O nome da via é simbólico. Chama-se Avenida Rio Grande do Sul. Conforme o barco avança pela água, com a expressão compassiva, o mecânico Márcio da Silva Ferreira aponta endereços onde viviam parentes e amigos; vizinhos e conhecidos.
“Não sobrou quase nada do Mathias Velho”, desabafa. “Há uma história inteira debaixo d’água e vai levar muito tempo até que a gente possa reconstruir o bairro como conhecia”.
Desde o início da catástrofe que atingiu o Estado, o mais populoso bairro de Canoas se transformou em epicentro da tragédia, com todos os mais de 52 mil moradores diretamente afetados pela inundação.
Na manhã desta terça-feira (14), a reportagem do DC circulou pelas ruas do bairro a convite de moradores. A ideia era mostrar a dimensão do drama encarado por quem vivia no Mathias.
Como visto, o rompimento do dique nos fundos do bairro levou não somente ao avanço das águas, mas também a uma correnteza que arrancou do chão qualquer casa cuja estrutura não fosse suficientemente forte.
“Existem as pessoas que precisaram sair de casa e há uma parcela que simplesmente não tem mais para onde voltar, já que não sobrou nada da casa”, ressalta Márcio. “A água levou tudo embora”.
Moradora do bairro Mathias Velho há três décadas, Ivone Gonçalves, 44 anos, conseguiu sair de casa no momento em que a residência onde morava começou a alagar. Acabou observando à distância a correnteza arrastar a pequena casa.
“É um sentimento de tristeza muito grande”, observa, desolada. “Peguei meu guri e minha guria e fugi já imaginando que não conseguiria voltar. Sei que tem muita gente querendo voltar para casa, mas eu nem tenho mais uma casa. Tirando as crianças, tudo o que eu tinha foi levado pela correnteza”.
Hospital
Ponto central no desenvolvimento do bairro Mathias Velho, o Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC) permanece com toda a sua estrutura orçada me milhões mergulhada em água suja.
Quem passa pelo local, pode observar os tetos das ambulâncias no pátio, equipamentos boiando e insumos encharcados. Tudo devido à fuga desesperada que ocorreu há dez dias para tirar os pacientes do local após a invasão da água.
“É muito triste o que aconteceu neste hospital”, lamenta o também morador do Mathias Henrique Lima. “Pensar em quantas vidas já foram salvas aqui e agora ver tudo debaixo d’água é dolorido”.
Segurança
Conforme os moradores, o bairro permanece necessitando de rondas constantes devido à insegurança. Os saqueadores atacam principalmente à noite, quando a vigilância é menor na imensa área comercial.
“Ajudei com o barco um rapaz a tirar os móveis de casa, mas acabou ficando para trás uma televisão de 70 polegadas”, apontou o barqueiro Márcio Santos. “Só que quando voltamos, já tinha sumido tudo de casa”.
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