Polícia
Entenda como funcionária de CRVA montou um esquema com despachantes em Canoas
Carros eram liberados por valores até R$ 150 por documento; suspeita com 28 anos escaneava papéis em branco para disfarçar liberações
Última atualização: 29/11/2024 14:05
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Foi a denúncia que chegou até a Polícia Civil no meio do ano passado e culminou na batizada Operação Carta Branca, lançada na manhã desta quinta-feira (28) mirando apreender documentos, aparelhos celulares e computadores para aprofundar o esquema criminoso.
A apuração da 2ª Delegacia de Polícia (DP) de Canoas durou cerca de um ano, cobrindo, pelo menos, seis meses de trabalho da mulher de 28 anos. Ela acabou demitida ainda no ano passado, após as fraudes virem à tona por meio da investigação policial.
Segundo o delegado Rodrigo Caldas, responsável por coordenar a apuração, não é possível dizer quando começou o esquema, já que a funcionária deu início ao trabalho no CRVA em 2019. No entanto, somente no segundo semestre de 2023, ela teria faturado R$ 180 mil e causado um prejuízo de R$ 53 mil para o órgão público.
“Soubemos que um funcionário que queira trabalhar muito rápido chega a liberar a papelada em até cinco minutos, porém ela fazia tudo em menos de um minuto, segundo colegas. Tudo porque faturava por fora”, explica.
O contato, esclarece o delegado, se dava entre os despachantes investigados e a principal suspeita por meio de mensagens, telefonemas e-mails. Cabia a mulher ser rápida e simular trabalhar normalmente para não levantar suspeitas.
“O nome da operação é Carta Branca porque o processo de liberação inclui o escaneamento de documentos. Só que ela escaneava folhas de papel em branco para fingir que trabalhava normalmente”, diz.
Conforme a apuração da Polícia Civil, o recorde de documentos falsos emitidos ocorreu no ano passado, quando o supervisor do CRVA entrou em período de férias e a suspeita pensou estar livre para agir sem que ninguém estivesse supervisionando.
“Em apenas um mês, ela liberou 200 veículos”, aponta. “Calculamos que somente neste período tenha garantido uns R$ 30 mil com os despachantes. Ao todo, foram 2.909 ordens de serviço que passaram pelas mãos dela em seis meses”.
Crime organizado
A ação, organizada pela 2ª Delegacia de Canoas, cumpriu 15 mandados de busca e apreensão em Canoas, Sapucaia do Sul e Alvorada, visando apreender documentos, computadores e celulares dos alvos.
Em um dos endereços – a casa de um despachante em Canoas – a Polícia Civil apreendeu R$ 87 mil em dinheiro sem qualquer procedência, dinheiro que criou a suspeita que o esquema possa ser maior que se imagina.
“Vamos continuar investigando, porque existe a suspeita que o esquema envolva a clonagem de veículos para uso do crime organizado”, explica Caldas. “É algo que vamos averiguar, por meio do material apreendido, com calma”.
A suspeita da Polícia Civil é que a conduta da servidora pública servia para “legalizar” e “esquentar” veículos clonados. Carros furtados ou roubados por criminosos que acabavam retornando às ruas sob aspecto falsamente legal.
A tese de que o crime organizado por trás do trabalho dos despachantes é reforçada por uma característica encontrada na documentação preparada pela servidora pública: alguns documentos estavam nos nomes de pessoas mortas.
“Os caras burlavam o sistema para pular a burocracia e agilizar a liberação de carros. Isso é um crime. Porém, houve transferências para nomes de pessoas falecidas há anos, o que é um indicativo sério de algo maior por trás do esquema”, observa.
Sem retorno
A reportagem entrou em contato com o Detran-RS, no entanto, até o fechamento desta matéria, não houve posicionamento do órgão do Estado.