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AGOSTO LILÁS

"É inacreditável como os agressores não sentem remorso", diz delegada sobre alta na violência contra mulheres

Primeiro semestre aponta crescimento de 16% nos registros de lesão corporal em relação ao mesmo período de 2022

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Publicado em: 24/08/2023 às 10h:41 Última atualização: 18/10/2023 às 17h:23
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O “Agosto Lilás” até pode estar chegando ao fim, no entanto, o trabalho da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) está longe de acabar. Sob o comando da delegada Angélica Giovanella, o objetivo é continuar o trabalho em conjunto com a Brigada Militar (BM) e o Centro de Referência da Mulher (CRM). “Canoas tem uma estrutura muito boa de acolhimentos à mulheres vítimas de violência doméstica.”

Delegada Angélica Giovanella é titular na Deam de Canoas



Delegada Angélica Giovanella é titular na Deam de Canoas

Foto: PAULO PIRES/GES

Ainda assim, dados divulgados pela Secretaria de Segurança Público do Estado (SSP) mostram um aumento na violência neste primeiro semestre, em relação ao mesmo período de 2022. Em 2023, até o mês de julho, foram registrados 420 casos de lesão corporal. No ano passado haviam sido 362 na mesma época, ou seja, um aumento de 16%. Outro indicativo revela que a Deam recebeu a denúncia de 673 ameaças. Em 2022 foram 586 na mesma altura do ano, crescendo 14,8%.

Para a delegada, que assumiu a titularidade há pouco mais de um mês, após passar por Pelotas e Sapucaia do Sul, as ameaças e lesões sempre existiram, porém as mulheres passaram a denunciar mais. “Hoje a mulher é recebida como vítima. A polícia e a Justiça presumem que ela está falando a verdade. A cultura felizmente está sendo modificada e as mulheres acolhidas.”

“São imprevisíveis”

Angélica afirma que trabalhar com violência contra a mulher pode ser um desafio inclusive para policiais mais experientes. “As situações e os casos causam muito impacto, mesmo para aqueles que estão há anos na corporação. É inacreditável como os agressores não sentem remorso. Agem como se fosse algo corriqueiro. São imprevisíveis.”

A delegada explica que os casos acontecem principalmente nos bairros mais populosos de Canoas, porém, ao contrário do que era comum anos atrás, a classe social não serve de parâmetro. “Antigamente a grande maioria dos registros estavam nas periferias, hoje não. As mulheres com uma situação financeira melhor não denunciavam e isso está mudando, não há mais vergonha, medo ou dependência.”

Conforme a titular da Deam, as vítimas são mulheres entre os 30 e 50 anos. “A grande maioria, chega a beirar os 90% dos casos. E normalmente elas têm filhos.” Já o perfil dos agressores também possui algo em comum. “Geralmente são companheiros ou ex-companheiros.”

Feminicídios

Em 2022 foram dois feminicídios durante o ano inteiro, sendo um no primeiro semestre. “Esse ano não registramos nenhum. O último foi no dia 7 de dezembro.” Apesar da boa notícia, as tentativas aumentaram significativamente em 2023, saltando de apenas um para sete no mesmo período. “Muitas vezes existe a ameaça. Falam que vão matar, por isso é fundamental fazer a denúncia.”

Rede de acolhimento e ação integrada

A delegada destaca que todas as forças de segurança estão integradas no combate à violência contra a mulher. A Patrulha Maria da Penha, por exemplo, existe em Canoas desde a sua criação, em 2012. E desde o dia 7 de junho a integração está ainda maior, já que agressores passaram a utilizar tornozeleiras eletrônicas para monitoramento. “Isso mostra que a violência doméstica tem sim punição. Muitos ficam presos.”

A execução do projeto idealizado pela SSP é feito pela Polícia Civil e Brigada Militar. “Está sendo algo bem efetivo. A Deam instala e a BM faz o monitoramento.” Angélica detalha como funciona o sistema. “A vítima recebe um celular que tem apenas duas funções. Nele consta um GPS mostrando onde ela está, possibilitando o acompanhamento da BM.”

A vítima também pode monitorar onde o agressor está. “E se ele chegar dentro do perímetro estabelecido como limite pela Justiça, o celular emite um alerta para a pessoa com a medida protetiva e para a BM.” A primeira prisão por descumprimento aconteceu em Canoas, no dia 23 de junho.

Mudança de sede da Deam e equipe afinada

Atualmente operando junto à Secretaria de Segurança do município, a Deam vai se mudar em breve. A delegada adiantou que a sede será transferida para o mesmo prédio da 2ª Delegacia Regional, onde também ficam a Delegacia de Pronto Atendimento (DPPA) e a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). “Deve ser em setembro.”

Angélica também destacou a responsabilidade do cargo e a qualidade da equipe canoense. “É exemplar, o meu trabalho é importante, mas sem o meu trabalho a delegacia segue funcionando. Sem o das agentes, não”, finaliza.

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