Com movimentos automáticos e arrastando a perna esquerda com dificuldade, Madalena Medeiros deu dois passos para frente. Seria necessários, no mínimo, outra centena, ela calculou, para conseguir entrar no ônibus.
“Trabalho na Farrapos e chego todo o dia atrasada”, relata a trabalhadora de 53 anos. “Já saí de Sapucaia mais cedo, mas não adianta. Trabalho em uma fábrica e já chego no serviço cansada. Fico, no mínimo, meia hora esperando entrar no ônibus”, suspira desanimada.
Continua o drama dos trabalhadores que necessitam se deslocar de Canoas até Porto Alegre. O movimento na Estação Mathias Velho é de centenas de trabalhadores diariamente em filas à espera de ônibus.
Diante das broncas, a empresa Transcal prometeu reforçar o atendimento à população e cumpriu. O número de ônibus é maior, no entanto continuam perecendo insuficiente para a demanda exigida.
“Eles colocaram outros ônibus, mas precisa de mais”, afirma Nataniel Silveira. “O absurdo maior é que continuam com os ônibus lotados, todos os dias, e não fazem nada para melhorar a situação”, diz o vendedor de 29 anos.
A auxiliar de enfermagem Carina Gonçaves, 31 anos, se indigna ao apontar que existem “pessoas de idade” que circulam de pé, espremidos entre uma porção de pessoas, porque não há acentos prioritários disponíveis.
“Quem quer ir de pé, pode pegar o ônibus mais rápido, mas é muito sofrido, porque um monte de gente acaba pegando”, conta. “Eu desço no Mercado Público e observo pessoas que sentam no banco prioritário e deixam os velhinhos em pé”.
Clima tenso
O clima para quem circula pela Estação Mathias Velho é tenso. Há muitos fiscais da empresa Transcal orientando as entradas nos ônibus, no entanto, não raro, alguém tenta furar a fila para entrar antes.
“Já deu discussão e briga de manhã cedo, porque está todo mundo com os nervos à flor da pele”, explica a auxiliar de serviços gerais Amanda Nunes. “Às vezes tem um ou outro querendo furar e dá confusão”.
A trabalhadora de 54 anos diz que o problema no local é matemática pura. Eram milhares pegando o trem para pegar chegar no serviço em Porto Alegre. E no ônibus cabem pouco mais de 40 por viagem.
“Enquanto não voltar o trem, isso vai continuar”, reclama. “Falaram que só em setembro, volta até a Estação Farrapos. Já é alguma coisa, porque do jeito que está, não dá para continuar”.
Operação Trilhos Humanitários
Com a empresa Trensurb operando somente entre as estações Novo Hamburgo e Mathias Velho, houve a necessidade de se criar um transbordo para os passageiros de trem que saem do Vale dos Sinos com direção a Porto Alegre.
A batizada Operação Trilhos Humanitários começou no dia 15 de julho, com os passageiros descendo na Estação Mathias para pegar o ônibus em direção à capital. Somados a eles, existe a demanda dos próprios bairros de Canoas.
O contrato entre a Trensurb e a Transcal prevê viagens com destino único até o Mercado Público de Porto Alegre, sem o pagamento da passagem, serviço responsável pelas maiores filas devido à demanda do trem.
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Existe também, como alternativa para os trabalhdores que precisam descer antes, uma linha Mathias Velho/São Sepé, sendo o necessário pagar R$ 6,85 para utilizar o ônibus em direção à capital.
Menos tempo, aponta Metroplan
Por meio da assessoria de comunicação, a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) informa que está atento ao problema e inclusive defendeu a diminuição de tempo entre a chegada de um ônibus e outro no terminal da Estação Mathias Velho. Se antes eles chegavam de 15 em 15 minutos em horários de pico, o tempo estimado agora é de 7 minutos em 7 minutos.
Transcal avalia
Por meio de nota, a empresa Trenscal informa que segue avaliando constantemente a sua oferta de horários, oferecendo serviços dentro da capacidade de lotação dos veículos e de acordo com a orientação da Metroplan. A Transcal lembra que, recentemente, o próprio órgão gestor atualizou a tabela de horários de ônibus metropolitanos, afirmando que não haverá retomada completa de todas as linhas e horários devido à redução de 70% do número de passageiros transportados na Região Metropolitana após as enchentes.
Trensurb
A reportagem entrou em contato com a Trensurb, no entanto, até o fechamento desta matéria, não houve retorno da empresa.