CATÁSTROFE NO RS

CATÁSTROFE NO RS: "Vai ser a casa das pessoas por um tempo", Ulbra acolhe 6 mil pessoas

Universidade teve que se organizar para fazer o acolhimento emergencial

Publicado em: 10/05/2024 18:11
Última atualização: 10/05/2024 18:11

Desde que passou a receber os desabrigados da maior enchente da história, o campus da Universidade Luterana do Brasil em Canoas se transformou em uma cidade. “Estávamos preparados para receber 300 ou 400 pessoas. Em 48 horas, eram 6 mil”, conta o reitor Thomas Heimann, que desde a última sexta-feira (3) é responsável pela coordenação do alojamento.

Ulbra, no bairro São José, estima que deva permanecer com abrigo por no mínimo mais 45 dias Foto: Paulo Pires/GES

No domingo (5), a reitoria realizou uma reunião com a Polícia Civil devido às preocupações com a segurança. Uma prisão foi realizada no abrigo por importunação sexual. “Aqui é uma cidade dentro da cidade. É o mundo real, mas estamos num clima de paz”, garante.

A universidade deve seguir como abrigo por, no mínimo, 45 dias. Segundo a prefeitura, levará até 60 dias para que a água escoe. “[Aqui] vai ser a casa dessas pessoas por muito tempo”, diz Heimann. Não há prazo para o retorno das aulas presenciais, mas a instituição articula, junto à prefeitura, a realocação gradativa dos abrigados em locais mais adequados para moradia.

Maria Dolair, 59 anos, é uma das pessoas que tenta converter um ginásio da Ulbra em algo parecido com uma casa. “O que nós temos é o que está aqui: meu filho, neta, nossos animais”, conta. A família compartilha um pequeno espaço em uma quadra que servia para a prática de esportes. Jhenifer Maier, 27, terapeuta e enteada de Maria, diz que “a ficha de ter que deixar a casa por causa da inundação, no bairro Mathias Velho, ainda não caiu”.

Segundo Maria, com o desabastecimento da cidade, era necessário racionar água mesmo ali. A família conseguiu colchões, mas faltam cobertores, necessários com a queda na temperatura. “Aqui é tudo aos poucos, porque é muita gente.”

Maria e Jhenifer também salvaram os passarinhos da família Foto: Paulo Pires/GES

Organização gradativa

Rafael Fehlberg, 42, engenheiro que se voluntaria diariamente na Ulbra, explica que a organização foi gradual. “É uma operação de crise. Nós recebemos muitos alimentos como leite, água, cesta básica e agora estamos vendo as demandas menores, como bola de exercício para fisioterapia, alimentação líquida para pacientes sondados”, explica. 

Diariamente, quatro refeições são oferecidas. A brinquedoteca ocorre todos os dias, às 16 horas. Na quarta-feira (8), animadores de festa ofereceram balões e pintaram o rosto das crianças. Também há um “momento de fé” às 20 horas, com música e orações na Capela Universitária. 

Vinte salas foram separadas para acolher especificamente famílias com pessoas no espectro autista ou com transtornos mentais. Foram montados centros para fisioterapia e atendimento psicológico. “Aqui, estamos focados em traumato-ortopedia, mas estão chegando muitos pacientes respiratórios, principalmente crianças que ficaram muito tempo na água”, conta Éder Marcolin, 43, voluntário e fisioterapeuta. Ele diz que faltam materiais de higiene para a unidade de saúde.

A psicóloga Juliane Pereira, 34, confirma que a estrutura foi se organizando aos poucos. “Inicialmente não havia muita comunicação entre os profissionais, agora estamos espalhados pelo campus para dar conta do que acontece”, comenta.

Sem previsão de retorno para dentro de casa

“Parece que infelizmente vamos ter de ficar aqui mais uns 30 dias. Não temos notícia de casa, não sabemos como vai ser e quando vamos poder voltar”, desabafa Maria. “É complicado estar aqui. Não temos para onde ir”, completa. Jhenifer diz que, além da reconstrução material, muita ajuda psicológica vai ser necessária.

Enquanto a Ulbra serve de abrigo emergencial, os moradores anseiam pelo retorno ao lar. “A gente tá só esperando para ir embora. Com o sonho de ir embora e com o pesadelo do que vai encontrar”, diz Maria.

Reitoria estima que 500 já deixaram local

A reitoria estima que 500 pessoas já tenham deixado o abrigo e ido para a casa de amigos e familiares. Por enquanto, a Ulbra segue funcionando como moradia por tempo indefinido. Doações para manter a operação são recebidas ininterruptamente no prédio 16 da Ulbratech. As necessidades mais urgentes estão sendo divulgadas nas redes sociais. Para quem deseja ajudar, a sugestão é acompanhar através do @ulbracanoasoficial.

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