolar e canto no coral
Criada no Guajuviras, a cantora Edna Aline Petrini da Silva, 44 anos, é fundadora do projeto Além do Amanhã, que promove oficinas de reforço escolar e aulas de canto no contraturno. Criada em 2020, também na pandemia de Covid-19, a iniciativa auxilia cerca de 30 alunos de escolas municipais do bairro.
"Com a ausência das aulas presenciais, o aprendizado e o rendimento dos estudantes caiu drasticamente. Identifiquei a necessidade de ajudar. Era um desejo antigo que eu tinha. No início, consegui um local emprestado para dar as aulas, mas o dono não entendeu o projeto e disse que não era para eu ficar 'mendigando' ajuda. Tivemos que sair do espaço. Comprei um gazebo e montei no pátio da minha casa. Atendo as crianças até hoje lá", explica Edna.
O projeto atende estudantes de até 14 anos. As aulas ocorrem duas vezes na semana, divididas em uma hora para o reforço de disciplinas escolares e uma hora para a aprendizagem de canto no coral. "O amor e carinho que recebo deles não têm preço", conclui.
Interessados em ajudar o projeto, podem entrar em contato no telefone (51) 99439-9241, com Edna.