Em meio a tragédia que atingiu Canoas e o cenário desolador formado pelas águas que sobem sem piedade sobre a cidade, a força do voluntariado surge como uma gota de esperança para quem mais precisa.
No bairro Mathias Velho, o Policial Militar (PM) Adriano Zilli e o mecânico Márcio da Silva Ferreira formaram uma parceria que tem sido responsável por centenas de resgates desde o início da tragédia.
Ambos são moradores da Rua Santa Catarina e observaram, sem nada poder fazer, as casas em que viviam serem arrasadas pela água. Restou, contudo, a vontade de ajudar o próximo.
“O Zilli é pescador e tinha um barco em casa”, conta Márcio. Fui o primeiro que ele resgatou e achei que deveria retribuir ajudando a auxiliar outras pessoas a saírem de casa”, explica.
Lotado no 9º Batalhão da Polícia Militar (BPM) da Capital, Adriano esclarece que o trabalho de resgate que vem executando no bairro foi considerado importante pela corporação, de modo que se mantém desde a semana passada na água.
“Primeiro eu consegui tirar de casa a minha família e desde então a gente tenta auxiliar todo mundo que pede”, avisa o PM. “São muitos pedidos e não dá para atender a todo mundo devido ao risco, mas a gente se esforça”.
A dupla se concentra sempre no ponto montado pela Defesa Civil na Rua Mathias Velho, em frente ao supermercado Carrefour, no Centro de Canoas e, a partir deste ponto, parte em missões Mathias Velho adentro.
“Água sobe sem parar e a gente está tentando convencer pessoas que estão ilhadas no 3º piso sair de casa”, esclarece Márcio. “Tem muita gente no Mathias que não quer sair pelo medo de não conseguir voltar”.
O resgate e auxílio a animais, frisa Adriano, acaba também sendo uma demanda bastante grande, já que todo mundo tem um pet, mas nem todos conseguiram sair de casa levando o cão e o gato.
“Já colocamos uma dúzia de animais para cima do barco e teve até Rottweiler que conseguimos tirar da água”, aponta. “Só os gatos que são mais difíceis, porque eles não gostam de água e são muito rápidos para pegar”.
Armadilhas
A rotina do PM e do mecânico é tensa e a jornada é esclarecida a casa pessoas que precisa de ajuda. Isso porque o bairro Mathias Velho se transformou em um imenso rio que esconde, sob a superfície, todo o tipo de armadilha.
“Há carros, caminhões e até barcos virados que podem ser uma ameaça para quem atravessa, além de troncos e galhos que podem prejudicar a hélice”, explica Adriano. “A gente vai ‘na manha’ mesmo conhecendo cada ponto de risco”.
Embora faça um elogio ao voluntariado no bairro, Márcio alerta ter observado barqueiros que saíram para resgatar ter que serem resgatados porque o barco furou ou quebrou no meio do trajeto.
“O rio subiu demais e o nível da água não para de crescer”, frisa. “Então não adianta o sujeito achar que conhece, porque um caminhão que hoje a gente vê a carroceria, no dia seguinte não se vê nada”.
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