Eunice Silva tinha apenas 9 anos quando a histórica cheia de 1941 atingiu o Rio Grande do Sul. Aos 92 anos, guarda a memória de salvar a irmã da inundação ao carregá-la em meio ao avanço das águas.
“Eu era muito pequena, mas lembro de estar com a minha irmã no colo”, conta. “Minha família trabalhava na extração de mel e não esqueço as caixas de abelha boiando e sendo levadas pela correnteza do rio.”
Abrigada há um mês devido ao rompimento do dique Mathias Velho, cuja consequência foi a inundação da pequena casa em que vivia no bairro Harmonia, Eunice diz que jamais esperava ter que passar novamente por uma enchente.
“Desta vez foi pior”, observa. “Porque naquela época eu era muito pequena e não tomava as decisões, mas hoje foi a minha casa e a minha vida que acabou debaixo d’água. Não tenho mais nada.”
Neta de Eunice, a professora de história Ana Paula Silva, 35 anos, também teve a casa inundada durante a cheia. Ela lembra que a água subiu rapidamente e não houve tempo hábil para que móveis e eletrodomésticos acabassem salvos.
“A vó saiu de casa quando a água invadiu o terreno e acabei ficando por causa dos gatos, mas horas depois, o aguaceiro já tinha alagado tudo”, recorda. “Precisei sair com as caixas dos gatos com água pela cintura”.
A gata Milu conseguiu ser resgatada para alegria de dona Eunice, contudo ela sente saudade da rotina saudável que tinha em casa.
“O médico me proibiu, mas eu adorava acordar de manhã cedinho para limpar o pátio”, revela. “Tenho saudade do meu cantinho e de estar em casa. A minha gata Milu está aqui, mas não é a mesma coisa. Queria voltar para casa.”
Ela lamenta ainda que o bisneto Enzo, com apenas 6 anos, esteja passando pela mesma tragédia que viveu na infância. “Ele me chama para ver televisão, mas dá dó, porque ele não deveria passar por isso.”
Teto caído
Tia Nice, como é conhecida, conta com o apoio de uma sobrinha, Fabiana Escalante, voluntária que vem atuando na cheia desde o início da tragédia que atingiu Canoas no início do mês passado.
A vendedora lembra que o recuo da água não significa o imediato retorno para casa. Isso porque o serviço de limpeza e higienização é necessário para milhares de pessoas atingidas pelas cheias.
Ela reuniu voluntários para auxiliar no trabalho de limpeza na casa da idosa, mas acabou descobrindo que a estrutura havia sido seriamente abalada e não há como Eunice retornar ao local.
A situação da pequena casa na Rua Santo Antônio dos Pobres é desalentadora. Com teto caindo e as antigas paredes se desmanchando, a residência não é mais habitável.
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“A gente vai ter que construir uma casinha nova para a tia Nice”, explica. “Isso vai levar tempo, mas a questão é que não tem como ela voltar para onde ela morava, porque esta casa já está condenada”.
Para ajudar
A solução encontrada por Fabiana para garantir ao menos “uma peça” em que tia Nice possa dormir é a criação de vaquinha virtual 4857539@vakinha.com.br que está sendo divulgada por meio das redes sociais.
O endereço Vaquinha para ajudar Tia Nice está sendo colocado à disposição para que as pessoas possam ajudar com qualquer valor. Quem preferir, pode contatar a Fabiana direto pelo WhatsApp (51) 98101-8737.
“Qualquer ajuda é muito bem-vinda para que a gente consiga reunir o dinheiro para construir um teto para a tia Nice”, afirma. “Fizemos um orçamento com um pedreiro e R$ 15 mil já são suficientes para erguer uma peça”.
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