No meio da madrugada do dia 16 de janeiro, o fogo queimou o trabalho de uma vida da costureira Ana Costa. O ateliê que ela mantinha na Avenida Victor Barreto, em Canoas, começou a pegar fogo, e restou a ela os familiares que estavam no local somente sair depressa para salvar a própria vida.
Um mês após o acidente, na madrugada do último domingo (18), o local voltou a arder, destruindo ferramentas e o pouco que ainda restava no espaço. Foi o ponto final da longa relação que a costureira mantinha com o endereço que também lhe serviu de casa por mais de uma década.
Ana hoje atende em um novo espaço, localizado na mesma avenida, no número 920. Desde o incêndio, graças a doações, reergue o negócio cuja tradição já se mantém por mais de três décadas em Canoas. A costureira explica que graças à agulha e à linha, garantiu o sustento dos filhos e não lhe falta energia para trabalhar.
“A gente não conseguiu nem calçar os chinelos para sair de casa”, lembra. “Perdemos tudo e agora estamos recomeçando, avisando os clientes do novo endereço e recebendo pedidos. Vai levar um tempo até estar tudo funcionando como a gente quer, mas vamos conseguir”, afirma.
A trabalhadora se ressente com os comentários que soube pela internet após o segundo incêndio. Ela lamenta que pessoas, sem qualquer conhecimento do que aconteceu, estejam dizendo que o sobrado foi incendiado uma segunda vez para que eles pudessem cobrar a apólice do seguro do lugar.
“Trabalhei costurando durante mais de 20 anos em Canoas, ao lado do Carrefour, e nunca atrasei o aluguel um dia”, garante. “E a mesma coisa aconteceu durante os mais de dez anos que a gente ficou no sobrado. Ele era alugado. Não temos interesse em receber seguro. Nossa história lá acabou.”
A família acredita que o segundo incêndio tenha sido criminoso, visto que ainda restavam alguns objetos no espaço onde ficava o ateliê. Segundo Márcia Costa, 40, filha da costureira, vizinhos teriam visto homens colocando fogo no local antes das chamas se alastrarem no domingo.
Faísca em poste de madeira
A causa provável do primeiro incêndio que destruiu o sobrado pode ser a faísca de um poste de madeira que ficava ao lado de uma janela da antiga construção, segundo Darci Almeida, marido da costureira. O aposentado de 93 anos disse ter observado as faíscas dias antes.
“Eu cheguei a comentar em casa sobre as faíscas que saíam do poste”, lembra Almeida. “Só que a gente não imaginava que uma coisa assim pudesse acontecer”, lamenta.
Darci relata que em meio a correria para escapar do fogo, o filho precisou pular pela janela do segundo andar, já que ao despertar, teria visto as chamas já invadindo o quarto em que dormia.
“Ele se machucou muito, mas conseguiu sair a tempo”, conta. “Porque não deu tempo de a gente nem tentar fazer alguma coisa. A gente só ouviu os vizinhos gritando e saiu correndo. Foi assustador.”
Sem registro
Embora o sobrado esteja localizado há poucos metros da 1ª Delegacia de Polícia (DP) de Canoas, o caso do incêndio no ateliê de Ana Costa não está sendo apurado pela Polícia Civil. A própria família não quer mais saber do assunto.
“A Brigada Militar foi até lá na noite do incêndio, mas não registrou nada”, relata Márcia. “Essa história, para nós, já terminou.”
LEIA TAMBÉM
- Categorias
- Tags