A 27ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), responsável pelas escolas estaduais dos municípios de Canoas, Esteio, Nova Santa Rita, Sapucaia do Sul e Triunfo, tem um novo coordenador. No cargo desde o final de novembro, Francisco Olímpio Fagundes Ximenes assume a função de orientar, dar suporte e desenvolver as políticas públicas de educação.
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Natural de Quaraí, Francisco mora em Canoas há pelo menos 30 anos e trabalhou educação profissional no sistema Sesi-Senai da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e no sistema Sesc-Senac da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS). Também atuou na Confederação Nacional do Comércio, no Rio de Janeiro.
Formado em Letras Inglês-Português e mestre em Design Estratégico, o novo coordenador da 27ª CRE atuou em funções de gestão de qualidade e planejamento. “Foi uma escolha minha me dedicar à educação pública e básica”, destaca.
“Toda essa experiência me deu uma visão muito grande de diferentes tipos de organizações, de natureza pública, privada, pequena, média, serviços, industriais. Isso me deu uma visão muito forte de práticas para ter uma melhor organização, melhor eficácia, para atingir seus objetivos e planejar o seu futuro. Agora, vou pegar tudo isso que eu sei, que eu pratiquei e me dedicar à educação pública e educação básica. E é o que eu estou fazendo agora, exclusivamente”, afirma.
Confira a entrevista com o novo coordenador da 27ª CRE
Diário de Canoas (DC): Quais são os seus planos para a coordenadoria?
Francisco Ximenes: Os meus planos estão no centro daquilo que nós chamamos de mapa estratégico. O meu grande propósito de forma mais prática é garantir educação de qualidade para todos de forma inclusiva e equitativa. É isso que nós estamos buscando.
Tudo que vamos pensar, fazer e realizar tem que chegar nisso. O que está em volta são as diversas estratégias, ações e práticas que a gente vai levar para as escolas.
Para nós aqui são 74 escolas na rede que nós temos aqui da coordenadoria. É uma rede de cinco cidades: Canoas, Esteio, Sapucaia, Triunfo e Nova Santa Rita. A palavra qualidade continua comigo.
Mas, tem o verbo que é garantir a qualidade da educação. Porque aqui nós estamos falando do sistema educacional, que não é só nas escolas, mas um conjunto de instituições que trabalham para isso. Essa garantia da qualidade passa por diversos fatores.
O primeiro é garantir o desempenho ou a aprendizagem do aluno. Se queremos começar por algum ponto para saber como é que isso está se realizando, é pela aprendizagem dos alunos. Para isso, existe um sistema que deve chegar no aluno que está lá na escola.
O que nós temos que fazer para os alunos? Aí vem a segunda pessoa que nós temos que garantir a sua formação e a sua valorização que é o professor. Nós temos que assegurar com formação, reconhecimento, valorização, diálogo e presença a qualidade do professor.
Porque é nessa relação professor-aluno que vai acontecer a melhor forma a aprendizagem. O processo de aprendizagem é do aluno e o de ensino é do professor. Só que as coisas tem que conversar e cabe a nós garantir isso.
Só que essa é uma das dimensões, talvez a essencial: o núcleo da educação. Mas aí tem outras, por exemplo, o ambiente. A escola diz que o ambiente era aquele ali, a sala de aula, a secretaria, o pátio. Eu comecei a dizer que ambiente é aquele ali, só que tem que transmitir o mundo.
A riqueza que nós temos numa escola é um micromundo. Tem que ter toda a diversidade, todas as ideias, as concepções, a cultura do mundo está na escola. O ambiente escolar com o seu dinamismo e acolhimento é fundamental e faz parte da gestão.
A outra coisa é a própria gestão. E quando nós falamos em gestão, pensamos normalmente em controles e indicadores, mas o principal fator da gestão é o gestor. Hoje, nós chamamos de liderança. E essa liderança nas escolas e no sistema escolar tem diversos níveis.
Na escola, por exemplo, o principal nível é o diretor. Nós temos que dar condições para ele fazer essa gestão. Condições materiais, financeiras, relacionais, de planejamento e visão de futuro. Nós temos que garantir uma boa formação da liderança.
Eu sou o coordenador, mas não estou na escola. Aquilo que nós planejamos no mapa estratégico tem que acontecer na escola. É essa equipe diretiva – com o diretor como a mais forte liderança – que tem que levar isso para garantir a qualidade.
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E a outra é o monitoramento. E aí é que vem a parte da gestão com medições, indicadores e sinalizações que nos digam se estamos evoluindo, quanto estamos evoluindo, quanto perdemos, quanto ganhamos e onde estão os pontos focais que nós devemos atacar para garantir essa qualidade.
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DC: E quais são os desafios, pensando já no próximo ano?
Francisco Ximenes: Os desafios primeiros são esses, garantir essas dimensões para a garantia da qualidade.
O grande desafio, e essa tem sido uma conversa com a secretária da Educação, para o ano de 2025 é alavancar, melhorar o principal que é índice do Ideb, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
Não é um número, é um índice porque compõe algumas coisas que são fundamentais para a aprendizagem dos alunos. Tem o fluxo, que é a aprovação, passar de ano para outros, da jornada dele nos diversos períodos que ele passa na escola. O Ideb dá esse fluxo: foi aprovado, abandonou, como é que ele está evoluindo? O outro é o desempenho acadêmico ou a nota de prova.
Esse é o nosso grande desafio. O Ideb é 1 a 10 e o nosso hoje, principalmente no ensino médio, não baixa de 5. A nossa meta e a meta nacional em 2025 é de ser 6. Buscar subir um ou dois pontos da pontuação do Ideb.
