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CATÁSTROFE NO RS: "Se não for amigo do barqueiro, fica a Deus-dará", diz morador de Canoas

Resgate considerado seletivo é criticado por moradores dos bairros Rio Branco e Fátima. "Estamos abandonados", diz trabalhador

Publicado em: 09/05/2024 às 14h:56 Última atualização: 09/05/2024 às 14h:57
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Desde a última quinta-feira (2) quando a catástrofe que atingiu o Estado tirou milhares de canoenses de casa, a Estação Fátima se tornou ponto de referência para resgates de quem mora não apenas no Fátima, mas também no Rio Branco.

Um berço apareceu boiando na Rua Rui Barbosa na manhã desta quinta-feira (9)



Um berço apareceu boiando na Rua Rui Barbosa na manhã desta quinta-feira (9)

Foto: LEANDRO DOMINGOS/GES-ESPECIAL

Os dias foram passando, no entanto, e a movimentação de voluntários diminuindo. Embora equipes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e militares sigam mobilizados para tirar pessoas que tiveram de sair de casa e permanecem ilhadas, o contingente não é suficiente.

Conforme relatos à reportagem do DC, há muitos “turistas” percorrendo a inundação causada, sem nenhuma preocupação com resgate ou salvamento. Alguns, inclusive, deixando bastante claro a exigência de uma câmera de TV para atuar em resgates.

Morador do bairro Fátima, Paulo Doralindo Ortiz, 64 anos, precisava tirar de casa a irmã que permanecia ilhada desde o último domingo (5), contudo implorar a barqueiros não foi o suficiente e ele acabou conseguindo ajuda somente de um vizinho que montou uma espécie de balsa.

“Olha que implorei, mas teve um rapaz que me disse para procurar alguém da imprensa para acompanhar”, desabafa. “Como não achei ninguém, fiquei por ali. Entendi que se não for amigo do barqueiro, a gente fica a Deus-dará”.

Conforme aponta o aposentado, há centenas de tonéis sendo usados pelos moradores. Até mesmo como balsa improvisada, o que tem ajudado muitos na locomoção entre áreas onde a inundação é maior e torna a travessia mais arriscada.

“Entraram em uma indústria química e pegaram todos os tonéis que existiam”, conta. “Alguns são usados pelos moradores, que têm se ajudado construindo balsas para resgate”, explica.

Também morador do bairro Fátima, o professor Tiago Martini Wedman perdeu tudo o que havia em casa, mas conseguiu escapar com a mulher e os dois filhos. Ele também reclama de abandono.

“Pedi ajuda para um e para outro, mas não adiantou”, lamenta. “Tive que me virar do jeito que deu e hoje ando para cima e para baixo com água na altura do peito para tentar pegar alguma coisa em casa”.

Bombeiro oriundo do interior do Estado e atuando nos resgates nos bairros Rio Branco e Fátima, Carlos Menezes observa que os resgates são avaliados conforme a urgência da vítima.

“A gente vai atrás de todos os relatos que chegam”, avisa. “A gente tem dificuldade é para convencer algumas pessoas a saírem de casa devido ao medo de serem roubadas”, acrescenta.

De volta à gestão da Defesa Civil de Canoas, Igor Sousa aponta que os integrantes do órgão permanecem incansáveis agindo em áreas de risco.

“Há casas no Rio Branco em que há somente o telhado de fora e estamos concentrando resgates e buscas nestas áreas onde o risco é maior”, afirma.

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