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CRIME ORGANIZADO

'Fortaleza' em Novo Hamburgo escondia chefe de facção investigado por onda de assassinatos em Canoas

Homem de 39 anos foi preso durante operação no bairro Canudos. Polícia também descobriu arsenal, possivelmente usado em homicídios ordenados por grupos criminosos

Publicado em: 16/03/2023 às 13h:15
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A disputa entre quatro facções criminosas pelo controle do tráfico de drogas em Canoas elevou o número de assassinatos na cidade em 2023. Em pouco mais de dois meses, já são 31 mortos. Classificada pela Polícia Civil como “pivô do conflito”, uma organização sediada no bairro Mathias Velho acaba de ter uma baixa. É que foi preso, no fim da tarde desta quarta-feira (15), um homem de 39 anos apontado como um dos chefes da facção.

A captura em Novo Hamburgo ocorreu após uma rápida operação montada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Canoas.

Delegado Gustavo Bermudes mostra pistola com numeração raspada



Delegado Gustavo Bermudes mostra pistola com numeração raspada

Foto: PAULO PIRES/GES

Segundo o delegado Gustavo Bermudes, que coordenou a ação da Especializada, o preso era um dos ‘cabeças’ por trás dos crimes registrados nos últimos meses em Canoas. Ele estava escondido em uma “fortaleza”, com dois “guardas” em frente ao portão, no bairro Canudos, reduto de uma das mais perigosas facções do Estado.

“Este homem possui uma extensa ficha criminal de homicídios, tráfico, associação criminosa, porte ilegal de arma de fogo, roubos, entre outros crimes”, explica Bermudes. “Ele saiu do bairro Mathias Velho por temer um ataque de criminosos rivais, porém, suspeitamos que continuava coordenando ações e mortes de sua ‘fortaleza’ no Vale do Sinos.”

Durante a ação, não houve confronto entre policiais e bandidos. Isso porque os criminosos que “faziam guarda” fugiram, pulando muros de casas vizinhas, ao perceberam a aproximação dos agentes. Já o principal alvo da ofensiva não conseguiu escapar. A surpresa maior, relata o delegado, foi a descoberta de um pequeno arsenal escondido no local.

“Havia uma bancada em um quarto que passaria aparentemente despercebida por qualquer um”, relata. “Contudo, ao acionar uma tag, esta bancada abria uma gaveta onde estavam escondidas armas e muita munição de diferentes calibres”.

Tag abria gaveta de bancada em que estavam escondidas armas



Tag abria gaveta de bancada em que estavam escondidas armas

Foto: PAULO PIRES/GES

Na gaveta, havia pistolas 9 milímetros, revólveres, coletes à prova de balas, rádios comunicadores e telefones celulares, além de um kit Roni. Este último, esclarece Bermudes, é utilizado para transformar armamentos em submetralhadoras que disparam até sete tiros por segundo, quando acoplado a um carregador caracol, com capacidade para 50 munições.

A Polícia estima que todo o material apreendido valha aproximadamente R$ 80 mil. As armas apreendidas devem ser encaminhadas ao Departamento de Homicídios e passar por perícia. O objetivo é confrontar os armamentos com os crimes recentes que aconteceram em Canoas.

“Certamente essas armas foram responsáveis pela perda de muitas vidas em Canoas”, afirmou o delegado. “Calculamos que este homem já não saía de casa há um bom tempo, por medo de ser eliminado, no entanto, é quase certo que ele entregava armas a soldados próximos que executavam ordens em Canoas”, suspeita.

Investigação continua

Canoas vive seu começo de ano mais violento desde 2017. Foram 30 mortes somente nos primeiros 60 dias do ano. O número representa quase a metade do montante somado ao longo de todo o ano passado na cidade, quando morreram 63 pessoas. A maioria dos homicídios se concentra nos bairros Mathias Velho, Harmonia e Guajuviras.

É por isso que as investigações e operações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) vão continuar, avisa Bermudes. O objetivo da Polícia Civil é tirar de circulação armas e também criminosos que sejam responsáveis pelas execuções a tiros que respondem por 85% das 31 mortes que aconteceram em Canoas em 2023.

O delegado esclarece que a liderança presa nesta sexta-feira era monitorada há dias até o momento exato da prisão. O criminoso utilizava tornozeleira eletrônica, porém o sinal de comunicação havia sido cortado desde dezembro, o que acabou dificultando sua localização.

“Nós vamos continuar o trabalho em cima de criminosos responsáveis pelas execuções que acontecem em Canoas”, garante. “Há quatro facções agindo em Canoas e as relações entres elas são complexas. Eles estão ora de um lado, ora de outro. Estamos esclarecendo estas dinâmicas e queremos levar à cadeia os homens por trás dos crimes”.

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