CANOAS

"Nossa história lá acabou", diz costureira que viu o trabalho de uma vida ser transformando em cinzas durante incêndio

Aos 63 anos, Ana Costa recomeça após o fogo destruir, duas vezes, o ateliê que mantinha na Avenida Victor Barreto

Publicado em: 21/02/2024 14:44
Última atualização: 21/02/2024 16:21

No meio da madrugada do dia 16 de janeiro, o fogo queimou o trabalho de uma vida da costureira Ana Costa. O ateliê que ela mantinha na Avenida Victor Barreto, em Canoas, começou a pegar fogo, e restou a ela os familiares que estavam no local somente sair depressa para salvar a própria vida.

A costureira Ana Maciel trabalha hoje em máquinas que conseguiu graças a doações em Canoas Foto: PAULO PIRES/GES

Um mês após o acidente, na madrugada do último domingo (18), o local voltou a arder, destruindo ferramentas e o pouco que ainda restava no espaço. Foi o ponto final da longa relação que a costureira mantinha com o endereço que também lhe serviu de casa por mais de uma década.

Ana hoje atende em um novo espaço, localizado na mesma avenida, no número 920. Desde o incêndio, graças a doações, reergue o negócio cuja tradição já se mantém por mais de três décadas em Canoas. A costureira explica que graças à agulha e à linha, garantiu o sustento dos filhos e não lhe falta energia para trabalhar.

“A gente não conseguiu nem calçar os chinelos para sair de casa”, lembra. “Perdemos tudo e agora estamos recomeçando, avisando os clientes do novo endereço e recebendo pedidos. Vai levar um tempo até estar tudo funcionando como a gente quer, mas vamos conseguir”, afirma.

A trabalhadora se ressente com os comentários que soube pela internet após o segundo incêndio. Ela lamenta que pessoas, sem qualquer conhecimento do que aconteceu, estejam dizendo que o sobrado foi incendiado uma segunda vez para que eles pudessem cobrar a apólice do seguro do lugar.

“Trabalhei costurando durante mais de 20 anos em Canoas, ao lado do Carrefour, e nunca atrasei o aluguel um dia”, garante. “E a mesma coisa aconteceu durante os mais de dez anos que a gente ficou no sobrado. Ele era alugado. Não temos interesse em receber seguro. Nossa história lá acabou.”

A família acredita que o segundo incêndio tenha sido criminoso, visto que ainda restavam alguns objetos no espaço onde ficava o ateliê. Segundo Márcia Costa, 40, filha da costureira, vizinhos teriam visto homens colocando fogo no local antes das chamas se alastrarem no domingo.

Faísca em poste de madeira

A causa provável do primeiro incêndio que destruiu o sobrado pode ser a faísca de um poste de madeira que ficava ao lado de uma janela da antiga construção, segundo Darci Almeida, marido da costureira. O aposentado de 93 anos disse ter observado as faíscas dias antes.

“Eu cheguei a comentar em casa sobre as faíscas que saíam do poste”, lembra Almeida. “Só que a gente não imaginava que uma coisa assim pudesse acontecer”, lamenta.

Darci relata que em meio a correria para escapar do fogo, o filho precisou pular pela janela do segundo andar, já que ao despertar, teria visto as chamas já invadindo o quarto em que dormia.

“Ele se machucou muito, mas conseguiu sair a tempo”, conta. “Porque não deu tempo de a gente nem tentar fazer alguma coisa. A gente só ouviu os vizinhos gritando e saiu correndo. Foi assustador.”

Sem registro

Embora o sobrado esteja localizado há poucos metros da 1ª Delegacia de Polícia (DP) de Canoas, o caso do incêndio no ateliê de Ana Costa não está sendo apurado pela Polícia Civil. A própria família não quer mais saber do assunto.

“A Brigada Militar foi até lá na noite do incêndio, mas não registrou nada”, relata Márcia. "Essa história, para nós, já terminou."

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