CUIDADO
Crianças abrigadas no Colégio Espírito Santo desenham futuros
Psicóloga voluntária promoveu contação de história e desenho para crianças
Última atualização: 14/05/2024 10:44
Na quadra onde normalmente crianças e adolescentes praticam esportes no Colégio Espírito Santo, agora dezenas de famílias compartilham o mesmo teto. Cerca de 150 pessoas estão abrigadas na escola do bairro Nossa Senhora das Graças – e entre elas, muitas crianças.
Na última sexta-feira, uma ação reuniu as crianças e adolescentes abrigados para um momento de contação de história, desenho e música. A iniciativa veio da psicóloga Natália Feeburg, 31 anos. “Meu esposo trabalha aqui no Colégio. Vim como voluntária para contar uma história sobre as enchentes, explicar para as crianças de maneira simples e acessível o que está acontecendo”.
A história ilustrada narra como a enchente modificou o cotidiano das crianças e aborda os diferentes sentimentos que podem surgir com a calamidade. Depois da história, as crianças foram convidadas a imaginar o futuro e desenhar o que elas desejam fazer quando a vida voltar à rotina. Muitas delas desenharam suas casas.
Ao conversar com as crianças sobre a situação, a psicóloga alerta que é importante deixá-las falar livremente e não fazer perguntas específicas. “É importante acolher o sentimento que elas trazem e cuidar para não ser invasivo. Tudo bem se elas não quiserem falar”, explica Natália.
“Achei tri”, comenta Melyssa Dias Santana, 9, sobre a atividade. A menina está alojada no Colégio com sua família. Os desenhos das crianças foram reunidos em um mural na quadra. “Gostei desse porque tem bastante detalhe”, aponta Melyssa.
No abrigo e antes dele, Melyssa conta que gosta de jogar futebol – e diz ser boa de bola. Olhando para o mural, aponta para para a ilustração de uma casa alagada na história apresentada pela psicóloga. “A casa da minha tia ficou assim”, conta.
Natália destaca que o trabalho desenvolvido agora é emergencial: em muitos casos, um trabalho de psicoterapia será necessário posteriormente. No Colégio Espírito Santo, segundo a diretora irmã Maria Sônia Muller, há previsão de trabalhar o tema da enchente com os alunos.
Outros professores e trabalhadores da escola também se empenham em criar uma rotina para as crianças acolhidas. Desde quinta-feira (9), a professora de música Fernanda Anders, 41, organiza um momento de música, em que as crianças podem sugerir canções para cantar e dançar. “A ideia é ter um momento musical que tira um pouco o foco do problema e traz uma mensagem de esperança”.
Parceria com a Igreja
Desde a última quinta-feira (2), a comunidade da Paróquia Nossa Senhora das Graças, vizinha ao Colégio Espírito Santo, se mobilizou para reunir doações, preparar alimentos e abrigar pessoas. Segundo o padre César Leandro Padilha, 61, a Igreja distribuiu 7 mil marmitas em um dia. As refeições se destinam tanto aos alojados no Colégio quanto ao público externo que recorre à paróquia. No local, também é realizada a entrega de cestas básicas, roupas e água. “A paróquia é uma comunidade muito ativa, acostumada à organização de grandes eventos e ações, mas nada comparado a isso”, conta Daniely Petry, 52, psicóloga voluntária na igreja há 30 anos.
A entrega de marmitas segue neste final de semana, mas as doações voltam a estar disponíveis a partir de segunda-feira (13).
Ações voltadas à infância se espalham por Canoas
Outro coletivo promove ações de infância em diferentes abrigos de Canoas. Caroline Alves, 23, teve a ideia de focar nas crianças porque está gestante e viu crianças na Ulbra. Conseguiu reunir 20 pessoas. As atividades incluem bichinhos de balão, pintura de rostos e doação de brinquedos. “Muitas crianças precisam de alegria nesse momento de desespero”. O grupo atendeu todos os pavilhões da Ulbra e agora vai visitar outros abrigos da cidade.