Desde o dia 4 de maio, a antiga sede administrativa da empresa Modular Cargas, em Canoas, serve de abrigo para pessoas cujas casas foram atingidas pela enchente. Mais de 400 chegaram a se alojar no local. Agora, com o retorno para casa ou ida para outros abrigos, cerca de 350 canoenses no bairro Estância Velha. Voluntários montaram espaços para atendimento médico, psicológico e uma farmácia para prestar ajuda aos desabrigados.
A ação partiu do Instituto Modular de Educação e Responsabilidade Social, fundado em maio de 2022 para promover ações de segurança no transporte e atender à comunidade. Com a mudança da empresa para Nova Santa Rita, o antigo endereço ficou disponível para acolher quem precisava.
“Resolvi abrir a farmácia e também organizei o ambulatório, para receber os médicos voluntários. A maioria deles veio de fora, de São Paulo, Paraná e Goiás”, conta a farmacêutica Shirley Costa, 41 anos, que coordena a área de saúde do abrigo.
Os medicamentos da farmácia são resultado de doações feitas pela comunidade e por empresas. A estrutura da sala de atendimento médico também foi emprestada por uma voluntária.
Os canoenses cujas casas foram impactadas pela enchente se abrigam nos espaços administrativos da sede. Na sala mais próxima ao ambulatório, ficaram alojadas pessoas idosas ou com problemas de saúde crônicos.
Assim como os voluntários, as doações chegaram de diversos lugares do Brasil. Os armazéns recebem fardos de água, alimentos, materiais de higiene e limpeza e roupas. Nas salas, os itens de vestuário são separados por tamanho e gênero. A empresa mantém uma parceria com o Banco de Alimentos de Canoas e de Porto Alegre.
A alimentação para os abrigados é feita pelos voluntários – alguns, abrigados na Modular. “Cheguei no sábado de madrugada e agora estou ajudando na cozinha”, conta Simone Machado Vieira, 38. “Eu ia embora hoje, mas quis me despedir de algumas pessoas, então vou ir na sexta-feira. A gente fica apegado às pessoas”, comenta.
Outros abrigados também trabalham voluntariamente para manter o abrigo de pé. Rubens Coutinho, 54, conhecido por todos como seu Ruben, se tornou o encarregado da carga e descarga de donativos nos armazéns. Ele dorme em uma sala administrativa anexa ao galpão. “Cheguei naquele sábado fatídico, e para não encher minha cabeça com os problemas de lá, comecei a trabalhar já no outro dia. Isso aqui tava vazio”, comenta, apontando para o depósito agora lotado de sacos de alimentos e materiais de limpeza.
Luiz Coelho, 55, também alojado na Modular, é mais um trabalhador voluntário nos galpões. “Assim o dia passa mais rápido”, conta. Entre voluntários que vêm de fora e abrigados, cerca de 60 pessoas trabalham diariamente no local. Segundo o presidente da empresa, Renê Mesquita, ao todo, 6 mil toneladas de carga já entraram e saíram dos depósitos da Modular.
Os itens são distribuídos para outros abrigos no município. A previsão é de que o abrigo siga operando ainda em junho. Moradora do bairro Rio Branco, Mara Ribeiro chegou no abrigo com o filho e o cachorro da família há 16 dias. “Meus familiares estão na casa de parentes, mas optamos por um abrigo. Aqui estamos muito bem, somos bem atendidos”, diz.
Doações podem ser entregues no endereço Avenida Santos Ferreira, 3500, no bairro Estância Velha.
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