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Um ano depois

'Eu escutava as bombas caindo da janela e ficava apavorada'

Ucraniana que vive em Canoas, Nataliia Shvets voltou ao país em guerra. Novamente no apartamento em que mora no Centro da cidade, ela lembra o drama vivido em seu país natal

Publicado em: 27/02/2023 às 16h:48 Última atualização: 25/01/2024 às 16h:35
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Nataliia Shvets Konrad trabalhou fazendo redes de camuflagem para militares



Nataliia Shvets Konrad trabalhou fazendo redes de camuflagem para militares

Foto: PAULO PIRES/GES

Um ano depois, o derramamento de sangue continua na Ucrânia. Foi no dia 24 de fevereiro de 2022 que a Rússia invadiu o território ucraniano e declarou guerra ao país vizinho.

Na época, houve uma aproximação da Ucrânia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que iria aproximar os ucranianos do ocidente e afastá-los da influência dos russos.

Porém, pouca gente lembra desta tensão pré-guerra na Ucrânia, segundo Nataliia Shvets Konrad. A ucraniana que vive em Canoas desde 2014 conta que o sentimento da população é de constante perda.

“Todos os dias alguém conta que perdeu um parente ou um conhecido”, aponta. “Tudo devido a uma guerra inútil e que não faz sentido para os ucranianos”.

Nataliia conseguiu voltar ao país em julho do ano passado, permanecendo até agosto na companhia dos pais. Isso porque costumava visitar a mãe, Olena Shvets, 58 anos, Volodomyr Shvets, 58 anos, uma vez por ano antes da guerra.

“Quando eu falava para as pessoas que iria voltar apara a Ucrânia, me chamavam de louca”, revela. “Só que a maioria não entende o sentimento de angústia que eu sentia por meus pais estarem lá. Eu precisava vê-los”.

O período passado na Ucrânia deu uma dimensão do conflito que Nataliia não esperava. Ele conta que as pessoas acabaram se acostumando com a guerra, algo que pensava inimaginável.

“Eu escutava as bombas caindo da janela e ficava apavorada”, lembra. “Também dava para ver caças e helicópteros sobrevoando o céu a todo momento como a lembrar que estava em um país em guerra mesmo”.

Os pais de Nataliia vivem na região central da Ucrânia. Ela explica que ao ouvir soar o alarme, era obrigatório o refúgio a abrigos subterrâneos instalados para proteger a população de bombardeios. Com o passar do tempo, nem todos buscavam abrigo ao soar o alarme.

“Fui a uma lavoura e, quando soou o alarme, as pessoas continuaram trabalhando como se nada tivesse acontecido. Passou a fazer parte da rotina”.

Ocidente ao lado dos ucranianos

Desde a invasão russa, a Organização das Nações Unidas (ONU) registrou que cerca de 7,7 milhões de refugiados viajaram da Ucrânia para vários países da Europa — incluindo até mesmo a Rússia.

Sem poder tirar os pais da Ucrânia, já que o pai tem idade para alistamento militar e a mãe jamais iria abandoná-lo, Nataliia retornou ao Brasil com uma missão: colaborar para o ocidente entender a dimensão do drama vivido pelos ucranianos.

“Durante o período que eu estava lá, trabalhei fazendo redes de camuflagem e proteção para militares”, revela. “Era uma forma que eu conseguia ajudar o meu povo, mas decidi voltar porque aqui sinto ter um trabalho importante”.

A economista de 34 anos faz traduções de reportagens veiculadas em ucraniano para o português, trabalho que classifica como fundamental para o esforço de guerra em seu país natal.

“O ocidente hoje está com os ucranianos e contra os russos e se não fosse por isso, nosso país já teria caído. Não temos um país grande como a Rússia. Precisamos de toda a ajuda”.

Pelo menos 300 mil mortos

A guerra já causou milhares de mortes, mas nenhum dos lados está divulgando dados militares oficiais. Os números divulgados são estarrecedores. Pelo menos 300 mil pessoas já teriam perdido a vida durante o conflito, segundo o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas.

Foi no dia 27 de junho que um míssil russo atingiu um shopping no Centro da Ucrânia e matou 18 pessoas, deixando outras dezenas de feridos. Nataliia conta que esteve no shopping dias antes da explosão e que foi após o ataque que decidiu não sair mais de casa.

“No começo eu fazia de tudo na Ucrânia, mas depois do ataque passei a ter medo”, recorda.
Nataliia revela ter levado a filha de 6 anos para o país em conflito. A viagem acabou sendo “educativa”.

“Acho que ela aprendeu muito sobre a força e a resistência do nosso povo”.

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