E com isso nós voltamos naquelas dimensões. É nelas que nós temos que trabalhar para que esse Ideb se mexa de forma positiva. O nosso trabalho em 2025 vai ser todo dedicado a isso.
DC: Também tem a questão da evasão escolar.
Francisco Ximenes: A nossa evasão hoje está em torno de 10%. Isso é o que nós temos. Entre várias formas de evadir, 10% é o número que nós estamos trabalhando.
Nós temos 29.500 alunos, em torno de 2.000 compõem esses 10%. É um número alto. Nós não estamos garantindo a educação.
Na Constituição diz assim: direito à educação. Então, esses alunos que não estão presentes, eles não estão exercitando, realizando o direito. E nós não estamos fazendo chegar o direito que eles têm.
Para isso, nós temos alguns trabalhos que chamamos de busca ativa. Tem um grupo de pessoas, as mentoras, porque a maioria é de mulheres, que o papel delas é levar às escolas as práticas de busca ativa.
Não que elas vão fazer, mas elas também fazem, que é conversar com todo o ecossistema, com a comunidade escolar. Então, é chamar e perguntar “por que você não está vindo?”.
Tem que falar com a família, com o responsável se não é pai ou mãe, com o próprio aluno e ir na comunidade. Não adianta ficar na escola esperando, tem que ir lá na comunidade conversar, tem que falar com o conselho tutelar. É preciso falar com todos aqueles entes que compõem o ecossistema para trazer o aluno de volta.
Essa ação é contínua. Nós temos em torno de 10 a 15 mentoras. Elas estão ligadas à nossa comunidade de alunos, o papel delas – entre outros projetos porque elas não são exclusivas deste – é fazer essa busca ativa.
DC: E a coordenadoria também permanece lidando com o pós-enchente. Como vai ser?
Francisco Ximenes: Sim, a enchente eu conheço bem, porque eu morei do lado que os rios entraram. Eu fiquei fora da minha casa por um tempo também e eu sei o que essas famílias e escolas passaram.
Nós tivemos 17 escolas que foram afetadas, que tiveram que interromper suas atividades. Todas elas já voltaram, exceto a Colégio Estadual Tereza Francescutti. Essa não retornou ainda, mas os alunos estão na [Escola Estadual de Ensino Médio] São Francisco de Assis. Estão bem instalados.
Mas a escola foi muito atingida, a estrutura dela ficou completamente abalada. Estamos na fase de diagnóstico e provavelmente voltará no ano que vem, mas eu não tenho um prazo para dar agora.
Mas o que deveria ser resolvido, que são os alunos, está resolvido no São Francisco de Assis. E as outras todas estão funcionando. Claro que tem algumas obras que continuam, mas é coisa que não é risco para os alunos, nem para os colaboradores da escola.
Fora isso, a parte estrutural, nós temos um projeto de escolas focais. E o que é? Essas 17 escolas vão ter uma dedicação especial de professores contratados especificamente para trabalhar com esses alunos. Alunos que se perderam o desempenho deles, até pela própria condição emocional dos alunos, dos familiares, então eles vão ter professores dedicados exclusivamente para trabalhar com esses alunos.
E um espaço especificamente dedicado, que é uma sala, para trabalhar isso. E também uma atividade curricular para garantir que esses alunos evoluam naquilo que eles perderam e que vai ultrapassar esse ano letivo. Então ele vai estar esse ano trabalhando, mas se por acaso não der, vai no outro ano continuar essa recomposição escolar
É mais do que pegar o conteúdo e trabalhar de novo. A própria forma de aprendizagem vai ter que ser recomposta ou reconfigurada para garantir que esses alunos evoluam. Muito por esse trauma que eles passaram com as enchentes.
DC: E na questão de investimentos e obras. Tem algo já planejado?
Francisco: Para ter uma ideia, só na enchente, foi aplicado R$ 1,4 milhão só para recuperar essas escolas. Mas agora, todo o investimento, eu não tenho um número para te dar agora, o número exato. Mas tudo isso aqui [mapa estratégico] é o investimento que nós vamos fazer para a busca da qualidade.
Todos os projetos, toda essa estrutura aqui é para fazer isso acontecer nas escolas. Eu não tenho o número exato do investimento financeiro, mas imagina se R$ 1,4 milhão foi para recuperar, vamos ter mais do que isso para investir.
Aqui tem um outro número que eu fiquei impressionado, porque como eu estou chegando agora, dessas 17 escolas, são 8.152 alunos impactados. São esses alunos que agora nós temos que dar essa atenção.
DC: Para finalizar a nossa conversa, tem algo que o senhor queira falar ou destacar?
Francisco: Eu acredito que é só reforçar o nosso papel de estar perto das escolas. Nós temos aquele mapa estratégico 2023 a 2026, são três anos de planejamento. O núcleo só vai acontecer na escola, como aquele meu desafio de aumentar os índices do Ideb .
Se não acontecer lá, nós vamos continuar fazendo belos mapas estratégicos, belos planos de ação, lindos projetos, mas que não acontecem.
Porque eu digo assim, “olha que linda essa minha sala”, mas isso aqui não aumenta o Ideb e não garante qualidade. E esse é o nosso papel. A coordenadoria é a educação do Estado dentro da escola. E é nós que temos que estar conversando, ouvindo, fazendo. Com os diversos canais, nós temos de estar presente na escola.
E estar presente, cada vez eu me convenço mais porque a gente está num período do mundo que o presente parece que é estar na frente de uma tela. Mas estar presente é estar lá na escola.
Claro que a gente pode fazer via internet, mas temos que estar ao lado do diretor, do previsor, da coordenadora, do professor e, fundamentalmente, do lado do aluno. Então, só destacar esse papel da coordenadoria, que não é o meu papel, é o da instituição.
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