O problema não é novo e há tempos que não diz respeito somente a paisagem afetada, mas também à segurança. Os emaranhados de fios e cabos que existem, principalmente, em áreas urbanas das grandes cidades se tornaram uma questão tão pertinente que o assunto enfim chegou em Brasília.
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, e das Minas e Energia, Alexandre Silveira, assinaram, na última terça-feira (26), uma portaria com regras para tentar organizar os fios nos postes das cidades brasileiras.
A medida cria o Programa Nacional de Compartilhamento de Postes, ou “programa Poste Legal”, como vem sendo chamado, para que os cabos e equipamentos sejam instalados para reduzir o risco para a população e minimizar o “impacto visual”. Embora considerado um primeiro passo importante, há quem não acredite na solução do problema.
Morador do bairro Marechal Rondon, o motorista de táxi Sebastião Antunes diz que só acredita vendo terminarem com os emaranhados. Até porque já ouviu anúncios parecidos antes. O trabalhador de 64 anos reclama que já cansou de promessas que “fulano, beltrano e sicrano” vão acabar com o problema da “montoeira” de fios vistas em postes.
“Eu mesmo, quando fui sair de bicicleta com o meu neto um dia desses, quase perdi o pescoço em um fio pendurado que tinha frente de casa”, exalta. “O fio estava com uma barriga e enganchou o meu pescoço, porque só vi quando cai. Aquilo deu uma raiva que arranquei tudo”, conta.
A comerciante Ivani Maria Zandonai lembra que há poucas semanas precisou ligar para os bombeiros depois que a fiação de um poste no Centro de Canoas pegou fogo e continuou queimando durante muito tempo.
“Olha, assim do nada, começou um fogaréu no poste e a gente não sabia o que fazer. Foi um horror, porque água gente até tinha para tentar apagar, mas não tinha como atirar um balde d’água para cima. Ficamos ali olhando enquanto queimava tudo”.
Conforme a trabalhadora de 62 anos, após atender a ocorrência e literalmente pararem o trânsito em plena Rua 15 de Janeiro, uma das mais movimentadas da cidade, os bombeiros contaram que o problema foi um fio no meio do emaranhado que descascou e encostou em outro, causando curto-circuito.
“Não sei qual fio tocou em qual, mas entendi que disseram que acontece muito disso em Canoas”, acrescenta.
Também morando no Centro, o aposentado Inácio Beltrame, 66 anos, admite que o medo nem é a fiação pegar fogo, mas sim tomar um choque ao encostar em algum dos fios pendurados que volta e meia aparecem no poste que fica em frente de casa.
“Fui falar com um cara da operadora sobre isso e ele encheu a boca para dizer que não tem perigo e tal, mas como eu vou saber se é fio de luz, telefone ou internet?”, argumenta. “Morro de medo de levar um choque”.
LEIA TAMBÉM